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Última Moda
Alcino Leite Neto, em Milão - ultima.moda@folha.com.br
Bye bye, nostalgia
Milão espanta o passado e tem Gisele na passarela da Dolce & Gabbana
A Dolce & Gabbana aprontou uma surpresa ontem na semana de moda de Milão: trouxe
Gisele Bündchen de volta às
passarelas européias. Há mais
de cinco anos a top mais famosa
do mundo não desfilava no Hemisfério Norte -só no Brasil.
"Eu a chamei porque é uma
das minhas tops favoritas", disse Stefano Gabbana à Folha. A
modelo fez três entradas e parecia um tanto nervosa e desconfortável com as roupas
complexas e muito estruturadas dos estilistas.
"Sempre fico nervosa", confessou a top, no backstage.
"Desta vez, achei que estava
péssima", disse ela. "Na última
entrada quase escorreguei.
Achei que ia cair. Você viu o tamanho do sapato? Enorme!"
Ela teve que segurar o vestido,
levantando-o um pouco durante todo o percurso na passarela.
"Prefiro usar uma roupa mais
casual", contou.
Até ontem, porém, Gisele
não era o principal assunto na
temporada de inverno de Milão, que começou domingo.
Giorgio Armani monopolizou a
atenção nos primeiros dias do
evento.
Na segunda-feira, os olhares
se voltaram para a Burberry e o
medievalismo punk mostrado
pelo estilista Christopher Bailey. Na terça, os fashionistas
saíram boquiabertos da minimalista Jil Sander e da irreverente Prada. Na quarta, foi a
vez da Marni, que arrasou com
as experimentações da designer Consuelo Castiglioni.
Em comum, essas coleções
excepcionais têm o mérito de
romper com o longo domínio
da nostalgia na moda e de tentar pensar e entender o presente e o futuro.
A pesquisa e a mistura dos
materiais, o trabalho com texturas e o gosto pelos requintes
da alfaiataria masculina são alguns dos elementos presentes
nas quatro coleções.
Na Burberry, o couro foi pespontado, recortado e misturado, a fim de quebrar a sua forma convencional e atualizá-lo.
O tafetá foi superplissado, como se até tivesse sido esmagado, perdendo assim a sua caretice. As roupas são luxuosas,
feitas de materiais nobres, mas
visando um estilo muito contemporâneo e jovial.
A Prada se concentrou bastante na tecnologia dos têxteis,
como nas surpreendentes peças em que texturas em alto-relevo colorido emergiam do tecido plano, como rugas orgânicas feitas em pelúcia.
É uma invenção genial -que
lembra um pouco, ressalvadas
as diferenças, os trabalhos dos
artistas matéricos, como Antoni Tàpies e Alberto Burri.
A lição deixada pelas coleções dessas grifes é clara: o futuro está na mixagem, na mistura do nobre e do pobre, do orgânico e do hightech, do artificial e do natural, do salão e da
rua, do informal e do clássico.
"Falso clássico", sentenciou o
oráculo Miuccia Prada.
com VIVIAN WHITEMAN
Giorgio Armani expõe 600 vestidos em Milão
E a estrela da temporada de
inverno de Milão é... Giorgio
Armani. O estilista de 72 anos,
além de ter apresentado uma
boa coleção nas passarelas, está
exibindo 600 trajes históricos
de sua grife na Triennale, o
principal espaço de artes da cidade. É uma boa oportunidade
para conhecer as obras-primas
de um dos mais importantes
nomes da história da moda.
A exposição foi aberta com
um coquetel na última terça,
com a presença do próprio Armani, que recebia os convidados na entrada, entre eles, Tina
Turner e Ornella Mutti.
O diretor teatral Robert Wilson, curador da mostra, espalhou vídeos, jogos de iluminação e música oriental pelas 14
salas na Triennale. Cada uma
apresenta um diferente aspecto do trabalho de Armani: a 'revolução" que ele trouxe ao estilo masculino e feminino nos
anos 70 e 80, o fundamento minimalista, os seus flertes com o
Oriente, além do sucesso de
suas roupas no mundo do cinema, após fazer os figurinos de
filmes como "O Gigolô Americano" e "Os Intocáveis". Uma
sala inteira é dedicada às roupas que criou para o cinema e
para estrelas como Angelina
Jolie e Leonardo di Caprio.
Armani prometeu doar os
600 vestidos à cidade de Milão.
"Darei todos eles de presente à
cidade, mas só quando estiver
seguro de que serão bem tratados", disse à imprensa durante
a abertura da mostra. Com isso,
quer dizer que espera que Milão o ajude a construir um prédio para abrigar a coleção, já
projetado por Tadao Ando.
Nas passarelas, Armani mostrou modelos estranhamente
sedutoras, de cabelos cobertos
com toucas cravejadas de pedras e os pés vestidos com lindas sapatilhas tipo bailarina.
Recortes e encaixes assimétricos compunham as saias e os
vestidos, com altura pouco acima do joelho, freqüentemente
com a forma de balonês acanhados. O estilista explorou a
sensualidade dos bustos, dos
ombros e das costas, desenhando linhas no corpo com as alças
dos vestidos e jogando com estruturas nas golas.
Comentários desencontrados também apareceram na
imprensa sobre a venda do império de Armani, avaliado em 5
bilhões de euros e do qual ele é
o único acionista. Segundo um
jornal, a L'Oréal seria a principal interessada na compra. Armani desmentiu a notícia.
Ontem, o estilista voltou às
manchetes dos jornais italianos. Ele impediu a entrada da
jornalista Cathy Horyn, do
"The New York Times", no desfile da Emporio Armani, depois
de ela ter criticado uma calça
do coleção da linha principal da
grife, a Giorgio Armani.
Ferragamo aposta no superchique
O italiano Salvatore Ferragamo (1898-1960) foi um gênio
dos calçados, e o seu nome indica hoje uma das mais respeitadas "maisons" de moda, quando se fala em bolsas e sapatos.
No que diz respeito às roupas
femininas, porém, a Salvatore
Ferragamo ainda é uma marca
em busca de reconhecimento.
Desde 2002, o prêt-à-porter
da grife é desenhado por Graeme Black. O desafio deste escocês de 39 anos é fazer com que
as roupas da marca deixem de
ser apenas acessórios dos acessórios. Ao mesmo tempo, Black
precisa encontrar um estilo
que não contrarie a tradição desenvolvida nos calçados e bolsas. "A mulher Ferragamo é sofisticada e muito segura de si.
As roupas têm de compor um
todo requintado com os acessórios, trazendo um sex-appeal
extra", disse o estilista à Folha.
Black foi bem-sucedido nesta tarefa com a nova coleção de
inverno -muito luxuosa nos
materiais e elaborada no design. Ele projetou uma mulher
superchique que explora elementos da roupa masculina. Os
terninhos de blazers justos
acompanhados de calças superlargas, tipo pantalona, chamaram a atenção. Também impressionaram as arquiteturas
que ele desenvolveu -sobretudo nas costas- para criar formas discretas de sensualidade.
Na linha de bolsas, a grife
apostou sobretudo em carteiras (tendência em Milão), sempre em tamanhos grandes.
Na última temporada de verão, foi o Rio que serviu de inspiração a Black. Ele visitou a cidade há três anos, no Carnaval.
"Fiquei impressionado com a
riqueza cultural e arquitetônica da cidade", contou.
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