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Tendências de moda são invenção, diz Jacobs
Estilista, também diretor da Louis Vuitton, inaugura loja de sua grife em SP
Designer critica cobertura dos desfiles pela mídia e afirma que crise econômica tornará consumidores de roupas "mais discretos"
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE MODA
CAMILA YAHN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Considerado um dos principais nomes da moda, o estilista
americano Marc Jacobs, 45, esteve em São Paulo no final de
semana para conhecer a primeira loja de sua marca aberta
no país, bancada em sociedade
com a empresária Natalie
Klein. O negócio espera arrecadar R$ 7 milhões em 2009, apesar da crise econômica.
A loja de dois pisos e cerca de
400 m2, na rua Haddock Lobo,
nos Jardins, fica exatamente
em frente à Louis Vuitton, grife
da qual o estilista é também diretor de criação. "É uma coincidência enorme", disse.
Em entrevista à Folha, feita
na nova loja, o estilista afirmou
que a crise deve tornar os consumidores "mais discretos" e
que não acredita em tendências de moda. "Tendências são
uma invenção da mídia", declarou Jacobs. Leia a seguir trechos da entrevista.
FOLHA - Você acredita em tendências de moda?
MARC JACOBS - Tendências são
uma invenção da mídia. É um
modo antigo de se aproximar
da moda, uma generalização
sobretudo que está acontecendo, um jeito de prender a multiplicidade dos acontecimentos
dentro de um esquema. Os estilistas podem mudar a maneira
como mostram a moda, as pessoas podem mudar o jeito de
vestir moda, mas sempre se escreve falando de tendências.
Acho que as pessoas têm de
ser mais responsáveis ao escreverem sobre moda. Elas precisam olhar para moda de rua,
para a roupa cara, para a roupa
barata e até para as pessoas que
não estão na moda e não sabem
nada a respeito dela.
FOLHA - O que mudou na moda
desde que você começou?
JACOBS - Hoje, as pessoas estão
muito mais ligadas em moda,
no design contemporâneo, e
têm fome de novidades. Quando comecei, não havia o mesmo
tipo de atitude. As lojas de departamento dos EUA compravam pouco os novos designers.
FOLHA - Você disse certa vez que,
no início de sua carreira, a "religião
da moda" era toda a sua vida e não
se preocupava com outras coisas,
como música e arte. Qual a importância das outras atividades culturais para você, agora?
JACOBS - São muito importantes. Busco ver tudo o que posso,
exposições, filmes, concertos
de rock e óperas. Quanto mais
vejo, mais me sinto inspirado.
Você precisa se alimentar de
outras vozes criativas para poder criar. É uma armadilha ficar apenas no mundo da moda.
A arte de viver não é constituída apenas de roupas, mas também de bons filmes, boa literatura e boa música.
FOLHA - Você acha que a moda vai
mudar muito com a atual crise econômica?
JACOBS - Não sei. As pessoas
continuarão gostando de moda
e comprando as roupas. Os estilistas continuarão tentando
criar o que é novo e bonito. Talvez os consumidores estabeleçam novas prioridades, sejam
mais discretos em seus gastos...
Mas tudo ainda é especulação.
FOLHA - O que o futuro reserva ao
mercado de luxo?
JACOBS - Não sei. Mas é uma
ideia muito velha achar que alta
moda significa altos preços e
que os estilistas têm de se manter num patamar elitista. Certamente, há aspectos do luxo
que dizem respeito à qualidade
do material, da mão-de-obra
especializada, de coisas muito
custosas. Mas a moda, ela mesma, não tem a ver necessariamente com o que é caro, e sim
com a curiosidade das pessoas,
com o modo criativo de cada
um se vestir.
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