São Paulo, segunda, 23 de fevereiro de 1998

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"New York Times" descobre Machado de Assis

da Reportagem Local

O escritor brasileiro Machado de Assis (1839-1908) é classificado como o "mais importante na história da América Latina" em resenha no "Book Review", suplemento literário do jornal "The New York Times", de sábado.
O motivo é o lançamento, pela editora Oxford University Press, de "Dom Casmurro" e "The Posthumous Memoirs of Brás Cubas" ("Memórias Póstumas de Brás Cubas") nos EUA.
As traduções inauguram a "Library of Latin America", que tem por objetivo "resgatar e preservar a grande literatura perdida", segundo a Oxford.
A resenha sobre Machado de Assis, intitulada "Madness in a Tropical Manner" (Loucura à moda tropical), é assinada por K. David Jackson, tradutor e professor de literatura portuguesa e brasileira na Universidade de Yale.
O texto mereceu ainda uma chamada na primeira página do jornal, em que se lê: "Mestre brasileiro, Machado de Assis, submeteu o aprendizado europeu à vida e às altas temperaturas da América Latina". Por fim, o suplemento traz o primeiro capítulo das duas obras.
O texto de Jackson começa ressaltando que Machado de Assis tem uma "identidade híbrida", misturando o aprendizado clássico da literatura e filosofia européias à experiência das transformações sociais no Brasil em fins do século 19.
A seguir, faz um paralelo entre o escritor e o cineasta Woody Allen -que é citado pelos editores fazendo elogios à obra de Machado. "Machado usou a Manhattan de seu tempo, o Rio de Janeiro, capital do Brasil, como palco para a comédia humana tirada dos clássicos e adaptada ao que ele chamava de "jovens e quentes países'."
Por essa perspectiva, segundo o professor, "Dom Casmurro" bem poderia se chamar "Crimes e Pecados", e "Memórias Póstumas" seria sua "Poderosa Afrodite".
Jackson escreve ainda que "moderno" é a palavra-chave na discussão sobre a obra. Ele nota que, apesar de abordar temas comuns aos escritores realistas -como adultério e hipocrisia-, Machado "rejeita tanto o determinismo social quanto a prosa descritiva".
O professor termina recomendando ao leitor: "O melhor a fazer é deixar essa resenha de lado e ir imediatamente aos livros".



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