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Art déco de John Graz filtra brasilidade
Cerca de 180 obras do artista e designer suíço radicado no país estão em mostra que começa hoje em SP
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Parecem máquinas as onças
de John Graz. São felinos sintéticos, abaulados, de aspecto industrial. Índios e bandeirantes
também têm cara de saídos de
uma linha de montagem, num
futurismo com pé nos trópicos.
Suíço radicado no Brasil,
Graz liderou uma espécie de
antropofagia ao revés. No contrafluxo de Tarsila do Amaral,
Vicente do Rego Monteiro e
outros modernistas do país que
foram tomar lições com Fernand Léger e cubistas, ele digeriu fauna e flora brasileiras partindo de uma base art déco.
Obras de todas as suas fases,
dos bichos aos imigrantes nas
lavouras de café, estão agora na
Caixa Cultural, em São Paulo.
Na terra dos barões cafeeiros,
Graz montou um dos primeiros
escritórios de decoração do
país. Atendia o gosto burguês
com tapeçarias, móveis e pinturas de parede que filtravam a
brasilidade por olhos europeus.
Ele subverteu o preciosismo
acadêmico dos artistas em voga
no país no começo do século
20. Operou a síntese das formas e pôs figuras em movimento. "Antes era a onça com todas
as pintas", lembra Sérgio Pizoli,
curador da mostra. "Mas ele reduz a onça a um movimento, a
floresta vira folha gigante."
Folhas e plantas que lembram as florestas exageradas,
de caules grossos e flores hipertrofiadas de Tarsila do Amaral.
Mas, antes que ela fizesse o
"Abaporu", homem que come,
em tupi, Graz já tinha mastigado as manchas de Léger, o mesmo que ensinou formas proto-cubistas a Tarsila, numa composição de índios descansando.
Nos outros estudos que fez
dos índios, tema que aparece
também em sua obra decorativa, tenta retratar figuras em
movimento. Simula o ataque
durante a caça, a vida na aldeia,
mas passa ao largo de qualquer
traço acadêmico. Injetava, ao
contrário, uma dose de futurismo, formas sincopadas e geométricas, nesses registros.
Tentou atingir outro grau de
leveza em sua análise do mundo novo. Desenhou até caravelas chegando e os bandeirantes
que avançaram para o interior,
assumindo ele também o desejo de se entranhar numa terra
desconhecida, cheia de cor.
Não à toa, suas florestas despontam amarelas, vermelhas.
Gatos, onças, pássaros e lagartos se arrastam num langor tropical, uma moleza ao mesmo
tempo esfuziante, com toda a
volúpia das curvas art déco.
Graz, aliás, levou tão a sério
esse repertório formal que foi
modelo de Brecheret para os
homens redondos do Monumento às Bandeiras, o empurra-empurra do Ibirapuera.
JOHN GRAZ
Quando: abertura hoje, às 11h; de
ter. a dom., das 9h às 21h; até 28/2
Onde: Caixa Cultural (pça. da Sé,
111, tel. 0/xx/11/3321-4400)
Quanto: entrada franca
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