São Paulo, terça-feira, 22 de dezembro de 2009

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Crítica

Além das obras, museu revela processo criativo de Rodin

Instituição em Salvador dedicada ao escultor francês funciona com obras emprestadas

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

A importância de museus temáticos, como o Rodin Bahia, no Palacete das Artes, em Salvador, está em apresentar não só um conjunto de obras significativas de um artista mas também em revelar seu processo criativo de forma completa, para que o culto à celebridade não seja o único viés da instituição.
Poucos museus no Brasil cumprem esse papel. A Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, e o Museu Lasar Segall, em São Paulo, são alguns dos exemplos bem-sucedidos.
O Rodin Bahia, inaugurado há poucos meses, atinge bem seu objetivo, apesar da questionável razão da existência de um museu dedicado ao escultor francês Auguste Rodin (1840-1917) numa cidade solar como a capital baiana.
Frutos de um comodato, isto é, um empréstimo de três anos -período após o qual não se sabe o destino do lugar-, as 62 obras em gesso expostas no Palacete das Artes dão bem a ideia da forma de trabalho de um dos mais importantes precursores do modernismo.
O acerto ocorre pela escolha de um único tema, a famosa Porta do Inferno, para a qual Rodin dedicou três anos de pesquisa e que foi construída a partir da colagem de 98 pequenas esculturas. Grande parte delas está na mostra, como "O Pensador" e "O Beijo" -esta criada inicialmente para a Porta, mas descartada depois de um tempo por sua temática.
Há quem questione o fato de todas as obras dentro do museu serem em gesso, mas foi nesse material que Rodin de fato pôs a mão, já que grande parte de suas esculturas em bronze foram fundidas apenas após a morte do artista.
Por isso, apesar do aspecto menos nobre, o gesso é o que de fato revela seu método, suas transformações, seu processo criativo. Quatro esculturas de Rodin em bronze, adquiridas pelo governo da Bahia, estão dispostas no jardim do palacete, completando a mostra.

Trem fantasma
O projeto de exposição não é exagerado, especialmente tendo em vista a correta recuperação do imóvel do século 19. Ele deixa a desejar, porém, num momento de extremo mau gosto, em que o ateliê de Rodin é remontado em estilo sensacionalista, parecendo mais uma sala de trem fantasma, com direito a manequins. Mesmo assim, o pensamento de Rodin pode ser de fato vislumbrado pela mostra, que ocupa os dois andares da casa.
Segundo a assessoria de imprensa do local, o comodato das obras não teve custo para o governo do Estado -que pagou, contudo, o seguro de R$ 1,5 milhão para receber os trabalhos pertencentes ao Museu Rodin, de Paris. Esse valor corresponde à metade do que o Museu de Arte Moderna da Bahia gasta para organizar sua programação anual.
O palacete possui ainda um anexo, projeto do arquiteto Marcelo Ferraz, com uma área expositiva adequada à produção contemporânea, mas que se encontra fechada atualmente. Rodin Bahia, afinal, é um alívio em meio à ditadura do axé.


RODIN BAHIA

Onde: Palacete das Artes (rua da Graça, 284, Salvador, tel. 0/xx/71/3117-6986)
Quando: de ter. a dom., das 10h às 18h
Quanto: entrada franca
Avaliação: bom




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