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Autoestima faz um povo belo, diz Fraga
VITOR ANGELO
DO COLUNISTA DA FOLHA
O estilista mineiro Ronaldo
Fraga tem sido criticado por fazer teatro, e não moda, desde o
início de sua carreira, quando
apresentou, em 1996, a coleção
"Eu Amo Coração de Galinha".
Nesta temporada, ele se inspirou na coreógrafa Pina Bausch,
uma artista que para muitos
bailarinos fazia teatro, e para os
atores fazia dança. A seguir,
Fraga diz que um povo com autoestima elevada "sempre será
um povo belo".
FOLHA - O que você responde
quando falam que sua moda é muito teatral e pouco vida real?
RONALDO FRAGA - Eu fujo dessa
tal moda da vida real assim como o Satanás foge da cruz. Não
faço a mínima questão de estar
nas microtendências das revistas. E, para mim, moda é teatro
e passarela é palco. O estilista
deve aproximar essas distâncias.
FOLHA - É possível fazer uma moda
política?
FRAGA - A escolha da roupa já é
uma escolha política. Quando
você pega uma roupa para encontrar com essa ou aquela
pessoa, você já está fazendo um
jogo político.
FOLHA - A moda brasileira está deixando de ser racista ou é apenas
mais um modinha ter negros na
passarela?
FRAGA - Se esse fenômeno é
real ou lobo em pele de cordeiro só saberemos mais adiante.
O padrão de beleza que rege o
mundo ainda é o anglo-saxão.
Mas é importante saber que a
moda nunca foi tão democrática. E a possibilidade hoje de levantar a discussão sobre racismo é bem-vinda. Um povo com
autoestima elevado sempre será um povo belo.
FOLHA - Quando você surgiu, a sua
imagem chocou a tradicional família mineira?
FRAGA - Sim. Quando cheguei
da Inglaterra, fui na 25 de Março,. Passou um caminhão cheio
de tomates e os caras começaram a jogá-los em mim, cantando: "Na casa do senhor não
existe Satanás". Eu sorri, pois
ficou claro qual era o meu lugar
e o da minha moda. Falamos a
linguagem do desconforto, do
estranhamento.
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