São Paulo, terça-feira, 23 de abril de 2002

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TELEVISÃO

Emissora de teste criada também para pressionar o governo deve ter sede na Cultura; Câmara debate assunto hoje

Redes temem que eleição barre TV digital

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

As emissoras brasileiras já têm um consenso sobre a definição de qual padrão de TV digital o país adotará: será uma decisão política, tomada pelo governo federal. Com essa conclusão, as grandes preocupações agora são: 1) Fernando Henrique Cardoso pode querer deixar esse legado ou, temendo uma escolha errada, deixar para o próximo presidente da República. 2) Se FHC tomar a decisão, não haverá tempo hábil até as eleições para consolidá-la com novas leis, e o próximo governo pode tentar rever a escolha.
Há, na base das duas análises, o medo de que as eleições acabem atrasando a definição do sistema digital -primeiro passo para que se inicie a transição para a chamada TV do futuro. As redes temem prejuízo ou, pelo menos, atraso nos lucros, já que esse é um negócio que deve movimentar no Brasil algo em torno de US$ 100 bilhões nos próximos dez anos.
Mesmo rompidas politicamente desde fevereiro deste ano, as redes de TV aberta ensaiam se unir em torno de um projeto de emissora digital piloto (de testes).
O projeto foi anunciado na semana passada por Fernando Bittencourt, diretor de engenharia da Rede Globo e membro do grupo Abert/Set (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV e Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão).
A idéia enfrenta resistência das concorrentes da Globo. Record e, principalmente, SBT e Bandeirantes temem que a emissora-teste tenha um caráter pouco técnico e que carregue interesses políticos da Globo. Para tentar dar ao projeto um caráter de neutralidade, os criadores, ligados à SET, estão negociando sediar a emissora na TV Cultura, em São Paulo. A emissora é pública e majoritariamente mantida pelo governo do Estado (veja quadro ao lado).
"Nosso objetivo é testar tecnicamente os três padrões e criar um laboratório para programação digital, com participação de universidades, empresas", diz Olímpio José Franco, presidente da SET e um dos idealizadores do projeto.
A Universidade Mackenzie, segundo ele, já negocia entrar no acordo da emissora piloto.

Audiência
A questão da TV digital começa a esquentar também em Brasília. Está marcada para amanhã uma audiência pública na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara. Foram convidados três ministros: Juarez Quadros (Comunicações), Sergio Amaral (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), Celso Lafer (Relações Exteriores). A presença ainda não está confirmada, mas seria a primeira vez que os três ministérios estariam reunidos em audiência pública para tratar do assunto.
Além dos três ministros, outros nomes da lista de convidados mostram que a Câmara pretende jogar os holofotes na questão. Espera-se também a participação de Antônio Carlos Valente, presidente-interino da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), Paulo Machado Carvalho Neto, presidente da Abert, João Carlos Saad, presidente da Bandeirantes e representante da Unert (União Nacional das Emissoras de Rádio e Televisão), Roberto Wagner Monteiro, presidente da Abratel (Associação Brasileira de Televisão), Paulo Saab, presidente da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos) e José Augusto Pinto Moreira, presidente da ABTA (Associação Brasileira de Televisão por Assinatura).



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