São Paulo, domingo, 23 de março de 2008

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"House" inspira livro sobre medicina

Jornalista norte-americano Andrew Holtz dá noções de diagnóstico e tratamento a partir de casos mostrados no seriado

Para autor da obra, a série só destoa da realidade "na impressão de como um hospital funciona nos Estados Unidos"

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O gênio ruim e a língua ferina do protagonista são os carros-chefes da série de TV "House", não resta dúvida. Mas ninguém negará que a seleção de casos médicos bizarros apresentados episódio após episódio também atrai lá sua cota de hipocondríacos, sádicos e mesmo espectadores mais ortodoxos.
Algumas das ocorrências mais incomuns da ficção serviram de deixa para o jornalista norte-americano Andrew Holtz, 51, fazer um bê-á-bá da medicina "de verdade" no livro "A Ciência Médica de House", que acaba de ganhar uma edição nacional.
A partir de histórias que intrigam a equipe do hospital-cenário Princeton-Plainsboro -como a do homem que se mete a soltar frases sem sentido ou a da grávida que jura não ter tido relações sexuais nos 12 meses anteriores-, o autor detalha os fatores que influenciam diagnósticos reais, os ruídos de comunicação recorrentes na relação paciente-médico e os exames mais encomendados pela turma de jaleco branco.
Em entrevista por telefone à Folha, de Portland, Holtz conta que pensou originalmente no livro como um "serviço para os milhões de fãs da série nos EUA e no exterior", grupo em que ele até então não se incluía.
"Como cubro saúde há mais de 20 anos, às vezes acho difícil assistir a programas médicos de ficção, porque sei que diferem muito da realidade que vejo quando escrevo minhas matérias sobre hospitais", afirma. "Ocorre que, em conversas com várias pessoas, ficou claro para mim que havia muitas indagações a respeito do quão realista a medicina mostrada em "House" era."
O "diagnóstico", depois de seis meses de pesquisa (em que ouviu especialistas, consultou publicações e assistiu a uma penca de episódios da série), o surpreendeu.
"Há sempre algum grau de realidade nas tramas. Mais até do que eu esperava. Quando [os personagens] falam de uma doença, aquilo existe, já foi registrado em algum lugar, ainda que seja raríssimo. [A sucessão de quadros clínicos incomuns] Certamente não reflete a rotina diária de um hospital, mas nem é essa a idéia."

Sem exclusividade
Holtz diz que, a título de "reforço dramático", o que os roteiristas de "House" fazem é concentrar em um só personagem sintomas observados em vários pacientes "de verdade".
Para o jornalista, o único aspecto em que a série de fato se descola da realidade é "na impressão de como um hospital funciona nos EUA": "Você nunca acharia uma equipe de médicos como a da série, em que um grupo se dedica exclusivamente a uma pessoa por dias a fio. E alguém em estado grave, ao longo de sua internação, não é tratado por menos de 15, 20 pessoas diferentes. Mas, na televisão, o público se distrairia com facilidade se houvesse mais de uma dúzia de personagens".
Mais do que liberdades poéticas aqui ou ali, o que incomoda alguns médicos entrevistados pelo jornalista é a "tolerância zero" de House com seus pacientes. "Mas, no fundo, todos sabem que, no mundo real, ele não duraria muito: seria demitido do hospital e possivelmente enfrentaria processos judiciais por submeter pacientes a certos procedimentos sem autorização prévia", contemporiza.


A CIÊNCIA MÉDICA DE HOUSE
Autor:
Andrew Holtz
Editora: Best Seller
Quanto: R$ 29,90 (288 págs.)


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