São Paulo, quinta-feira, 23 de maio de 2002

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QUADRINHOS

Via Lettera lança coletânea de HQs sobre o esporte feitas por artistas como Galhardo, Fabio Zimbres e Maringoni

Futebol ganha visão a partir do banco de reservas

DIEGO ASSIS
DA REDAÇÃO

Futebol-arte. Em tempos de Felipão e de descrença quase total na seleção que enfrentará a Turquia no primeiro jogo da Copa do Mundo na Coréia do Sul, são poucos os que usam tal termo para classificar o futebol de um Kaká, de um Vampeta ou até mesmo de um (ou dois?) Ronaldinho.
Mas o lançamento da coletânea de HQs e ilustrações "Dez na Área, Um na Banheira e Ninguém no Gol" mostra que a união entre a plástica e o esporte preferido de nove entre dez brasileiros felizmente ainda é possível. "É estranho que no "país do futebol" tenhamos tão poucos artistas que se proponham a falar sobre o esporte", opina Orlando Pedroso, 43, técnico, digo, organizador do livro. "Nos quadrinhos não é diferente: a maioria dos artistas são uns pernas-de-pau ou mal revelam o time para que torcem."
Contadas por "magrelos de óculos" ou por "perebas", algumas das histórias demonstram um tom confessional, patético, sob o ponto de vista de eternos reservas como Maringoni e o gaúcho Allan Sieber. "Nunca consegui achar graça naquelas modorrentas tardes de domingo em que a TV transmitia mais um clássico do Noroeste, de Bauru, contra o XV de Piracicaba", escreve o primeiro em "Tudo o que É Redondo me É Estranho".
"Acho que duas ou três vezes meu pai tentou jogar bola comigo. Mas era uma coisa feia de ver, tanto ele como eu não sabíamos lidar com aquele objeto alienígena", desabafa Sieber em "Maldita Gorduchinha".
Mas não é só de bicudos e de caneladas que é composto "Dez na Área...". O sonho em vestir a camisa 10, o craque e o seu inexorável destino -o gol- e a paixão que ultrapassa até os muros de um presídio de segurança máxima são os motes das histórias de Samuel Casals, dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá e do cartunista mineiro Lelis, "um ex-peladeiro de carteirinha", como o próprio se define.
A nostalgia pelas seleções campeãs de 1958, de 1962 e de 1970 bem como os fiascos de 1982 e de 1994 tomam emprestadas as 11 páginas ilustradas por Osvaldo Pavanelli e Emílio Damiani. "Verdadeira pintura", como gostam de alardear os narradores e cronistas do esporte.
E, por falar em futebol-arte, o assunto migra para a filosofia na verborragia densa de Fabio Zimbres: "É importante notar que a chamada "ética malandra" está na raiz da própria identidade do futebol brasileiro e não pode ser responsabilizada isoladamente pela derrocada brasileira. A situação é muito mais complexa do que uma simples dualidade entre talento e não-talento, como pretendem alguns autores da época, notadamente João Saldanha, que vocês já devem ter lido para o trabalho sobre futebol naïf, não é verdade?".


DEZ NA ÁREA, UM NA BANHEIRA E NINGUÉM NO GOL. Autores: Allan Sieber, Caco Galhardo, Custódio, Fábio Moon e Gabriel Bá, Fabio Zimbres, Lelis, Leonardo, Maringoni, Osvaldo Pavanelli e Emílio, Samuel Casals e Spacca. Organizador: Orlando Pedroso. Editora: Via Lettera. Quanto: R$ 38 (112 págs.).



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