|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEXTÍCULOS DE MARY
Estréia em CD independente é produzida por Rafael Ramos, primeiro a notar grupo revelado em 95
Descobridor dos Mamonas Assassinas "adota" banda
DA REPORTAGEM LOCAL
Se o mercado musical brasileiro
não tem encontrado alternativas
para ocupar o vácuo deixado por
axés e pagodes, soluções ainda
imprevisíveis aparecem em região intermediária entre a grande
indústria e o pop independente.
Indies por natureza, os Textículos de Mary caíram na simpatia
do jovem produtor Rafael Ramos,
mais conhecido como descobridor, em 95, da efêmera banda-fenômeno Mamonas Assassinas.
Seu pai, João Augusto, foi diretor artístico de grandes gravadoras e hoje leva em estrutura familiar o selo Deckdisc, que traz os
Textículos à tona mais de dois
anos após sua revelação, no festival recifense Rec Beat.
Distantes anos-luz do humor
apolítico dos Mamonas, dizem temer, sim, a possibilidade de virem
a repetir aquele fenômeno, agora
embalado por letras de sexo explícito ("eu quero ser tua cadela/ engatada no teu pau"), drogas ("Jennifer está por um triz/ toxicômana
inveterada") e política ("eu era
comunista/ de linha stalinista/
educada em colégio militar").
"Morro de medo de sermos assimilados, perderíamos nosso
teor de crítica. Mas acho que não
tem perigo, por causa do escracho", formula Chupeta, dizendo-se chocado com a empatia que a
banda costuma ter entre crianças
("é o fim do mundo, o apocalipse", brinca, autocrítico).
Talvez por tudo isso, a banda já
tem história traçada: "A banda
tem começo, meio e fim programados. Há rumores de que no final todos vão se operar e formar
uma "boys band" de lésbicas".
Aluno de história, Fábio "Chupeta" define a criação da banda
como uma "reportagem" e filosofa: "Fazer tratado de história para
falar da discriminação seria um
saco, ninguém ia ler. Pensamos a
banda como uma maneira de fazer esse discurso invadir a mídia".
Explica o porquê do discurso,
então: "A sexualidade sempre foi
escorraçada, mais ainda as variáveis que não seguem a norma.
Nossa linguagem é a agressão, a
gente é a bicha que reage. Assumimos todos os estigmas, a imagem
mais negativa, como se disséssemos: se você acha que a bicha que
tem dentro da sua casa é ruim, então vejam isso que somos".
Se saudosista, a volta ao rock como discurso musical é justificada:
"O rock'n'roll é a trilha perfeita
para a agressão". MPB? "Uergh!"
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Texto Anterior: Sexo, sujeira & rock'n'roll Próximo Texto: Disco/crítica: Pop gay para todo o mundo Índice
|