Mark Evanier e Sergio Aragonés seguem os passos do criador de Spirit; "é intimidante", diz roteirista

PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Como manter o nível de uma obra-prima? Deve-se seguir o original com maior fidelidade possível ou reinterpretá-lo? Essa é a dúvida que recai sobre quem cria novas aventuras de Spirit, o mais famoso personagem criado pelo quadrinista Will Eisner (1917-2005). E é a que recaiu sobre a dupla Mark Evanier e Sergio Aragonés, responsável pelos roteiros da história em quadrinhos "The Spirit - As Novas Aventuras", recentemente lançada no Brasil.
"Escrever um personagem como o Spirit é intimidante", resume Mark Evanier. "Nós seguimos os grandes passos de Will Eisner, tentando fazer o tipo de personagem que ele criou", completa.
Eisner lançou o Spirit em 1940. mas, diferentemente da maioria de seus colegas super-heróis, Denny Colt não tinha superpoderes. Virava-se apenas com sua astúcia e suas habilidades como lutador. Suas histórias eram sombrias e misteriosas, mas bem-humoradas: envolviam belas vilãs, mistérios e investigações.
Sergio Aragonés apareceu décadas depois de Spirit e ficou famoso como colaborador da revista de humor "Mad" por seu traço caricatural e divertido. A parceria com Evanier surgiu em 1981 com o personagem Groo, o Errante, uma espécie de bárbaro trapalhão que estrelava cômicas aventuras. Juntos, Aragonés e Evanier criaram muitas séries e paródias, sempre bem-humoradas.
"The Spirit - As Novas Aventuras", apesar de ser uma HQ escrita pela dupla Aragonés e Evanier, difere do humor escrachado e cartunesco de suas obras anteriores. "Sergio estava intrigado com o lado detetive do personagem", conta Evanier. "E foi o que fizemos."
Evanier optou por tentar ambientar suas histórias o mais próximo possível das criadas por Eisner: "O Spirit não é o Spirit se ele não lembrar o personagem que todo mundo conhece há anos".
Outra recriação do personagem, agora para o cinema, também pode ser acompanhada no Brasil: o longa-metragem "The Spirit, o Filme", primeira incursão individual do quadrinista Frank Miller como diretor, que estreou na última sexta.
No filme de Miller, o personagem aparece com notáveis diferenças em relação à sua versão original. Evanier, entretanto, não quis comentar o longa, esquivando-se com um comentário sobre a sua relação com o autor. "Não tive oportunidade de assistir, mas Frank é um velho amigo e gosto de tudo o que ele fez."