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Grafite vira arma política para jovens iranianos
Protestos após reeleição de junho são tema de trabalhos
FERNANDA EZABELLA
DA REPORTAGEM LOCAL
Num país onde a cor verde virou palavrão, símbolo da campanha de opositores do governo do Irã, não é preciso muito
para arrumar encrenca com a
polícia de Teerã. Basta uma camiseta, um lenço ou uma lata
de spray da mesma cor.
No caso de A1one, o pioneiro
do grafite e da arte urbana no
país, ele criou "um exército de
canetas verdes", feito de adesivos que se espalharam pela cidade, colados em placas de
trânsito, pontos de ônibus e
muros. Em outro adesivo, um
monstrinho verde segura um
cartaz que diz em farsi: "Onde
está meu voto?", em referência
às eleições turbulentas de junho, que reelegeram Mahmoud
Ahmadinejad e desencadearam
protestos violentos.
"O governo diz que somos satanistas e já providenciou conteúdo na internet para nos difamar. É tudo ridículo e assustador ao mesmo tempo", diz A1one, 28, que pede para não ter
seu nome publicado, através de
entrevistas por e-mail. "Não
sou um soldado do Ocidente ou
do Oriente, sou só um cara iraniano que tem desejos e ideias."
A1one, que ganha a vida como designer e começou a grafitar em 2003, já expôs em outros países, ao lado de nomes
como Banksy, e se diz admirador dos brasileiros Osgêmeos.
Seus trabalhos podem ser vistos no site www.flickr.com/photos/irangraffiti.
É a internet -quando não
bloqueada- a maior vitrine
dos jovens, num país onde mais
da metade da população tem
menos de 30 anos.
O grupo Taj, formado por
três iranianos, costuma postar
suas criações em site próprio
(www.tajcrew.tk), Flickr ou
Facebook. Cave2, um dos fundadores, tem 16 anos, mora
com os pais e costuma fazer
grafites em farsi, como poemas
ou apenas a palavra "amor".
"Eu comecei fazendo em inglês, mas depois percebi que tinha que fazer na minha língua
mesmo, para poder dizer o que
eu sinto melhor e para as outras pessoas entenderam também", disse através de conversas no Facebook. "O grafite no
Irã está crescendo e melhorando, tem cada vez mais gente."
De olho na nova geração de
artistas, o curador iraniano
Shervin Shahbazi, que mora
nos EUA há 30 anos, organizou
a mostra "Das Ruas do Irã" em
Los Angeles, com trabalhos em
papel de artistas de Tabriz, segunda maior cidade do país.
"Em Los Angeles, há muitos
estilos, coisas grandes e bem
elaboradas, mas a maioria é de
imagens abstratas ou assinaturas. No Irã, as imagens são mais
diretas, com muitos desenhos
mostrando os próprios jovens",
disse Shahbazi por telefone.
A exposição, que aconteceu
em setembro e deve ir a San
Francisco, teve algumas obras
políticas barradas no correio
do Irã, mas também havia outros trabalhos de humor, como
uma tela em que Che Guevara
se casa com a Monalisa, feita
por TBZ, 22. "O grafite no Irã é
como uma criança que engatinha e que ainda precisa experimentar muito", disse TBZ.
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