São Paulo, sábado, 23 de fevereiro de 2008

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Em protesto, artista esvazia galeria

Na ressaca da Arco, feira que acabou nesta semana em Madri, Iran do Espírito Santo faz exposição sem objetos em SP

Em vez de apresentar telas ou esculturas, artista cobriu as paredes da galeria com um degradê cinza, 52 tons que vão do preto ao branco

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto as galerias ainda calculam o lucro das vendas na Arco, feira de arte que acaba de terminar em Madri, o artista Iran do Espírito Santo abre hoje, na Fortes Vilaça, uma exposição vazia, crítica ao mercado.
A exemplo da próxima Bienal de São Paulo, que deixará um andar vago, Espírito Santo esvaziou os dois andares da galeria e cobriu suas paredes com um degradê cinza: são 52 tons que vão do branco ao preto em faixas da mesma largura.
"Ocupar a galeria com esse vácuo é minha maneira de refletir sobre a produção de objetos para um mercado voraz. É como se tivesse embargado o espaço", diz o artista.
Da mesma forma, Espírito Santo cobriu de cinza as paredes internas de um museu pela primeira vez em 1997, quando imitou do lado de dentro os tijolos da fachada da instituição em San Francisco. Um projeto parecido seria repetido anos depois no MAM-SP, na Bienal de Veneza e, por último, na mostra individual que fez na Estação Pinacoteca em 2007.
"O cinza é uma constante em meu trabalho. Acho interessante porque reduz tudo à luz, entre claro e escuro", afirma, lembrando também a alusão que faz à fotografia em preto-e-branco. Na adolescência, Espírito Santo trabalhou em laboratórios fotográficos e nunca esqueceu as gradações de luz dos testes de revelação. Mas dessa vez o artista diz interpretar o espaço da galeria sem referências figurativas.
Enquanto o andar de baixo apresenta as faixas na vertical, o espaço no andar de cima recebeu faixas de tinta na horizontal, embaralhando os sentidos.
Espírito Santo dobrou o número de tons em relação à última mostra que fez, misturando, com a ajuda de assistentes no ateliê, tintas de parede branca e preta para chegar às 52 faixas que cobrem a galeria. "O seqüenciamento do cinza traz uma escala para o espaço, permite modular a galeria com uma luz ilusória", afirma. O resultado é uma experiência "seca, iconoclasta e serena".

Aval do mercado
Ao contrário do que aconteceu na Arco, colecionadores não poderão mandar embrulhar as obras para levar para casa e instituições que gostarem do trabalho terão de fazer um convite para que Espírito Santo faça um novo site-specific.
"O mercado dominou tudo. O que dava um aval para a arte antes eram as instituições. Hoje as galerias determinam o que vai para os museus. É algo promíscuo", opina Espírito Santo.
Quanto à data de abertura, uma semana depois da Arco e meses antes do início do que foi alardeado como a Bienal do vazio, ele diz que foi apenas coincidência -a propósito, sete obras suas foram vendidas na Arco, a mais cara delas por US$ 60 mil, arrematada para uma coleção particular.


IRAN DO ESPÍRITO SANTO
Quando:
abertura hoje, às 14h; de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 17h; até 20/3
Onde: galeria Fortes Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, São Paulo; tel. 0/xx/11/3202-7066)
Quanto: entrada franca


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