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COMIDA
Festival em São Paulo coloca em evidência o cogumelo, iguaria cultivada há mais de 300 anos e cada vez mais apreciada por chefs contemporâneos
Aromas do Bosque
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Selvagens ou cultivados, frescos
ou secos, os cogumelos têm se
tornado habitués no cardápio dos
restaurantes de São Paulo e são
estrelas de um festival realizado
há 15 anos na Vinheria Percussi, o
Menu di Funghi, com início hoje.
Nos mercados e na feira, as ofertas já não se restringem ao simplório vidro de champignon de
Paris em conserva. Grandes redes
têm investido nas variedades frescas cultivadas aqui, e, para quem
pode pagar, há os importados.
O consumo do fungo é remoto.
Acredita-se que tenha origem na
Pré-História, quando era encontrado ainda selvagem. Segundo a
enciclopédia "The Oxford Companion to Food", o cultivo teve
início há cerca de 300 anos.
"O cogumelo é usado na alimentação humana há muito tempo, tem até registro arqueológico", diz Robert Falck, 29, professor de gastronomia da Anhembi
Morumbi. "O cogumelo tem uma
concentração alta de ácido glutâmico, que realça o sabor."
No Brasil, a produção se intensificou há cerca de 30 anos, com o
cultivo do champignon de Paris.
Atualmente, outras qualidades
são produzidas aqui: shiitake, shimeji, pleorotus e portobello.
Variedades como o porcini e o
morilles, quando encontrados no
Brasil, são vendidos desidratados
-o porcini, raramente, é oferecido congelado in natura. Cobiçada
e caríssima, a trufa é ainda mais
rara -seu quilo chega a custar
3.000 (cerca de R$ 7.800). "Trufa,
você ama ou odeia. Tem gosto de
bosque, de úmido", diz a chef Silvia Percussi, 41.
Estrela dos menus
No festival da Vinheria Percussi
(r. Cônego Eugênio Leite, 523, Jd.
América, tel. 0/xx/11/3088-4920),
da entrada ao prato principal, os
cogumelos estão presentes. Aparecem aromatizando um crostini,
são usados como molho de uma
massa fresca ou para acompanhar
um confit de pato. Servido até 2 de
abril, o menu tem duas entradas,
dois pratos principais e uma sobremesa (R$ 57 por pessoa).
"O cogumelo sempre foi um dos
meus ingredientes preferidos",
conta Silvia, autora de "Funghi
-°Cozinhando com Cogumelos"
(ed. Keila & Roseldeld, 102 págs.).
Se os cardápios podem ser lidos
como reflexo da preferência dos
comensais, para além do gosto
pessoal dos chefs, a receptividade
aos cogumelos é clara. No Ritz, o
shiitake, o Paris e o porcini compõem uma receita de linguini, e os
cogumelos frescos aparecem num
quiche. "Eles são uma boa opção
para os vegetarianos", diz Maria
Helena Guimarães, 59, do Ritz.
No Sallvattore, o shimeji, o shiitake e o Paris aparecem no risoto.
"É relativamente fácil de ser manipulado e dá um sabor gostoso",
diz o chef Pier Paolo Picchi, 28.
No Eau, do Grand Hyatt São
Paulo, três pratos levam o ingrediente: o foie gras é salteado com
o eringui, pêra e magret defumado ao molho de vinho do Porto; o
filé de cherne assado é acompanhado por um purê de cogumelos
de Paris fresco com azeite de trufas e a perdiz assada recheada
com maçã e foie gras é servida
com cogumelo salteado e molho
de especiarias.
"Na comida francesa, usamos
muito cogumelo. Minha especialidade é trabalhar com os melhores produtos nacionais frescos",
diz o chef do Eau, Pascal Valero,
35. "Não uso funghi desidratado
nem cogumelo em conserva."
Adepto do eringui, Valero diz
que ele é parecido com cèpe francês. "Não é um cogumelo comum, poucos restaurantes o
compram", diz. "Tinha outra variedade que acabou, o enoki. Se
alguém conseguir produzi-lo de
novo, agradeço e vou comprar."
O produtor Ricardo Chuang, da
Chuang's (www.chuang.com.br), diz que o enoki deixou de ser
cultivado por ser muito sensível.
"Mas não tem jeito, o Paris ainda
é mais conhecido e consumido."
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