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Crítica
Além das obras, museu revela processo criativo de Rodin
Instituição em Salvador dedicada ao escultor francês funciona com obras emprestadas
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR
A importância de museus
temáticos, como o Rodin Bahia, no Palacete
das Artes, em Salvador, está em
apresentar não só um conjunto
de obras significativas de um
artista mas também em revelar
seu processo criativo de forma
completa, para que o culto à celebridade não seja o único viés
da instituição.
Poucos museus no Brasil
cumprem esse papel. A Fundação Iberê Camargo, em Porto
Alegre, e o Museu Lasar Segall,
em São Paulo, são alguns dos
exemplos bem-sucedidos.
O Rodin Bahia, inaugurado
há poucos meses, atinge bem
seu objetivo, apesar da questionável razão da existência de um
museu dedicado ao escultor
francês Auguste Rodin (1840-1917) numa cidade solar como a
capital baiana.
Frutos de um comodato, isto
é, um empréstimo de três anos
-período após o qual não se sabe o destino do lugar-, as 62
obras em gesso expostas no Palacete das Artes dão bem a ideia
da forma de trabalho de um dos
mais importantes precursores
do modernismo.
O acerto ocorre pela escolha
de um único tema, a famosa
Porta do Inferno, para a qual
Rodin dedicou três anos de pesquisa e que foi construída a partir da colagem de 98 pequenas
esculturas. Grande parte delas
está na mostra, como "O Pensador" e "O Beijo" -esta criada
inicialmente para a Porta, mas
descartada depois de um tempo por sua temática.
Há quem questione o fato de
todas as obras dentro do museu
serem em gesso, mas foi nesse
material que Rodin de fato pôs
a mão, já que grande parte de
suas esculturas em bronze foram fundidas apenas após a
morte do artista.
Por isso, apesar do aspecto
menos nobre, o gesso é o que de
fato revela seu método, suas
transformações, seu processo
criativo. Quatro esculturas de
Rodin em bronze, adquiridas
pelo governo da Bahia, estão
dispostas no jardim do palacete, completando a mostra.
Trem fantasma
O projeto de exposição não é
exagerado, especialmente tendo em vista a correta recuperação do imóvel do século 19. Ele
deixa a desejar, porém, num
momento de extremo mau gosto, em que o ateliê de Rodin é
remontado em estilo sensacionalista, parecendo mais uma
sala de trem fantasma, com direito a manequins.
Mesmo assim, o pensamento
de Rodin pode ser de fato vislumbrado pela mostra, que
ocupa os dois andares da casa.
Segundo a assessoria de imprensa do local, o comodato das
obras não teve custo para o governo do Estado -que pagou,
contudo, o seguro de R$ 1,5 milhão para receber os trabalhos
pertencentes ao Museu Rodin,
de Paris. Esse valor corresponde à metade do que o Museu de
Arte Moderna da Bahia gasta
para organizar sua programação anual.
O palacete possui ainda um
anexo, projeto do arquiteto
Marcelo Ferraz, com uma área
expositiva adequada à produção contemporânea, mas que
se encontra fechada atualmente. Rodin Bahia, afinal, é um alívio em meio à ditadura do axé.
RODIN BAHIA
Onde: Palacete das Artes (rua da Graça,
284, Salvador, tel. 0/xx/71/3117-6986)
Quando: de ter. a dom., das 10h às 18h
Quanto: entrada franca
Avaliação: bom
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