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Evento tem poucas respostas para apelo
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois dias após enviar uma
carta alertando os principais
atores da moda internacional
sobre a hipermagreza atual das
modelos, a organização da São
Paulo Fashion Week obteve,
por enquanto, poucas respostas de apoio.
O evento recebeu e-mails da
revista "Vogue" francesa e do
fotógrafo Nino Muñoz, um dos
preferidos de Gisele Bündchen.
A editora da "Vogue" americana, Anna Wintour, não escreveu diretamente à SPFW: encaminhou o alerta de Paulo Borges ao Conselho de Designers
de Moda da América, que convidou o empresário para uma
conferência sobre a saúde das
modelos, em Nova York.
A carta da SPFW propõe um
esforço conjunto para minimizar a onda de hipermagreza "e
seus efeitos na indústria e na
sociedade como um todo".
Para Borges, diretor da
SPFW, é preciso apoio internacional, já que as modelos passam a maior parte do ano trabalhando nos EUA e na Europa e
importam de lá o padrão radical de magreza.
A "Vogue" americana seria a
publicação mais influente para
esse processo. É a única revista
de moda de renome internacional que se recusa a publicar
imagens de hipermagras.
"Wintour já conseguiu acabar
com a onda "heroin chic", das
modelos com cara de "junkie"
nos anos 90", diz Borges.
Há quem duvide do poder
que vem de fora e ache que as
mudanças devem começar no
Brasil. "Paris não vai ajudar em
nada. O Brasil tem força para
resolver isso por aqui", afirma o
estilista Marcelo Sommer.
A crítica de moda Gloria Kalil
discorda. "Esse tipo de ação
precisa ser internacional. Nunca foi exigência brasileira ter
varapau na passarela", diz. "Para dar certo, tem que perseverar. Criar campanha de uma
vez só é fogo de artifício."
A SPFW criou em 2007 uma
campanha de esclarecimento
para modelos sobre problemas
alimentares. Na mesma época,
passou a exigir atestado de saúde das garotas. Por que, então,
agora desfilam modelos com
"magreza severa", na classificação da Organização Mundial da
Saúde (OMS)? "Todas continuam apresentando atestado.
Se não estão bem, temos de
questionar o sistema de saúde
do Brasil", justifica Borges.
"O mercado todo tem de se
reeducar. Se a magreza não entrar num desfile, mas continuar
na publicidade e nos editoriais,
não adianta nada", diz André
Hidalgo, diretor do evento Casa
de Criadores.
Desconforto
Na SPFW, o assunto da magreza radical gerou desconforto. Equipes de TV dizem ter sido proibidas de entrar em alguns camarins para fazerem reportagens sobre o assunto. A
assessoria de imprensa da
SPFW nega que tenha havido
restrições.
A organização do SPFW reteve a credencial de um fotógrafo
da agência de notícias France
Presse até que ele deletasse fotos feitas nos camarins dos desfiles, alegando que continham
imagens de seminudez. A Folha viu as fotos e elas revelam,
sobretudo, flagrantes da extrema magreza das modelos.
Borges destaca a responsabilidade da mídia. "A imprensa
massacrou a modelo russa Karolina Kurkova em 2008, chamando-a de gorda. Fernanda
Tavares até hoje sofre as consequências de uma reportagem
de 2002 que falou de sua celulite. Foi cruel."
No empurra-empurra do
mundo fashion, quando assunto é magreza, a culpa parece ser
sempre do vizinho. Entre o padrão esquálido das passarelas e
a epidemia de obesidade fora
dela, mais fácil dizer que os culpados somos todos nós.
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