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TELEVISÃO
Opinião dividida dos americanos vai ao ar na CNN
ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha em Austin
A opinião pública existe. É ela
que dita trajetórias inusitadas à sequência de eventos midiáticos que
assola o país das comunicações
eletrônicas. É ela também que, em
parte, mantém em suspenso o desfecho de cada um deles.
Entre guerras nas distantes terras de Aladim e escândalos amorosos do presidente no salão oval
da Casa Branca, a opinião pública
flutua de acordo com seus próprios critérios imponderáveis.
Há alguns dias poderia se supor
que a marcha para a guerra seria
consensual nos EUA. Os republicanos já haviam manifestado sua
usual vontade bélica. Os democratas preparavam uma campanha de
divulgação da decisão do presidente. Os políticos estavam de
acordo com o ataque.
Mas o que não estava previsto é
que a opinião pública americana
se manifestasse contra o confronto de maneira contundente. Para
quem testemunhou o bombardeio
de Bagdá servir de tema à espetáculos de fogos de artifício que comemoram a independência a cada
4 de julho, é surpreendente que os
cidadãos da única potência mundial que sobreviveu à queda do
muro de Berlim tenham se mostrado razoáveis. Mais que razoáveis, às vezes até humildes.
Tanta certeza se tinha do apoio
popular que o governo programou sessões de esclarecimento ao
público que deveriam fazer soar o
grito de guerra de uma nação unida.
O governo negociou com a direção da CNN a transmissão direta
dos debates em todas as partes do
mundo atingidas pelo canal.
Depois que os cidadãos de Ohio
aproveitaram a audiência global
para expressar seu ceticismo, não
atendendo ao chamado dos tambores e questionando os princípios básicos da cartilha de Madeleine Albright, a secretária da Defesa, o debate televisivo em si virou assunto. Terá Saddam Hussein em pessoa se deleitado com o
espetáculo de fragilidade interna
oferecido pelo inimigo via satélite?
No caso Mônica Lewinsky, a saturação da opinião pública com o
excesso da cobertura, expressada
em cartas e e-mails do leitor, nas
pesquisas e na opinião de jornalistas liberais, sinalizou às emissoras
de TV que talvez elas estivessem
indo longe demais na exposição da
privacidade do presidente.
No caso da guerra, o meio televisivo serve aos cidadãos que desejam manifestar seu descolamento,
dessa vez de uma política de Estado. Nos dois casos a TV demonstra uma vocação indiscreta capaz
de provocar respeitáveis reações
inesperadas, que de alguma forma
passam a ser minimamente contempladas.
E-mail: ehamb@uol.com.br
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