São Paulo, quinta-feira, 23 de março de 2006

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CINEMA

O paulistano sofreu um infarto aos 86 anos; acervo de imagens entre 1929 e 1990 dará origem a um novo filme

Morre o cinejornalista Primo Carbonari

Juca Varella - 19.nov.2003/Folha Imagem
O cineasta Primo Carbonari, que morreu anteontem em São Paulo, aos 86 anos; documentarista era criticado por ser de direita


DA REPORTAGEM LOCAL

O cineasta, produtor e inventor paulistano Primo Carbonari morreu anteontem aos 86 anos. Um dos mais profícuos documentaristas de sua geração, Carbonari sofreu um infarto em casa, em São Paulo. O enterro estava marcado para ontem, às 17h, no cemitério do Araçá, zona oeste de SP.
Carbonari realizou mais de 3.200 edições de um cinejornal, exibido antes dos longas-metragens nos cinemas até 1990. No auge de sua produção, trabalhavam com ele cerca de 150 pessoas.
Suas câmeras registraram os principais momentos históricos do Brasil entre 1954 e 1990, como posses de presidentes, missões de sertanistas em tribos indígenas, jogos de futebol e enterros.
Em 2003, em entrevista publicada na Folha, Carbonari afirmou que os eventos mais importantes que filmou foram a morte de Getúlio Vargas (1883-1954), de Costa e Silva (1899-1969), dos generais e de todos os governadores.
"As mortes seriam a coisa mais importante?", perguntaram, então, os entrevistadores, os cineastas Eugênio Puppo e Jean-Claude Bernardet. "Por uma razão só, as mortes fazem parte de uma história", respondeu Carbonari.

Invenção
Não foi apenas no território do documentário que Carbonari atuou. Ele inventou a lente Amplavisão, uma versão nacional do cinemascópio, que usava uma lente especial para captar as imagens e também para exibi-las.
"A Amplavisão causou um pequeno estardalhaço e representantes dos grandes estúdios americanos vieram ao Brasil para conhecê-la. Chegaram à conclusão que a lente não era uma cópia", conta Eugênio Puppo.
A partir de 1957, alguns dos cinejornais de Carbonari passaram a receber o nome de "Notícias em Amplavisão", seguido pelo número da edição.
Antes de iniciar sua própria produção, Carbonari havia trabalhado no DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) de Getúlio Vargas e no "Bandeirantes na Tela", cinejornal do governador paulista Adhemar de Barros.
"Primo era uma pessoa controversa, muitos criticavam esse viés de direita dele. Ele participou de campanhas de políticos. Para Adhemar e para Jânio Quadros, diretamente", afirma Puppo.
O cineasta de 41 anos é responsável por um projeto de recuperação, visualização e catalogação da obra de Carbonari. São 1,5 milhão de metros de filme, o que equivale a 600 longas de 60 minutos.

Novo documentário
A partir do mês que vem, Puppo inicia a montagem do filme "Ampla Visão", que condensa parte do material de Carbonari.
"O acervo dele registra a história do nosso país de 1929 a 1990. Apesar de ter começado a filmar efetivamente em 1945 e iniciado o seu cinejornal em 1954, ele comprou muito material de outras pessoas", diz Puppo.
Segundo ele, o filme vai trabalhar com diversas janelas. "Pretendo usar os vários formatos a favor do filme", adianta. O filme deve estrear em 2007, com um banco de dados que poderá ser consultado na internet. No site www.heco.com.br/ampla visao, é possível ver o trailer.
"Além dos cinejornais, ele fez documentários de plantas, bichos e de segurança no trabalho", conta Puppo. Carbonari assinou ainda dois docudramas: "A Morte de 500 Milhões", que narra um roubo em 1963, usando os policiais que desvendaram o crime como atores, e "Aí Vêm os Cadetes".
"Primo era muito generoso, muitas pessoas começaram com ele, lembra Puppo. De acordo com ele, "O Pagador de Promessas", de Anselmo Duarte, foi montado na moviola que Carbonari comprou da Vera Cruz; e vários filmes do Zé do Caixão, copiados no estúdio de Carbonari.
Nos últimos anos, o inventor trabalhava no projeto de uma lente para cinema 3D. "Há quatro anos, ele me disse que estava perto de fazer a filmagem e projeção em 3D. Continuava a inovar e inventar coisas", conta Puppo.


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