São Paulo, quinta-feira, 23 de maio de 2002

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LIVROS/LANÇAMENTOS

Gol de letra

Divulgação
Fotografia do livro "Visão de Jogo", da editora Cosac & Naify, que também lança "O Trauma da Bola", com as impressões de João Saldanha na Copa de 82, na Espanha



Copa faz editoras lançarem cinco vezes mais obras sobre futebol que em 2001; Drummond é a surpresa


IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um uísque ou uma cerveja. Para acompanhar, um sanduíche de presunto, queijo e tomate. Está tudo pronto para Carlos Drummond de Andrade torcer em mais uma partida da Copa.
Torcedor do Vasco e do Cruzeiro, Drummond não estava nem aí para seus times. Mas, quando chegava a Copa do Mundo, como tantos outros, lá ia o poeta para a frente da TV, com os refrigérios e quitutes preparados por dona Dolores, sua mulher.
Se a seleção começasse a perder, Drummond se levantava e ia remexer em seus papéis. Voltava de vez em quando e espiava, da porta. Só sentava de novo quando o Brasil empatava. Depois escrevia.
O que ele escrevia pode ser conferido agora, no livro "Quando É Dia de Futebol". São impressões sobre o esporte, derrotas, vitórias e, principalmente, sobre as Copas do Mundo. Com lançamento marcado para hoje no Rio de Janeiro, o livro é a grande novidade entre dezenas às vésperas do Mundial de 2002. O lançamento é na Casa França Brasil (r. Visconde de Itaboraí, 78), com leitura de textos a partir das 18h30.
Organizado por seus netos Pedro Augusto e Luis Mauricio Graña Drummond, e prefaciado por Pelé, a coletânea traz crônicas, poemas e trechos de correspondências familiares. Grande parte dos textos foi publicada em jornais, mas permanecia inédita em livro. Confira algumas das impressões de Drummond:

Antes da vitória na Copa de 62: "Copa do Mundo,/ vais te tornando taça de amarguras./ Sairão do fel as seleções futuras?".

Após a derrota na Copa de 66: "Não há nada mais triste que o papel picado, no asfalto, depois de um jogo perdido. São esperanças picadas".

Antes da vitória na Copa de 70: "Ou ganhamos no México ou não sei o que será de nós, de nossos negócios particulares e até da segurança nacional. Sim, da segurança".

Após a derrota na Copa de 82: "E agora, amigos torcedores, que tal a gente começar a trabalhar, que o ano já está na metade?".

Trauma de Copa
Além de Drummond, há lançamentos de todos os tipos, desde ficções infanto-juvenis até estudos sociológicos sobre o país do futebol. Três lançamentos apostam no humor para cativar os leitores de arquibancada. A maior parte, entretanto, trata de história e histórias das Copas do Mundo (veja quadro nesta página).
Em "O Trauma da Bola - A Copa de 82", o jornalista João Saldanha, morto em 1990, descreve, dia a dia, o cotidiano da seleção brasileira e dos jogos na Espanha. Trata-se de uma coletânea dos textos que Saldanha mandava para sua coluna no "Jornal do Brasil".
Para quem ainda não superou esse trauma, o de 82, o livro pode ajudar. Ali, Saldanha aponta diversos problemas na preparação da equipe e não admite a superioridade da Itália, que acabou vencendo o Brasil por 3 a 2.
"Visão de Jogo - Primórdios do Futebol no Brasil", de José Moraes dos Santos Neto, prova que, ao contrário do que se pensa, existia futebol no país antes da vinda do britânico Charles Miller. "Banho de Bola", de Roberto Assaf, explica como os técnicos montaram times que revolucionaram o futebol mundial.
"O Livro de Ouro do Futebol", de Celso Unzelte, é uma espécie de almanaque com a história do futebol e das Copas. Já o "Guia da Copa 2002" traz tabelas, uniformes e perfis de jogadores.
Na ficção, marcam presença os 14 contos de Cláudio Lovato, autor estreante com "Na Marca do Pênalti", e o terceiro volume da coleção Camisa 13, desta vez com Mário Prata contando a história do Palmeiras enquanto descreve as agruras de um casal apaixonado (ela torce para o time errado).

Vamos faturar
Como em todo ano de Copa do Mundo, a avalanche de lançamentos de livros sobre futebol é mais do que esperada. Entre as 18 editoras consultadas pela Folha que estão lançados obras futebolísticas às vésperas da Copa, 14 não lançaram título nenhum sobre o esporte no ano de 2001.
São 20 livros chegando agora às lojas de todo o país, cinco vezes mais que no ano passado, quando o número não passou de quatro.
A DBA é um caso à parte: pretende lançar outros dez títulos este ano, todos da coleção Camisa 13, e manter um catálogo com 25 obras sobre futebol.


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