São Paulo, terça, 23 de junho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DISCO - LANÇAMENTOS
Álbuns fazem da guitarra atriz principal


Um antológico disco de B.B. King ao vivo no Regal, outro do guitarrisat de jazz Bill Frisell e três coletâneas da Alligator celebram o instrumento



EDSON FRANCO
Editor de Veículos

Ainda aos espasmos, vira e mexe as grandes gravadoras lembram que existe um estilo musical chamado blues. É o que aconteceu com a Warner, que acaba de lançar a série "Deluxe Edition".
Trata-se de compilações caprichadas com os artistas da gravadora Alligator, com sede em Chicago. E a série começou promissora. No primeiro pacote, formado por três CDs, a série traz coletâneas de Albert Collins, Lonnie Brooks e Kenny Neal.
Nos EUA, fez parte dessa primeira fornada um quarto CD, da banda Little Charlie and The Nightcats. Curiosamente, esse disco, ausente no pacote lançado no Brasil, é o único que não ostenta um músico negro na capa.
Incorreções políticas à parte, a série tem ingredientes capazes de seduzir o leigo e dar um lustro na empoeirada -devido à escassez de lançamentos- volúpia dos blueseiros mais experientes.
Mesmo aqueles que possuem todos os discos dos músicos que fazem parte da série encontram na remasterização cuidadosa novos elementos de prazer auditivo.
Quanto aos novatos, o pacote foi esperto ao escolher, entre os artistas da Alligator, aqueles que são blueseiros até a alma, mas não têm vergonha de ter uma platéia roqueira diante de si.
Sob todos os aspectos, o lançamento mais importante é o de Collins. Mas, pelo poder de atração que exerce no ouvinte não habituado ao blues -que vive definindo essa música como aquela coisa triste e lenta-, a aposta mais certa do pacote é o CD do cantor e guitarrista Lonnie Brooks.
O homem é uma pequena enciclopédia da música negra produzida no Sul dos EUA. Sua biografia ajuda a explicar isso.
Batizado com o nome de Lee Baker Jr, Brooks nasceu na Louisiana, onde começou a deixar o anonimato ao acompanhar a banda do acordeonista Clifton Chenier, o rei do zydeco, estilo que funde blues, country e música francesa.
Com o apelido de Guitar Junior, Brooks passou a tocar country, mas um festival em Dallas o fez abandonar esse estilo. Vaiado pela platéia e tratado como um roadie pela produção do evento, ele decidiu voltar a fazer música negra.
O estrelato local veio quando Brooks cultuava o blues e rock'n'roll. Mas uma paternidade indesejada fez o ainda Guitar Junior deixar a Louisiana, mudar o nome para Lonnie Brooks e escolher Chicago como moradia.
Em 1978, assinou com a Alligator e passou a perpetrar clássicos da confluência blues/rock como "Temporary Insanity", "Hoodoo She Do" e "Like Father, Like Son", todas registradas na coletânea da série "Deluxe Edition".
O CD traz ainda momentos de puro funk ("Figurehead"), de languidez acústica ("Roll of the Tumbling Dice") e de volta às origens ("Zydeco").
Collins
Apesar de gravar desde 1958 e de ter sido figura estimada durante o "revival" blueseiro que as bandas psicodélicas fizeram nos anos 60, Albert Collins (1928-1993) só ganhou respeito em 1978, quando foi contratado pela Alligator.
Com uma receita única, que funde naipes de metais funcionando ritmicamente, uma guitarra picante e muita intuição, ele forjou um estilo inimitável.
Esse estilo chegava ao paroxismo quando Collins estava sobre o palco. A escassez de registros ao vivo -"If Trouble Was Money" e "Cold Cuts" são exceções- é o único aspecto questionável do CD da série dedicado ao guitarrista.
Mas todo o resto -que não é pouco- está ali. Desde as metaleiras (no bom sentido) "If You Love me Like You Say" e "Blue Moon Hangover" à suingada "T-Bone Shuffle", do CD "Showdown", que reúne Collins, Robert Cray e Johnny Copeland.
Por fim, dono de uma das performances mais bem-humoradas do espectro blueseiro, Collins mostra como tirar alegria da dor na clássica "When the Welfare Turns Its Back on You".
Em família
O garoto até que se esforça, o problema é que a concorrência é muito poderosa. Essa é a situação do cantor e multiinstrumentista Kenny Neal no pacote da Warner.
Vindo de uma família de blueseiros e apesar de talentoso, comparado aos CDs de Collins e Brooks, o dele soa apenas correto. Deu azar.

Pacote: Deluxe Edition
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 18, em média, cada disco



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.