São Paulo, quinta-feira, 22 de novembro de 2007

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comentário

A expectativa, o risco e a realidade

CRÍTICO DA FOLHA

A cada vez que se anuncia a visita ao Brasil de grandes chefs internacionais (como as que teremos nos próximos dias, Anne-Sophie Pic e Bruno Oger), a expectativa é sempre grande. Embora nem sempre correspondida na realidade. Já me aconteceu de comer um cordeiro completamente duro, inacreditável, das mãos de um três estrelas de Paris (e por cujo jantar paguei bem caro). Já em outra ocasião, um chef norte-americano fez um jantar perto do impecável. Mas os organizadores mal conseguiam engolir o que comiam, tamanho o estresse: na véspera de embarcar, o chef avisou que traria oito ajudantes ou então não viria. Trouxe, a comida foi ótima, e o prejuízo, certo e líquido.
Este último episódio explica um pouco o risco dos festivais estrangeiros. Um grande chef, em geral obsessivo e perfeccionista, habituado à equipe que ele afinou a ferro e fogo (mesmo) e a ingredientes impecáveis que chovem dos melhores fornecedores direto à sua porta -das trufas colhidas hoje a rãs e crustáceos alegremente vivos- dificilmente poderá repetir aqui, com outra equipe e outros produtos, o mesmo que faz em casa.
Alguns improvisam bem. Conseguem fazer cardápios que se adaptam à relativa precariedade local, trazem ingredientes no bolso, enfim, se viram. O que, às vezes, é facilitado pelo tipo de cozinha que cada um pratica. Mas nem sempre dá. O risco sempre existe. O chato é que só sabemos do tamanho dele no final da refeição.
(JOSIMAR MELO)


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