São Paulo, terça-feira, 22 de dezembro de 2009

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Grafite vira arma política para jovens iranianos

Protestos após reeleição de junho são tema de trabalhos

FERNANDA EZABELLA
DA REPORTAGEM LOCAL

Num país onde a cor verde virou palavrão, símbolo da campanha de opositores do governo do Irã, não é preciso muito para arrumar encrenca com a polícia de Teerã. Basta uma camiseta, um lenço ou uma lata de spray da mesma cor.
No caso de A1one, o pioneiro do grafite e da arte urbana no país, ele criou "um exército de canetas verdes", feito de adesivos que se espalharam pela cidade, colados em placas de trânsito, pontos de ônibus e muros. Em outro adesivo, um monstrinho verde segura um cartaz que diz em farsi: "Onde está meu voto?", em referência às eleições turbulentas de junho, que reelegeram Mahmoud Ahmadinejad e desencadearam protestos violentos.
"O governo diz que somos satanistas e já providenciou conteúdo na internet para nos difamar. É tudo ridículo e assustador ao mesmo tempo", diz A1one, 28, que pede para não ter seu nome publicado, através de entrevistas por e-mail. "Não sou um soldado do Ocidente ou do Oriente, sou só um cara iraniano que tem desejos e ideias."
A1one, que ganha a vida como designer e começou a grafitar em 2003, já expôs em outros países, ao lado de nomes como Banksy, e se diz admirador dos brasileiros Osgêmeos. Seus trabalhos podem ser vistos no site www.flickr.com/photos/irangraffiti.
É a internet -quando não bloqueada- a maior vitrine dos jovens, num país onde mais da metade da população tem menos de 30 anos.
O grupo Taj, formado por três iranianos, costuma postar suas criações em site próprio (www.tajcrew.tk), Flickr ou Facebook. Cave2, um dos fundadores, tem 16 anos, mora com os pais e costuma fazer grafites em farsi, como poemas ou apenas a palavra "amor".
"Eu comecei fazendo em inglês, mas depois percebi que tinha que fazer na minha língua mesmo, para poder dizer o que eu sinto melhor e para as outras pessoas entenderam também", disse através de conversas no Facebook. "O grafite no Irã está crescendo e melhorando, tem cada vez mais gente."
De olho na nova geração de artistas, o curador iraniano Shervin Shahbazi, que mora nos EUA há 30 anos, organizou a mostra "Das Ruas do Irã" em Los Angeles, com trabalhos em papel de artistas de Tabriz, segunda maior cidade do país.
"Em Los Angeles, há muitos estilos, coisas grandes e bem elaboradas, mas a maioria é de imagens abstratas ou assinaturas. No Irã, as imagens são mais diretas, com muitos desenhos mostrando os próprios jovens", disse Shahbazi por telefone.
A exposição, que aconteceu em setembro e deve ir a San Francisco, teve algumas obras políticas barradas no correio do Irã, mas também havia outros trabalhos de humor, como uma tela em que Che Guevara se casa com a Monalisa, feita por TBZ, 22. "O grafite no Irã é como uma criança que engatinha e que ainda precisa experimentar muito", disse TBZ.


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