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ERUDITO
Montagem é extravagante
Peça mineira decifra enigma de "Turandot"
JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE
Para manter sua castidade, a
princesa chinesa Turandot
terroriza seus pretendentes ao determinar que eles decifrem três
enigmas se quiserem casar com
ela. Como não conseguem, acabam morrendo decepados. A carnificina de príncipes estrangeiros
só acaba quando um deles, Calaf,
soluciona os enigmas e desperta
na princesa sentimentos de amor.
Tal é a história bastante simples
em torno da qual Giacomo Puccini (1858-1924) fez uma das óperas
musicalmente mais bonitas e
complexas do repertório italiano.
"Turandot" estreou no último sábado em Belo Horizonte, no
Grande Teatro do Palácio das Artes, em temporada de oito récitas,
a última delas no próximo dia 29.
É uma produção sedutora.
Combina as extravagâncias de figurinos e cenários -dentro da
ortodoxia visual chinesa, conforme a concepção original de Puccini- com uma direção musical
segura de um maestro jovem,
Marcelo Ramos, frente aos 76
músicos da Sinfônica de Minas
Gerais, que cresceram muito tecnicamente de um ano para cá.
A direção cênica é do veterano
Fernando Bicudo. Ele sabe criar
beleza com impacto, mesmo se
exagere de um modo quase vaudevillesco ao introduzir fogos de
artifício em dois momentos do
terceiro ato. Chega perto, mas não
cai no kitsch.
As duas óperas com temas
orientais de Puccini, "Madame
Butterfly" (1904) e "Turandot"
(estréia póstuma, em 1926), combinam intensa dinâmica musical
com a incrível morosidade da
ação. É um abacaxi constante que
o diretor precisa descascar.
Histrionice
Bicudo se sai bem ao movimentar de forma quase histriônica os
três ministros da casa imperial,
Pang, Pong e Ping (interpretado
pelo barítono Homero Velho, de
longe o melhor dos três). Mas sua
princesa Turandot é paradona, e
mesmo o personagem de Timur
(o baixo Stephen Bronk, excelente), rei deposto da Tartária e pai
de Calaf, poderia ter sua presença
cênica enriquecida se fosse cercada mais informações.
O papel título foi cantado na estréia pela veterana Leila Guimarães, dona de um belíssimo timbre. Mas foi o Calaf do tenor Marcelo Vanucci quem acabou roubando merecidamente a cena. É
uma voz ágil, bonita, volumosa e
afinadíssima em qualquer momento de sua extensão.
A produção do Palácio das Artes (custo de R$ 800 mil, e cinco
das récitas já vendidas antes da estréia) é também um produto não
comercial que Minas se dispõe a
ceder a outros teatros que queiram montá-lo. O espetáculo tem
fôlego de sobra para isso.
O jornalista João Batista Natali viajou a
convite da Fundação Clóvis Salgado, de
Minas Gerais
TURANDOT. Ópera de Puccini. Onde:
Grande Teatro do Palácio das Artes (av.
Afonso Pena, 1.537, Belo Horizonte, tel.
0/xx/31/3237-7399). Quando: dias 25,
26, 27 e 29/6. Quanto: de R$ 25 a R$ 80;
Inf. www.palaciodasartes.com.br.
Patrocínio: Petrobras.
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