São Paulo, terça-feira, 23 de abril de 2002

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TEXTÍCULOS DE MARY

Estréia em CD independente é produzida por Rafael Ramos, primeiro a notar grupo revelado em 95

Descobridor dos Mamonas Assassinas "adota" banda

DA REPORTAGEM LOCAL

Se o mercado musical brasileiro não tem encontrado alternativas para ocupar o vácuo deixado por axés e pagodes, soluções ainda imprevisíveis aparecem em região intermediária entre a grande indústria e o pop independente.
Indies por natureza, os Textículos de Mary caíram na simpatia do jovem produtor Rafael Ramos, mais conhecido como descobridor, em 95, da efêmera banda-fenômeno Mamonas Assassinas.
Seu pai, João Augusto, foi diretor artístico de grandes gravadoras e hoje leva em estrutura familiar o selo Deckdisc, que traz os Textículos à tona mais de dois anos após sua revelação, no festival recifense Rec Beat.
Distantes anos-luz do humor apolítico dos Mamonas, dizem temer, sim, a possibilidade de virem a repetir aquele fenômeno, agora embalado por letras de sexo explícito ("eu quero ser tua cadela/ engatada no teu pau"), drogas ("Jennifer está por um triz/ toxicômana inveterada") e política ("eu era comunista/ de linha stalinista/ educada em colégio militar").
"Morro de medo de sermos assimilados, perderíamos nosso teor de crítica. Mas acho que não tem perigo, por causa do escracho", formula Chupeta, dizendo-se chocado com a empatia que a banda costuma ter entre crianças ("é o fim do mundo, o apocalipse", brinca, autocrítico).
Talvez por tudo isso, a banda já tem história traçada: "A banda tem começo, meio e fim programados. Há rumores de que no final todos vão se operar e formar uma "boys band" de lésbicas".
Aluno de história, Fábio "Chupeta" define a criação da banda como uma "reportagem" e filosofa: "Fazer tratado de história para falar da discriminação seria um saco, ninguém ia ler. Pensamos a banda como uma maneira de fazer esse discurso invadir a mídia".
Explica o porquê do discurso, então: "A sexualidade sempre foi escorraçada, mais ainda as variáveis que não seguem a norma. Nossa linguagem é a agressão, a gente é a bicha que reage. Assumimos todos os estigmas, a imagem mais negativa, como se disséssemos: se você acha que a bicha que tem dentro da sua casa é ruim, então vejam isso que somos".
Se saudosista, a volta ao rock como discurso musical é justificada: "O rock'n'roll é a trilha perfeita para a agressão". MPB? "Uergh!"
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


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