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"House" inspira livro sobre medicina
Jornalista norte-americano Andrew Holtz dá noções de diagnóstico e tratamento a partir de casos mostrados no seriado
Para autor da obra, a série só destoa da realidade
"na impressão de como um hospital funciona
nos Estados Unidos"
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
O gênio ruim e a língua ferina
do protagonista são os carros-chefes da série de TV "House",
não resta dúvida. Mas ninguém
negará que a seleção de casos
médicos bizarros apresentados
episódio após episódio também
atrai lá sua cota de hipocondríacos, sádicos e mesmo espectadores mais ortodoxos.
Algumas das ocorrências
mais incomuns da ficção serviram de deixa para o jornalista
norte-americano Andrew
Holtz, 51, fazer um bê-á-bá da
medicina "de verdade" no livro
"A Ciência Médica de House",
que acaba de ganhar uma edição nacional.
A partir de histórias que intrigam a equipe do hospital-cenário Princeton-Plainsboro
-como a do homem que se mete a soltar frases sem sentido ou
a da grávida que jura não ter tido relações sexuais nos 12 meses anteriores-, o autor detalha os fatores que influenciam
diagnósticos reais, os ruídos de
comunicação recorrentes na
relação paciente-médico e os
exames mais encomendados
pela turma de jaleco branco.
Em entrevista por telefone à
Folha, de Portland, Holtz conta que pensou originalmente
no livro como um "serviço para
os milhões de fãs da série nos
EUA e no exterior", grupo em
que ele até então não se incluía.
"Como cubro saúde há mais
de 20 anos, às vezes acho difícil
assistir a programas médicos
de ficção, porque sei que diferem muito da realidade que vejo quando escrevo minhas matérias sobre hospitais", afirma.
"Ocorre que, em conversas
com várias pessoas, ficou claro
para mim que havia muitas indagações a respeito do quão
realista a medicina mostrada
em "House" era."
O "diagnóstico", depois de
seis meses de pesquisa (em que
ouviu especialistas, consultou
publicações e assistiu a uma
penca de episódios da série), o
surpreendeu.
"Há sempre algum grau de
realidade nas tramas. Mais até
do que eu esperava. Quando [os
personagens] falam de uma
doença, aquilo existe, já foi registrado em algum lugar, ainda
que seja raríssimo. [A sucessão
de quadros clínicos incomuns]
Certamente não reflete a rotina
diária de um hospital, mas nem
é essa a idéia."
Sem exclusividade
Holtz diz que, a título de "reforço dramático", o que os roteiristas de "House" fazem é
concentrar em um só personagem sintomas observados em
vários pacientes "de verdade".
Para o jornalista, o único aspecto em que a série de fato se
descola da realidade é "na impressão de como um hospital
funciona nos EUA":
"Você nunca acharia uma
equipe de médicos como a da
série, em que um grupo se dedica exclusivamente a uma pessoa por dias a fio. E alguém em
estado grave, ao longo de sua
internação, não é tratado por
menos de 15, 20 pessoas diferentes. Mas, na televisão, o público se distrairia com facilidade se houvesse mais de uma dúzia de personagens".
Mais do que liberdades poéticas aqui ou ali, o que incomoda alguns médicos entrevistados pelo jornalista é a "tolerância zero" de House com seus
pacientes.
"Mas, no fundo, todos sabem
que, no mundo real, ele não duraria muito: seria demitido do
hospital e possivelmente enfrentaria processos judiciais
por submeter pacientes a certos procedimentos sem autorização prévia", contemporiza.
A CIÊNCIA MÉDICA DE HOUSE
Autor: Andrew Holtz
Editora: Best Seller
Quanto: R$ 29,90 (288 págs.)
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