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Crítica
Jarmusch aposta em vazio artificial
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Há cineastas muito cultuados de que posso passar ao largo sem nenhum remorso. Jim
Jarmusch é um deles.
Seus filmes têm seus encantos, mas sempre me deixam a
sensação de certa falta de recursos transformada seja em
maneirismo, seja em estética
minimalista.
Maneirismo me parece definir melhor "Flores Partidas"
(MGM, 20h; 16 anos), se adotarmos para o termo o sentido
de artificialismo que carrega.
Pois o vazio do personagem
vivido por Bill Murray, a espécie de zero emocional que ele é,
sua ausência, durante todo o
tempo em que revisita as mulheres de sua vida e busca pelo
filho de que lhe falaram não remete a nenhum tipo de verdade existencial, psicológica ou o
que seja.
Remete só à maneira como
Jarmusch gosta de tratar seus
personagens.
Mas, atenção, Jarmusch não
é bobo e, se ao longo do filme
podemos pensar nesse modo
como uma fragilidade, no final
isso se vira sobre nós: e o fim
justifica alegremente os começos e os meios.
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