São Paulo, quarta-feira, 23 de junho de 2004

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ERUDITO

Montagem é extravagante

Peça mineira decifra enigma de "Turandot"

JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE

Para manter sua castidade, a princesa chinesa Turandot terroriza seus pretendentes ao determinar que eles decifrem três enigmas se quiserem casar com ela. Como não conseguem, acabam morrendo decepados. A carnificina de príncipes estrangeiros só acaba quando um deles, Calaf, soluciona os enigmas e desperta na princesa sentimentos de amor.
Tal é a história bastante simples em torno da qual Giacomo Puccini (1858-1924) fez uma das óperas musicalmente mais bonitas e complexas do repertório italiano. "Turandot" estreou no último sábado em Belo Horizonte, no Grande Teatro do Palácio das Artes, em temporada de oito récitas, a última delas no próximo dia 29.
É uma produção sedutora. Combina as extravagâncias de figurinos e cenários -dentro da ortodoxia visual chinesa, conforme a concepção original de Puccini- com uma direção musical segura de um maestro jovem, Marcelo Ramos, frente aos 76 músicos da Sinfônica de Minas Gerais, que cresceram muito tecnicamente de um ano para cá.
A direção cênica é do veterano Fernando Bicudo. Ele sabe criar beleza com impacto, mesmo se exagere de um modo quase vaudevillesco ao introduzir fogos de artifício em dois momentos do terceiro ato. Chega perto, mas não cai no kitsch.
As duas óperas com temas orientais de Puccini, "Madame Butterfly" (1904) e "Turandot" (estréia póstuma, em 1926), combinam intensa dinâmica musical com a incrível morosidade da ação. É um abacaxi constante que o diretor precisa descascar.

Histrionice
Bicudo se sai bem ao movimentar de forma quase histriônica os três ministros da casa imperial, Pang, Pong e Ping (interpretado pelo barítono Homero Velho, de longe o melhor dos três). Mas sua princesa Turandot é paradona, e mesmo o personagem de Timur (o baixo Stephen Bronk, excelente), rei deposto da Tartária e pai de Calaf, poderia ter sua presença cênica enriquecida se fosse cercada mais informações.
O papel título foi cantado na estréia pela veterana Leila Guimarães, dona de um belíssimo timbre. Mas foi o Calaf do tenor Marcelo Vanucci quem acabou roubando merecidamente a cena. É uma voz ágil, bonita, volumosa e afinadíssima em qualquer momento de sua extensão.
A produção do Palácio das Artes (custo de R$ 800 mil, e cinco das récitas já vendidas antes da estréia) é também um produto não comercial que Minas se dispõe a ceder a outros teatros que queiram montá-lo. O espetáculo tem fôlego de sobra para isso.


O jornalista João Batista Natali viajou a convite da Fundação Clóvis Salgado, de Minas Gerais

TURANDOT. Ópera de Puccini. Onde: Grande Teatro do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, Belo Horizonte, tel. 0/xx/31/3237-7399). Quando: dias 25, 26, 27 e 29/6. Quanto: de R$ 25 a R$ 80; Inf. www.palaciodasartes.com.br. Patrocínio: Petrobras.


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