São Paulo, sábado, 22 de novembro de 2008

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"Filmefobia" motiva debate em Brasília

Estréia na ficção do documentarista Kiko Goifman ("Atos dos Homens') foi o 2º longa exibido no festival

DA ENVIADA A BRASÍLIA

Segundo longa exibido na disputa do 41º Festival de Brasília, anteontem, "Filmefobia", de Kiko Goifman, deverá passar pela mostra sem ser o mais aplaudido ou o mais vaiado -a reação da platéia ficou comedidamente entre as duas.
Mas dificilmente esta primeira ficção do documentarista Goifman ("33", "Atos dos Homens") deixará de ser o título mais discutido desta edição.
O debate sobre "Filmefobia", realizado ontem à tarde, atraiu uma numerosa platéia, recheada de cineastas, como Murilo Salles e Carlos Reichenbach (do júri da competição) e Sergio Roizenblit (competidor, com o documentário "O Milagre de Santa Luzia") e durou duas horas -o dobro do tempo regular na programação do festival.
Trama sobre o documentarista Jean-Claude (interpretado pelo crítico e roteirista de cinema Jean-Claude Bernardet), que persegue "a única imagem verdadeira -a de um fóbico diante da sua fobia-", o filme foi realizado com "atores, atores fóbicos e fóbicos de verdade", segundo Goifman, que também atua no filme, como autor do "making of" do documentário de Jean-Claude e fóbico de sangue.

Ficção/documentário
A inter-relação entre os gêneros ficcional e documental que o filme incorpora dominou a discussão. O tema já havia se insinuado na exibição oficial, na noite de quinta.
Ao apresentar seu longa, Goifman disse: "O filme está sendo chamado de documentário por aí, e nós estamos achando bom. Mas, se fosse um documentário, na saída Jean-Claude e eu seríamos presos".
A possibilidade de que o documentário de Jean-Claude seja sádico é um dos pontos tratados no roteiro do filme.
Na opinião do roteirista Hilton Lacerda, "Filmefobia" é uma metáfora sobre o cinema; o cinema que não pode mais se conter nos gêneros de ficção e documentário".
Já Goifman diz preferir "imaginar que o filme esteja em algum lugar dessas fronteiras". Para ele, "o que existe de mais documental" em seu filme "é dar espaço ao acaso".
Bernardet, por sua vez, propôs "um esforço no sentido de abolir as palavras ficção e documentário" do vocabulário cinematográfico. Ele diz que ""Filmefobia" não é nem documentário nem ficção e não tem nada a ver com isso, mas sim com a perda da subjetividade e a necessidade que temos de nos gerar como espetáculo".
Goifman contou que, no início do projeto, ele e Lacerda procuraram Bernardet "com um argumento do que seria uma ficção clássica sobre fobias". A avaliação do crítico foi a seguinte: "Essa idéia, tal qual está, é uma merda".
À medida que o roteiro foi sendo refeito e abandonando os aspectos "clássicos", como diálogos preestabelecidos, Bernardet aderiu ao projeto e aceitou o papel principal.
Na opinião de Bernardet, "Filmefobia" participa de um esforço de descobrir novas formas de narrativa dentro da sociedade", em que "a metalinguagem é um vestígio, uma coisa ainda a ser superada", e onde "o "Big Brother" é um fato estético da maior importância".
Nesse sentido, e por abordar "a espetacularização da pessoa", Bernardet associa "Filmefobia" ao "Big Brother" e também a "obras sofisticadíssimas como [os documentários] "Santiago" [de João Moreira Salles] e "Jogo de Cena" [de Eduardo Coutinho]". "Somos absolutamente contemporâneos", diz.


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