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QUADRINHOS
Via Lettera lança coletânea de HQs sobre o esporte feitas por artistas como Galhardo, Fabio Zimbres e Maringoni
Futebol ganha visão a partir do banco de reservas
DIEGO ASSIS
DA REDAÇÃO
Futebol-arte. Em tempos de Felipão e de descrença quase total na
seleção que enfrentará a Turquia
no primeiro jogo da Copa do
Mundo na Coréia do Sul, são poucos os que usam tal termo para
classificar o futebol de um Kaká,
de um Vampeta ou até mesmo de
um (ou dois?) Ronaldinho.
Mas o lançamento da coletânea
de HQs e ilustrações "Dez na
Área, Um na Banheira e Ninguém
no Gol" mostra que a união entre
a plástica e o esporte preferido de
nove entre dez brasileiros felizmente ainda é possível. "É estranho que no "país do futebol" tenhamos tão poucos artistas que se
proponham a falar sobre o esporte", opina Orlando Pedroso, 43,
técnico, digo, organizador do livro. "Nos quadrinhos não é diferente: a maioria dos artistas são
uns pernas-de-pau ou mal revelam o time para que torcem."
Contadas por "magrelos de
óculos" ou por "perebas", algumas das histórias demonstram
um tom confessional, patético,
sob o ponto de vista de eternos reservas como Maringoni e o gaúcho Allan Sieber. "Nunca consegui achar graça naquelas modorrentas tardes de domingo em que
a TV transmitia mais um clássico
do Noroeste, de Bauru, contra o
XV de Piracicaba", escreve o primeiro em "Tudo o que É Redondo me É Estranho".
"Acho que duas ou três vezes
meu pai tentou jogar bola comigo. Mas era uma coisa feia de ver,
tanto ele como eu não sabíamos
lidar com aquele objeto alienígena", desabafa Sieber em "Maldita
Gorduchinha".
Mas não é só de bicudos e de caneladas que é composto "Dez na
Área...". O sonho em vestir a camisa 10, o craque e o seu inexorável destino -o gol- e a paixão
que ultrapassa até os muros de
um presídio de segurança máxima são os motes das histórias de
Samuel Casals, dos gêmeos Fábio
Moon e Gabriel Bá e do cartunista
mineiro Lelis, "um ex-peladeiro
de carteirinha", como o próprio
se define.
A nostalgia pelas seleções campeãs de 1958, de 1962 e de 1970
bem como os fiascos de 1982 e de
1994 tomam emprestadas as 11
páginas ilustradas por Osvaldo
Pavanelli e Emílio Damiani. "Verdadeira pintura", como gostam
de alardear os narradores e cronistas do esporte.
E, por falar em futebol-arte, o
assunto migra para a filosofia na
verborragia densa de Fabio Zimbres: "É importante notar que a
chamada "ética malandra" está na
raiz da própria identidade do futebol brasileiro e não pode ser responsabilizada isoladamente pela
derrocada brasileira. A situação é
muito mais complexa do que uma
simples dualidade entre talento e
não-talento, como pretendem alguns autores da época, notadamente João Saldanha, que vocês já
devem ter lido para o trabalho sobre futebol naïf, não é verdade?".
DEZ NA ÁREA, UM NA BANHEIRA E
NINGUÉM NO GOL. Autores: Allan
Sieber, Caco Galhardo, Custódio, Fábio
Moon e Gabriel Bá, Fabio Zimbres, Lelis,
Leonardo, Maringoni, Osvaldo Pavanelli
e Emílio, Samuel Casals e Spacca.
Organizador: Orlando Pedroso. Editora:
Via Lettera. Quanto: R$ 38 (112 págs.).
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