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Ney fará "Bandido" no cinema
Cantor vai protagonizar "Luz nas Trevas - Revolta de Luz Vermelha", seqüência do clássico de Sganzerla
Para Helena Ignez, diretora do filme, Ney Matogrosso é "revolucionário" como um bandido, que "escandalizou e trouxe admiradores com ele"
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
O cantor Ney Matogrosso assumirá o papel do Bandido da
Luz Vermelha no longa que dará seqüência ao título lançado
em 1968 pelo cineasta Rogério
Sganzerla e que se tornou um
clássico do cinema brasileiro.
"Gosto de desafios. Acho a vida interessante com desafios.
Nesse, tem o que me assusta e o
que me atrai, que é fazer a continuação disso, principalmente
por ser um roteiro de Sganzerla", disse Ney à Folha, após
acompanhar, no 41º Festival de
Brasília, a exibição do curta
"Depois de Tudo", de Rafael
Saar, em que atua.
Sganzerla (1946-2004) dedicou-se ao roteiro de "Luz nas
Trevas - Revolta de Luz Vermelha" até os dias imediatamente anteriores à sua morte,
quando estava internado no
Hospital do Câncer, em SP.
Concluído o trabalho, entregou-o à sua mulher, a atriz e diretora Helena Ignez ("Canção
de Baal"). "Agora é teu", disse.
Aos ouvidos de Helena, a dedicatória soou "como uma missão". Desde então, ela e as filhas do casal, Djin e Sinai Sganzerla, empenham-se em produzir o longa, que Helena dirigirá.
Neste mês, elas conseguiram
reunir o R$ 1,6 milhão do orçamento de filmagens, que estão
previstas para ocorrer em fevereiro e março de 2009.
"Filme apocalíptico"
Ney avalia que Sganzerla escreveu "um filme apocalíptico",
que "fala com muita clareza de
todos os véus que caíram -sobre autoridade, governo, estrutura humana, social. Ele desmascara tudo".
Na trama, passados 30 anos
desde que o Bandido apavorava
a burguesia paulistana, invadindo suas casas, seduzindo
suas mulheres e discursando
sobre as tensões sociais, ele está preso e descobre ter um filho
chamado Tudo ou Nada, papel
que será de André Guerreiro.
Djin Sganzerla interpretará
Jane (nome da personagem de
Helena Ignez em "O Bandido
da Luz Vermelha"), a principal
namorada de Tudo ou Nada. O
músico Arrigo Barnabé também foi convidado ao elenco,
para o papel de um delegado.
Depois de aceitar ser Luz
Vermelha, Ney reviu duas vezes "O Bandido da Luz Vermelha" (em DVD), para ver a atuação de Paulo Villaça (1946-1992) no papel-título. "No palco, sou também ator, mas um
ator de mim mesmo", afirma.
Para viver outros personagens,
ele diz que se dispõe à direção
dos cineastas. "Eu me coloco
em branco, para que me digam
tudo o que pretendem."
Quando, conversando sobre
o papel de Luz Vermelha, ouviu
de Helena Ignez um sintético
"Quero você", Ney estremeceu.
"Isso me deixou perturbado,
porque não sei exatamente que
"eu" ela quer."
A diretora explica: "Quero o
Ney completo. Nesse personagem, ele deve usar a persona
que usa exclusivamente nos
shows, porque Luz Vermelha
na prisão é um personagem
completamente mítico".
Helena diz que chegou a cogitar um convite a Daniel Filho.
Mas, ao ver as entrevistas que
Ney deu ao cineasta Joel Pizzini para o documentário em preparação "Olho Nu", deparou-se
com "esse revolucionário Ney,
um cara que escandalizou e
trouxe admiradores com ele há
mais de 30 anos, como um bandido". Na prisão, ele irá "cantarolar e assobiar os mesmos lindíssimos boleros que Paulo Villaça cantava no filme original",
diz a diretora.
Amanhã, o Festival de Brasília sedia o lançamento da edição do roteiro de "O Bandido da
Luz Vermelha" (Coleção
Aplauso; Imprensa Oficial de
SP), que marcou a estréia em
longas de Sganzerla, aos 22
anos de idade.
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