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"Filmefobia" motiva debate em Brasília
Estréia na ficção do documentarista Kiko Goifman ("Atos dos Homens') foi o 2º longa exibido no festival
DA ENVIADA A BRASÍLIA
Segundo longa exibido na
disputa do 41º Festival de Brasília, anteontem, "Filmefobia",
de Kiko Goifman, deverá passar pela mostra sem ser o mais
aplaudido ou o mais vaiado -a
reação da platéia ficou comedidamente entre as duas.
Mas dificilmente esta primeira ficção do documentarista Goifman ("33", "Atos dos
Homens") deixará de ser o título mais discutido desta edição.
O debate sobre "Filmefobia",
realizado ontem à tarde, atraiu
uma numerosa platéia, recheada de cineastas, como Murilo
Salles e Carlos Reichenbach
(do júri da competição) e Sergio
Roizenblit (competidor, com o
documentário "O Milagre de
Santa Luzia") e durou duas horas -o dobro do tempo regular
na programação do festival.
Trama sobre o documentarista Jean-Claude (interpretado pelo crítico e roteirista de cinema Jean-Claude Bernardet),
que persegue "a única imagem
verdadeira -a de um fóbico
diante da sua fobia-", o filme
foi realizado com "atores, atores fóbicos e fóbicos de verdade", segundo Goifman, que
também atua no filme, como
autor do "making of" do documentário de Jean-Claude e fóbico de sangue.
Ficção/documentário
A inter-relação entre os gêneros ficcional e documental
que o filme incorpora dominou
a discussão. O tema já havia se
insinuado na exibição oficial,
na noite de quinta.
Ao apresentar seu longa,
Goifman disse: "O filme está
sendo chamado de documentário por aí, e nós estamos achando bom. Mas, se fosse um documentário, na saída Jean-Claude e eu seríamos presos".
A possibilidade de que o documentário de Jean-Claude seja sádico é um dos pontos tratados no roteiro do filme.
Na opinião do roteirista Hilton Lacerda, "Filmefobia" é
uma metáfora sobre o cinema;
o cinema que não pode mais se
conter nos gêneros de ficção e
documentário".
Já Goifman diz preferir
"imaginar que o filme esteja em
algum lugar dessas fronteiras".
Para ele, "o que existe de mais
documental" em seu filme "é
dar espaço ao acaso".
Bernardet, por sua vez, propôs "um esforço no sentido de
abolir as palavras ficção e documentário" do vocabulário cinematográfico. Ele diz que ""Filmefobia" não é nem documentário nem ficção e não tem nada
a ver com isso, mas sim com a
perda da subjetividade e a necessidade que temos de nos gerar como espetáculo".
Goifman contou que, no início do projeto, ele e Lacerda
procuraram Bernardet "com
um argumento do que seria
uma ficção clássica sobre fobias". A avaliação do crítico foi
a seguinte: "Essa idéia, tal qual
está, é uma merda".
À medida que o roteiro foi
sendo refeito e abandonando
os aspectos "clássicos", como
diálogos preestabelecidos, Bernardet aderiu ao projeto e aceitou o papel principal.
Na opinião de Bernardet,
"Filmefobia" participa de um
esforço de descobrir novas formas de narrativa dentro da sociedade", em que "a metalinguagem é um vestígio, uma coisa ainda a ser superada", e onde
"o "Big Brother" é um fato estético da maior importância".
Nesse sentido, e por abordar
"a espetacularização da pessoa", Bernardet associa "Filmefobia" ao "Big Brother" e também a "obras sofisticadíssimas
como [os documentários] "Santiago" [de João Moreira Salles]
e "Jogo de Cena" [de Eduardo
Coutinho]". "Somos absolutamente contemporâneos", diz.
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