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MÚSICA
A cantora alemã radicada nos EUA se apresenta nesta quarta em Porto Alegre com repertório consagrado e político
Ute Lemper traz ao país ecos de Weimar
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Cantora, bailarina e atriz, a alemã Ute Lemper, 41, é uma defensora da tradição das artistas de cabaré da liberal República de Weimar (1919-1933), apesar de viver
na conservadora terra de George
W. Bush. "Não me identifico com
os EUA, estou aqui pois Nova
York tem uma vivacidade que
não encontro nas cidades européias", disse Lemper à Folha.
Às vésperas de lançar um novo
disco, "Ute Lemper at Cafe Carlyle", e grávida do terceiro filho, a
artista faz um show no Brasil, depois de amanhã, na capital gaúcha, no lançamento da programação do 12º Porto Alegre em Cena.
Lemper cancelou uma performance em São Paulo, no dia 1º de
junho, já que "não teve dinheiro",
como contou. Pena, pois suas
apresentações no Cultura Artística, em 2001, foram inesquecíveis.
A artista, que já trabalhou com
um amplo escopo de grandes
criadores, da coreógrafa Pina
Bausch ao cineasta Peter Greenaway, prepara para o próximo ano
um disco de composições só suas.
A vida nos EUA, seus novos discos e o show em Porto Alegre foram temas da entrevista concedida, na última sexta, por telefone,
de sua residência em Nova York.
Folha - Por que só uma apresentação no Brasil?
Ute Lemper - Na verdade seriam
duas, uma também em São Paulo,
após Buenos Aires, mas por falta
de dinheiro não foi possível realizar minha segunda ida a SP.
Folha - Você está lançando um
novo disco, em junho, não é?
Lemper - Sim, serão um CD e um
DVD a partir de um show no Cafe
Carlyle [em Nova York]. Há 15
anos não lanço um disco ao vivo...
Folha - Será lançado no Brasil?
Lemper - Espero que sim, especialmente o DVD, pois, como é
show ao vivo, isso o torna muito
mais divertido, é a ação real.
Folha - O show que você irá apresentar em Porto Alegre contém
músicas desse novo álbum?
Lemper - Não, no Brasil haverá
maior variedade, com um repertório de canções francesas consagradas por Edith Piaf e Jacques
Brel, algumas músicas também
bastante políticas da tradição hebraico-árabe, além de Kurt Weill
e Bertolt Brecht e até algumas
compostas por mim, o que não
está no meu novo álbum, mas
num outro que estou produzindo.
Folha - Seu repertório está vinculado à República de Weimar, com
canções sarcásticas e políticas de
uma era de liberdade. Como você
consegue viver nos EUA, numa onda tão conservadora?
Lemper - Eu vivo em Nova York,
que é um lugar muito livre, o que
não ocorre no resto da América.
Aqui é um grande caldeirão cultural, onde ocorre de tudo, há europeus por todo lado, é uma cidade
muito liberal, vibrante, com uma
grande comunidade gay, e tudo
isso eu não vejo em cidades européias como Paris, Londres ou Berlim. Mas quem criar coragem e
sair duas horas daqui, aí sim, é
possível ver o conservadorismo.
Folha - Depois do 11 de Setembro
a cidade não mudou?
Lemper - Bom, claro, as pessoas
ficaram mais neuróticas e com
mais medo do que pode acontecer, foi a primeira vez que os americanos se sentiram inseguros, o
que era comum na Alemanha,
onde cresci, ou em Paris, onde
sempre há bombas no metrô. Mas
esse pânico também cresceu por
conta da mídia, Nova York passou a ser como um "reality show".
Folha - E o show no Carlyle, que
será lançado, tem alguma relação
com essa situação, já que é um álbum sobre Nova York?
Lemper - Na verdade, não. É um
programa variado, sobre canções
que aqui surgiram, há toda uma
seção sobre músicas que têm a lua
como tema, por exemplo, "Grapefruit Moon", de Tom Waits,
além de músicas de Fred Ebb, que
morreu no ano passado e era um
nova-iorquino famoso por ter
composto canções de musicais
como "Cabaret" e "Chicago".
Folha - Artistas que dançam, cantam e atuam, como você faz em
seus shows, se tornaram raros.
Lemper - A tradição européia de
cabaré, que eu sigo, com a sátira
política que nasceu na República
de Weimar, de fato não é comum
por aqui, onde é mais usual é a
"stand-up comedy", muito ligada
ao presente. Minha tradição é
mais ampla, musical, dirigida à
humanidade, gente que é diferente. Já hoje, na Europa, tudo também está mais americanizado, ligado à cultura popular.
Folha - E essas músicas que você
canta, várias criadas há quase um
século, lhe parecem vanguarda
nesse contexto conservador?
Lemper - Sim, certas músicas são
muito engraçadas, e os temas são
sobre limites, emancipação de homossexuais, corrupção, guerra,
músicas que tratam de questões
contemporâneas.
Folha - O diretor Lars von Trier
disse que é 60% americano e tem
medo dessa parte. Você consegue
dizer sua porcentagem americana
e qual sua relação com ela?
Lemper - Não me sinto americana, não me identifico com nada
nos EUA. A única coisa com a
qual me identifico aqui é que esse
lugar é um caldeirão cultural, e
disso eu gosto.
Ute Lemper
Quando: na quarta, às 21h
Onde: teatro São Pedro (pça. Mal.
Deodoro, s/nº, Porto Alegre, tel. 0/xx/
51/3227-5542)
Quanto: de R$ 10 a R$ 50
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