São Paulo, quarta-feira, 23 de fevereiro de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Zé Ramos brilha em CD documento

do enviado ao Rio


A bipartição em dois projetos distintos -este "Mangueira -Sambas de Terreiro e Outros Sambas" e "Velha-Guarda da Mangueira e Convidados" (leia ao lado)- talvez reflita certa dispersão na ala histórica da escola. Mas resulta, seja como for, em abundância de material inédito e/ou resgatado da obscuridade.
O projeto patrocinado pelo Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro reúne 57 registros dispostos, basicamente, em dois grupos.
O primeiro é um conjunto de gravações caseiras -e bastante precárias- agrupadas pelo pesquisador Hermínio Bello de Carvalho. Não é macio de ouvir, mas têm-se aqui, como vivas, as vozes inesquecíveis de Cartola, Clementina de Jesus, Nelson Cavaquinho, Carlos Cachaça, o instrumento irremovível de Jacob do Bandolim.
É, pode-se dizer, a autêntica velha-guarda da escola, em grande parte constituída de valores já mortos. Se o repertório aí nem sempre é surpreendente, há espaço para surpresas inesperadas.
É o caso de "Modificado", do histórico Padeirinho, um samba-resposta ao manifesto da bossa nova "Desafinado". Diz mais ou menos assim, oscilando entre a mágoa e o conformismo:
"Vejo o samba tão modificado/ que também fui obrigado/ a fazer modificação/ espero que ninguém não me censure/ o que eu quero é que todos procurem/ ver se eu não tenho razão/ já não se fala mais no sincopado/ desde quando o desafinado/ aqui teve grande aceitação/ e até eu também gostei daquilo/ modificando o estilo do meu samba-tradição/ gosto de um samba ritmado pra sambar/ também gosto de um sincopado pra dançar/ mas agora tudo é diferente/ já não se fala mais naquele samba de ritmo quente."
O segundo e mais extenso segmento do álbum duplo é o de gravações feitas agora, com produção de Hermínio Bello de Carvalho, arranjos de Paulão Sete Cordas (arranjador, também, do disco da Portela) e participação de mais e mais importantes membros da Velha-Guarda mangueirense: Nelson Sargento, dona Neuma, Xangô da Mangueira e, finalmente, do mítico mangueirense Zé Ramos.
Bem, de resto é o papo de sempre: ninguém se dispôs até agora a lançar comercialmente o produto. Fica arquivado, até que algum predador tenha a "brilhante" idéia de inventar os "Afro-Brazilian All Stars". (PAS)


Avaliação:   


Texto Anterior: Mangueira ofusca os convidados
Próximo Texto: Portela abre temporada 2000 de Marisa Monte
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.