JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Produzir música sinfônica é estimulante, bonito. Mas o estímulo e a beleza se multiplicam infinitamente quando se trata da Sinfônica Heliópolis, uma orquestra jovem da maior favela paulistana.
É o tema do documentário produzido pelo canal Futura, com os ensaios para um concerto -o "Primeiro", para piano e orquestra, de Felix Mendelssohn- no Teatro Municipal de São Paulo e que teve como solista Arnaldo Cohen.
O projeto Heliópolis envolve corações e sentimentos da mais destilada generosidade. Há o maestro Silvio Baccarelli, que criou um conservatório para os adolescentes da comunidade.
Há o maestro Roberto Tibiriçá, regente titular. E há sobretudo o empenho dos músicos e de suas histórias individuais, que o documentário apresenta sem cair na tentação da folclorização da pobreza.
O adolescente de classe média faz sacrifícios para estudar um instrumento e se apresentar num conjunto sinfônico.
Em Heliópolis esse sacrifício é bem maior, somado à disciplina e ao entusiasmo para que a orquestra jovem atinja seu reconhecido e belo padrão. Por fim, como recado subjacente, o documentário atropela o mito de que a música clássica é uma manifestação cultural só das elites. Ainda bem.