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Biografia amiga agrada a Saramago
Livro lançado em Portugal, sem previsão de sair no Brasil, examina vida e obra de escritor e ganha elogio do biografado
Admirador do Nobel, autor
João Marques Lopes pinta
um retrato positivo de seu
personagem ao abordar
polêmicas políticas históricas
FABIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL
Anunciada em Portugal como "a primeira biografia" do
escritor José Saramago, a obra
de João Marques Lopes lançada em 21 de janeiro naquele
país não teve por base nenhuma entrevista com o biografado, que alegou falta de tempo.
O autor, doutorando em literatura brasileira, examinou toda a produção de Saramago (de
1947 até hoje) e o que já foi escrito sobre ele. Também diz ter
entrevistado pessoas próximas
ao Nobel, sem nominá-las.
Pouco após o lançamento,
Saramago emitiu nota definindo a obra como "um trabalho
honesto, sério, sem especulações gratuitas". A chave para
entender por que abonou um
trabalho com o qual ele não topou contribuir está na imagem
positiva que emerge da leitura.
Não que João Marques Lopes omita as polêmicas em torno do escritor. As mais notórias
estão todas lá. Mas invariavelmente a avaliação do autor é
que Saramago tinha razão.
"Eu revejo-me na obra literária e na produção política e cívica de Saramago, e é evidente
que isso aparece no livro. É legítimo", disse Lopes à Folha.
No rastro da Revolução dos
Cravos, que derrubou a ditadura salazarista em Portugal, Saramago, já um militante ativo
do PCP (Partido Comunista
Português), foi nomeado em
abril de 1975 diretor-adjunto
do "Diário de Notícias". Em
agosto, alguns jornalistas fizeram um abaixo-assinado contra o aparelhamento do jornal
pelo PCP. Foram demitidos.
Saramago sempre foi acusado pela direita portuguesa de
ter arquitetado a degola. Já seu
biógrafo conta que a demissão
não foi definida pela direção,
mas em assembleia -Saramago votou a favor da medida.
"De resto", escreve Lopes, "o
extremismo era moeda corrente na época, e quando a correlação de forças se tornou favorável ao PS [Partido Socialista] e
à direita depois do golpe de 25
de novembro, Saramago e [o
diretor] Luís Barros foram automaticamente expulsos (...)".
Sobre o relato de Lopes, Saramago escreveu: "Ao cabo de
35 anos, pela primeira vez, o
caso dos despedimentos (...) é
corretamente descrito".
A biografia conta que Saramago, em carta a Jorge de Sena
em 1963, revelou que pensou
em se mudar para o Brasil. Era
uma época em que estava aturdido por "uma experiência de
ordem sentimental" (palavras
de Saramago numa entrevista).
O biografado negou informação do livro de que recusou
proposta milionária dos EUA
para adaptar "Memorial do
Convento" ao cinema. Mas revelou ter recusado oferta da TV
Globo para transformar o romance em série. "A minha resposta foi que não queria ver a
cara das minha personagens..."
BIOGRAFIA JOSÉ SARAMAGO
Autor: João Marques Lopes
Editoras: Guerra & Paz e Pluma
Quanto: 16,50 (R$ 41, 178 págs.)
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