São Paulo, sábado, 23 de janeiro de 2010

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Evento tem poucas respostas para apelo

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois dias após enviar uma carta alertando os principais atores da moda internacional sobre a hipermagreza atual das modelos, a organização da São Paulo Fashion Week obteve, por enquanto, poucas respostas de apoio.
O evento recebeu e-mails da revista "Vogue" francesa e do fotógrafo Nino Muñoz, um dos preferidos de Gisele Bündchen. A editora da "Vogue" americana, Anna Wintour, não escreveu diretamente à SPFW: encaminhou o alerta de Paulo Borges ao Conselho de Designers de Moda da América, que convidou o empresário para uma conferência sobre a saúde das modelos, em Nova York.
A carta da SPFW propõe um esforço conjunto para minimizar a onda de hipermagreza "e seus efeitos na indústria e na sociedade como um todo".
Para Borges, diretor da SPFW, é preciso apoio internacional, já que as modelos passam a maior parte do ano trabalhando nos EUA e na Europa e importam de lá o padrão radical de magreza.
A "Vogue" americana seria a publicação mais influente para esse processo. É a única revista de moda de renome internacional que se recusa a publicar imagens de hipermagras. "Wintour já conseguiu acabar com a onda "heroin chic", das modelos com cara de "junkie" nos anos 90", diz Borges.
Há quem duvide do poder que vem de fora e ache que as mudanças devem começar no Brasil. "Paris não vai ajudar em nada. O Brasil tem força para resolver isso por aqui", afirma o estilista Marcelo Sommer.
A crítica de moda Gloria Kalil discorda. "Esse tipo de ação precisa ser internacional. Nunca foi exigência brasileira ter varapau na passarela", diz. "Para dar certo, tem que perseverar. Criar campanha de uma vez só é fogo de artifício."
A SPFW criou em 2007 uma campanha de esclarecimento para modelos sobre problemas alimentares. Na mesma época, passou a exigir atestado de saúde das garotas. Por que, então, agora desfilam modelos com "magreza severa", na classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS)? "Todas continuam apresentando atestado. Se não estão bem, temos de questionar o sistema de saúde do Brasil", justifica Borges.
"O mercado todo tem de se reeducar. Se a magreza não entrar num desfile, mas continuar na publicidade e nos editoriais, não adianta nada", diz André Hidalgo, diretor do evento Casa de Criadores.

Desconforto
Na SPFW, o assunto da magreza radical gerou desconforto. Equipes de TV dizem ter sido proibidas de entrar em alguns camarins para fazerem reportagens sobre o assunto. A assessoria de imprensa da SPFW nega que tenha havido restrições.
A organização do SPFW reteve a credencial de um fotógrafo da agência de notícias France Presse até que ele deletasse fotos feitas nos camarins dos desfiles, alegando que continham imagens de seminudez. A Folha viu as fotos e elas revelam, sobretudo, flagrantes da extrema magreza das modelos.
Borges destaca a responsabilidade da mídia. "A imprensa massacrou a modelo russa Karolina Kurkova em 2008, chamando-a de gorda. Fernanda Tavares até hoje sofre as consequências de uma reportagem de 2002 que falou de sua celulite. Foi cruel."
No empurra-empurra do mundo fashion, quando assunto é magreza, a culpa parece ser sempre do vizinho. Entre o padrão esquálido das passarelas e a epidemia de obesidade fora dela, mais fácil dizer que os culpados somos todos nós.


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