São Paulo, terça-feira, 23 de abril de 2002

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Sexo, sujeira & rock'n'roll


Textículos de Mary vêm para "sujar" a cena nacional com sangue gay, agressividade e punk rock

Disco de estréia do grupo pernambucano, "Cheque Girls", foi lançado no festival Abril pro Rock



PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Basta de coelhinho peludo, oncinha pintada, bonequinho do Supla. A nova geração do rock brasileiro já tem cara e voz, e seu nome é Textículos de Mary.
Formada em 1998, em Recife (PE), a banda vem dar um safanão também na geração mangue beat, ao optar pelo punk rock cru, sujo e malvado e por discurso gay agressivo e não raro escatológico.
"Cheque Girls", o álbum de estréia, foi lançado oficialmente no fim de semana, durante o festival Abril pro Rock, pela gravadora independente Deckdisc.
Um dos carros-chefes da banda é a paródia punk ao hit infantil de Xuxa "She-Ra", adaptado para "porque sou bicha/ me apresenta pro He-Man/ seu irmãozinho é uma gracinha/ e eu sou todinha do bem".
No núcleo dos Textículos de Mary estão três artistas efetivamente gays, Fábio (o Chupeta), 29, Henrique (o Lollypop), 27, e Tony (o Silene Lapadinha), 30.
O grupo de apoio, chamado A Banda d'As Cachorra, é a facção dos "simpatizantes", com Lícia (Pixôta), Nado (Loiranegra), Adriano (Bambi), Rafael (Dúbia Keitesuelen), Carlinhos (Scarlet Cavalêra) e Caio (Kaiadroga).
Caracterizados como drag queens e/ou ETs, têm juntos atitude de palco explícita -Chupeta, por exemplo, costuma simular sexo anal com o microfone.
"Gays mesmo somos só nós três", explica Chupeta, por telefone, antes do show dos Textículos em Recife, na última sexta-feira. "Os outros são os contaminados. A banda tem gay, gordo, negro, índio, feio, mulher, judeu, todos de classe média baixa. Todo mundo é minoria, é a banda dos excluídos."
Mesclam realidade e fábula para explicar a origem do grupo, como narra Chupeta: "Tudo partiu de um travesti, Mary, que um dia foi espancado num banheiro sujo. Revoltado, tirou uma gilete da boca e cortou tudo fora".
Desse episódio, "surgiram os três travestis mutantes, os Textículos de Mary, que viraram os super-heróis da galera de marginalizados de Recife, sempre oprimida pelas batidas policiais no centro antigo da cidade".
Fantasioso, o relato tende à frase bem realista exposta na bandeja do CD: "O final é sempre certo para bicha feia e sem dinheiro -porrada". E o punk é o veículo.



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