|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Zé Ramos brilha em CD documento
do enviado ao Rio
A bipartição
em dois projetos distintos
-este "Mangueira -Sambas de Terreiro
e Outros Sambas" e "Velha-Guarda da Mangueira e Convidados"
(leia ao lado)- talvez reflita certa
dispersão na ala histórica da escola. Mas resulta, seja como for, em
abundância de material inédito
e/ou resgatado da obscuridade.
O projeto patrocinado pelo Arquivo Geral da Cidade do Rio de
Janeiro reúne 57 registros dispostos, basicamente, em dois grupos.
O primeiro é um conjunto de
gravações caseiras -e bastante
precárias- agrupadas pelo pesquisador Hermínio Bello de Carvalho. Não é macio de ouvir, mas
têm-se aqui, como vivas, as vozes
inesquecíveis de Cartola, Clementina de Jesus, Nelson Cavaquinho,
Carlos Cachaça, o instrumento irremovível de Jacob do Bandolim.
É, pode-se dizer, a autêntica velha-guarda da escola, em grande
parte constituída de valores já
mortos. Se o repertório aí nem
sempre é surpreendente, há espaço para surpresas inesperadas.
É o caso de "Modificado", do
histórico Padeirinho, um samba-resposta ao manifesto da bossa
nova "Desafinado". Diz mais ou
menos assim, oscilando entre a
mágoa e o conformismo:
"Vejo o samba tão modificado/
que também fui obrigado/ a fazer
modificação/ espero que ninguém não me censure/ o que eu
quero é que todos procurem/ ver
se eu não tenho razão/ já não se fala mais no sincopado/ desde
quando o desafinado/ aqui teve
grande aceitação/ e até eu também gostei daquilo/ modificando
o estilo do meu samba-tradição/
gosto de um samba ritmado pra
sambar/ também gosto de um
sincopado pra dançar/ mas agora
tudo é diferente/ já não se fala
mais naquele samba de ritmo
quente."
O segundo e mais extenso segmento do álbum duplo é o de gravações feitas agora, com produção de Hermínio Bello de Carvalho, arranjos de Paulão Sete Cordas (arranjador, também, do disco da Portela) e participação de
mais e mais importantes membros da Velha-Guarda mangueirense: Nelson Sargento, dona
Neuma, Xangô da Mangueira e,
finalmente, do mítico mangueirense Zé Ramos.
Bem, de resto é o papo de sempre: ninguém se dispôs até agora a
lançar comercialmente o produto. Fica arquivado, até que algum
predador tenha a "brilhante"
idéia de inventar os "Afro-Brazilian All Stars".
(PAS)
Avaliação:
Texto Anterior: Mangueira ofusca os convidados Próximo Texto: Portela abre temporada 2000 de Marisa Monte Índice
|