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CRUZEIRO DO NORDESTE
Sucesso do filme levou benefícios ao local
Povoado teme cair no esquecimento
FÁBIO GUIBU
da Agência Folha em Cruzeiro do Nordeste
Os moradores de Cruzeiro do
Nordeste, povoado do sertão
pernambucano que foi cenário
de "Central do Brasil", temem
que a derrota do filme na disputa do Oscar leve o vilarejo de
volta ao esquecimento.
A comunidade não tem água
encanada, hospital, creche e
posto policial. As poucas obras
inauguradas só foram realizadas após o sucesso do filme.
Em um ano, o povoado foi beneficiado com o calçamento de
cem metros da rua principal, a
construção de um dessalinizador de água e a instalação de
um posto dos Correios.
"Acho que agora a festa vai
acabar", disse a lavradora Quitéria Alves Feitosa, 49. "Sem a
fama, quem vai querer colocar
água aqui?", pergunta.
Feitosa, que trabalhou como
figurante no filme, chorou ao
ver Jack Nicholson anunciar
Gwyneth Paltrow -concorrente de Fernanda Montenegro- como melhor atriz.
A seu lado, o comerciante
Elias Pereira de Siqueira, 45,
disse temer que a derrota leve
Cruzeiro do Nordeste a se
transformar "em uma Bom Jesus do Norte de verdade", em
referência à miserável cidade
criada por Walter Salles.
A frustração antecipou o fim
da festa. Às 2h, só a sujeira nas
ruas lembrava os eventos realizados no dia. Apenas 65 pessoas -no início eram quase
500- acompanhavam naquele
momento a solenidade.
À meia-noite, quando Sophia
Loren anunciou a vitória de "A
Vida é Bela", metade do público já havia ido embora.
Quem ficou, vibrou até a hora
em que Fernanda Montenegro
foi apresentada como uma das
concorrentes. Depois, só houve
choro e silêncio.
"A gente chora porque no
fundo tinha esperança", disse a
atriz e professora Wanderlucy
Bezerra da Silva, que figurou
no filme.
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