São Paulo, sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Última Moda

Alcino Leite Neto, em Milão - ultima.moda@folha.com.br

Bye bye, nostalgia

Milão espanta o passado e tem Gisele na passarela da Dolce & Gabbana

A Dolce & Gabbana aprontou uma surpresa ontem na semana de moda de Milão: trouxe Gisele Bündchen de volta às passarelas européias. Há mais de cinco anos a top mais famosa do mundo não desfilava no Hemisfério Norte -só no Brasil.
"Eu a chamei porque é uma das minhas tops favoritas", disse Stefano Gabbana à Folha. A modelo fez três entradas e parecia um tanto nervosa e desconfortável com as roupas complexas e muito estruturadas dos estilistas.
"Sempre fico nervosa", confessou a top, no backstage. "Desta vez, achei que estava péssima", disse ela. "Na última entrada quase escorreguei. Achei que ia cair. Você viu o tamanho do sapato? Enorme!" Ela teve que segurar o vestido, levantando-o um pouco durante todo o percurso na passarela. "Prefiro usar uma roupa mais casual", contou.
Até ontem, porém, Gisele não era o principal assunto na temporada de inverno de Milão, que começou domingo. Giorgio Armani monopolizou a atenção nos primeiros dias do evento.
Na segunda-feira, os olhares se voltaram para a Burberry e o medievalismo punk mostrado pelo estilista Christopher Bailey. Na terça, os fashionistas saíram boquiabertos da minimalista Jil Sander e da irreverente Prada. Na quarta, foi a vez da Marni, que arrasou com as experimentações da designer Consuelo Castiglioni.
Em comum, essas coleções excepcionais têm o mérito de romper com o longo domínio da nostalgia na moda e de tentar pensar e entender o presente e o futuro.
A pesquisa e a mistura dos materiais, o trabalho com texturas e o gosto pelos requintes da alfaiataria masculina são alguns dos elementos presentes nas quatro coleções.
Na Burberry, o couro foi pespontado, recortado e misturado, a fim de quebrar a sua forma convencional e atualizá-lo. O tafetá foi superplissado, como se até tivesse sido esmagado, perdendo assim a sua caretice. As roupas são luxuosas, feitas de materiais nobres, mas visando um estilo muito contemporâneo e jovial.
A Prada se concentrou bastante na tecnologia dos têxteis, como nas surpreendentes peças em que texturas em alto-relevo colorido emergiam do tecido plano, como rugas orgânicas feitas em pelúcia.
É uma invenção genial -que lembra um pouco, ressalvadas as diferenças, os trabalhos dos artistas matéricos, como Antoni Tàpies e Alberto Burri.
A lição deixada pelas coleções dessas grifes é clara: o futuro está na mixagem, na mistura do nobre e do pobre, do orgânico e do hightech, do artificial e do natural, do salão e da rua, do informal e do clássico. "Falso clássico", sentenciou o oráculo Miuccia Prada.
com VIVIAN WHITEMAN

Giorgio Armani expõe 600 vestidos em Milão

E a estrela da temporada de inverno de Milão é... Giorgio Armani. O estilista de 72 anos, além de ter apresentado uma boa coleção nas passarelas, está exibindo 600 trajes históricos de sua grife na Triennale, o principal espaço de artes da cidade. É uma boa oportunidade para conhecer as obras-primas de um dos mais importantes nomes da história da moda.
A exposição foi aberta com um coquetel na última terça, com a presença do próprio Armani, que recebia os convidados na entrada, entre eles, Tina Turner e Ornella Mutti.
O diretor teatral Robert Wilson, curador da mostra, espalhou vídeos, jogos de iluminação e música oriental pelas 14 salas na Triennale. Cada uma apresenta um diferente aspecto do trabalho de Armani: a 'revolução" que ele trouxe ao estilo masculino e feminino nos anos 70 e 80, o fundamento minimalista, os seus flertes com o Oriente, além do sucesso de suas roupas no mundo do cinema, após fazer os figurinos de filmes como "O Gigolô Americano" e "Os Intocáveis". Uma sala inteira é dedicada às roupas que criou para o cinema e para estrelas como Angelina Jolie e Leonardo di Caprio.
Armani prometeu doar os 600 vestidos à cidade de Milão. "Darei todos eles de presente à cidade, mas só quando estiver seguro de que serão bem tratados", disse à imprensa durante a abertura da mostra. Com isso, quer dizer que espera que Milão o ajude a construir um prédio para abrigar a coleção, já projetado por Tadao Ando.
Nas passarelas, Armani mostrou modelos estranhamente sedutoras, de cabelos cobertos com toucas cravejadas de pedras e os pés vestidos com lindas sapatilhas tipo bailarina.
Recortes e encaixes assimétricos compunham as saias e os vestidos, com altura pouco acima do joelho, freqüentemente com a forma de balonês acanhados. O estilista explorou a sensualidade dos bustos, dos ombros e das costas, desenhando linhas no corpo com as alças dos vestidos e jogando com estruturas nas golas.
Comentários desencontrados também apareceram na imprensa sobre a venda do império de Armani, avaliado em 5 bilhões de euros e do qual ele é o único acionista. Segundo um jornal, a L'Oréal seria a principal interessada na compra. Armani desmentiu a notícia.
Ontem, o estilista voltou às manchetes dos jornais italianos. Ele impediu a entrada da jornalista Cathy Horyn, do "The New York Times", no desfile da Emporio Armani, depois de ela ter criticado uma calça do coleção da linha principal da grife, a Giorgio Armani.

Ferragamo aposta no superchique

O italiano Salvatore Ferragamo (1898-1960) foi um gênio dos calçados, e o seu nome indica hoje uma das mais respeitadas "maisons" de moda, quando se fala em bolsas e sapatos. No que diz respeito às roupas femininas, porém, a Salvatore Ferragamo ainda é uma marca em busca de reconhecimento.
Desde 2002, o prêt-à-porter da grife é desenhado por Graeme Black. O desafio deste escocês de 39 anos é fazer com que as roupas da marca deixem de ser apenas acessórios dos acessórios. Ao mesmo tempo, Black precisa encontrar um estilo que não contrarie a tradição desenvolvida nos calçados e bolsas. "A mulher Ferragamo é sofisticada e muito segura de si. As roupas têm de compor um todo requintado com os acessórios, trazendo um sex-appeal extra", disse o estilista à Folha.
Black foi bem-sucedido nesta tarefa com a nova coleção de inverno -muito luxuosa nos materiais e elaborada no design. Ele projetou uma mulher superchique que explora elementos da roupa masculina. Os terninhos de blazers justos acompanhados de calças superlargas, tipo pantalona, chamaram a atenção. Também impressionaram as arquiteturas que ele desenvolveu -sobretudo nas costas- para criar formas discretas de sensualidade.
Na linha de bolsas, a grife apostou sobretudo em carteiras (tendência em Milão), sempre em tamanhos grandes.
Na última temporada de verão, foi o Rio que serviu de inspiração a Black. Ele visitou a cidade há três anos, no Carnaval. "Fiquei impressionado com a riqueza cultural e arquitetônica da cidade", contou.


Texto Anterior: Crítica: Akon acerta ao apostar em vários estilos
Próximo Texto: Música: Especial conta trajetória do Coldplay
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.