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Cannes ama Tarantino
Diretor norte-americano apresenta seu quinto
filme, "Prova de Morte",
e recebe tratamento de
ídolo na Riviera francesa
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A CANNES
Com seu quinto longa-metragem, "Prova de Morte", exibido na disputa pela Palma de
Ouro, o diretor americano
Quentin Tarantino voltou ontem, em grande estilo, ao berço
de sua fama no cinema.
Quando debutou no Festival
de Cannes -com "Cães de Aluguel" (1992)- e quando venceu
a Palma de Ouro -com o filme
seguinte, "Pulp Fiction"
(1994)-, era marca de Tarantino ser um liqüidificador de referências cinematográficas.
"Prova de Morte" sedimenta
o caminho que o diretor seguiu
desde então ("Jackie Brown" e
os dois volumes de "Kill Bill"),
transformando os filmes de
Quentin Tarantino no gênero
de um homem só.
Como os demais filmes do
autor, "Prova de Morte" é um
pastiche de seus estilos, filmes
e autores favoritos. E, como os
demais, tem uma notória marca pessoal na forma da mistura.
Com gestos amplos, fala rápida e abundante e sorriso freqüente, Tarantino disse ontem
em Cannes não acreditar num
cinema feito para fãs de um
único gênero de filmes.
"Não pretendo que meus filmes sejam melhores, mas quero que eles transcendam [os gêneros aos quais pertencem].
Tenho minha própria agenda."
Ele disse que o "ponto de partida" do novo filme foi a idéia de
homenagear o "slasher movie",
mas decidiu substituir a faca
que rasga os personagens nesse
tipo de filme pelo carro "à prova de morte" do título, que tem
a bordo o vilão Stuntman Mike
(Kurt Russel).
O modelo do carro só oferece
imunidade ao motorista, e Mike se serve disso para se divertir matando mulheres, à custa
de pé no acelerador e batidas,
muitas batidas. De novo, Tarantino faz um filme seu jorrar
sangue (tributo ao gênero "gore") e ainda aproveita para filmar uma alucinante perseguição de automóvel (ação pura).
"Prova de Morte" é a versão
alongada -para 2h07, contra
1h35 original- da metade que
Tarantino assina em "Grindhouse", já lançado nos EUA
-com retorno de público abaixo do previsto. A outra metade
é de Robert Rodriguez, que ficou fora de Cannes.
A escolha de repartir o filme
e trazer apenas a parte de Tarantino a Cannes foi defendida
pelo produtor Harvey Weinstein como "a decisão correta",
para atrair atenção internacional a um projeto que, nos EUA,
não saiu como o esperado.
A calorosa recepção que Tarantino teve em Cannes -com
um expressivo número de jornalistas agindo como tietes, em
busca de autógrafo e fotos- soa
como um acerto de Weinstein.
"Tomara que o filme de Rodriguez vá para o Festival de
Veneza, que está louco por ele",
disse o produtor.
Tarantino disse que "não é
100% correta" a idéia de que ele
inovou o gênero de filme B em
"Prova de Morte", ao lhe dar
um traço feminista, com as mulheres na conquista do poder.
Para o diretor, o fato de as
mulheres terem sido alijadas
da vaga de heroínas na era do
"exploitation" (60/70) diz respeito à história de Hollywood,
mas não é comum ao resto do
mundo do cinema.
Dupla face
"Prova de Morte", como
"Grindhouse", é um filme de
dupla face, interligado pela presença do vilão (Russel). No início, seu alvo é a DJ Jungle Julia
(Sydney Tamiia Poitier, filha
do ator Sidney Poitier) e a dupla de amigas com quem ela circula pela noite de Austin.
O jogo vira na segunda parte,
quando Mike vai ao encalço de
outro trio de garotas, agora no
Tennessee, onde elas estão na
folga das filmagens de um longa. Todas procuram se divertir
com um elevado grau de aventura, já que uma delas é a dublê
Zoe -de fato a profissional Zoe
Bell, dublê de Uma Thurman
em "Kill Bill".
O "papel" de Zoe não é o único aspecto em que "Prova de
Morte" brinca com a filmografia de Tarantino. O cineasta
lembrou que ser "auto-referente" é uma crítica que ouve sempre. "Desta vez decidi fazer um
pouco mais disso, porque estávamos nos divertindo."
Os diálogos extensos e afiados, outra particularidade dos
filmes de Tarantino, também
estão em "Prova de Morte" e giram (abertamente) em torno
das experiências sexuais das
garotas, comentadas entre elas.
Tarantino escreveu palavra
por palavra, e a atriz Tracie
Thoms disse ter ficado pensando: "Como ele sabe que a gente
conversa assim?".
Tarantino e seu filme têm a
torcida de parte da imprensa
pela Palma. A que ele ganhou é
"o maior orgulho" de sua carreira, diz. Mas, para ele, "só
existe uma coisa mais seleta do
que uma lista dos diretores que
têm a Palma de Ouro: a lista dos
que não têm".
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