São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 2002

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CINEMA

Golpe de mestre

Reuters
Os atores Gene Hackman e Danny DeVito, que interpretam, respectivamente, um ladrão aposentado e um mafioso, em cena de "O Assalto"



"O Assalto ", novo filme de David Mamet, chega ao Brasil em 9 de agosto, após discreta estréia nos Estados Unidos


SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Na sexta-feira dia 9 de agosto, o Brasil repara um crime que vinha cometendo contra seus cinéfilos. Estréia no país, com quase um ano de atraso em relação aos Estados Unidos, o novo filme de David Mamet, "O Assalto" ("The Heist"), gema desprezada no país de origem e que não vem encontrando mercado muito forte.
O norte-americano de Chicago, 54 anos, é um dos melhores diretores de cinema, roteiristas e dramaturgos em atividade atualmente em seu país, e "Assalto" seguramente está entre seus cinco melhores filmes. E olhe que a autocompetição não é fácil.
Afinal, é de Mamet a direção ou roteiro de pérolas como "O Destino Bate à Sua Porta", um clássico, "Os Intocáveis", até hoje a melhor atuação de Kevin Costner, "A Trapaça" ("The Spanish Prisioner"), que redimiu Steve Martin como ator, "O Sucesso a Qualquer Preço" ("Glengarry Glen Ross"), que levou o Pulitzer, e "Deu a Louca nos Astros" ("State and Main"), o melhor estudo sobre Hollywood desde que Robert Altman fez "O Jogador".
Em "Assalto", ele consegue arrancar a melhor atuação de Gene Hackman em anos e de quebra mostra que o verticalmente prejudicado Danny DeVito pode, sim, interpretar um mafioso assustador. No filme, Hackman é um sofisticado ladrão aposentado que é obrigado por DeVito a dar a um último golpe, que obviamente tem tudo para dar errado.
Para isso, vai ter de usar mais do que gostaria os serviços de sua sexy mulher, interpretada pela atriz inglesa Samantha Morton, mulher de David Mamet na vida real e cada vez mais parecida com a brasileira Fernanda Torres. "Queria que o filme lembrasse os clássicos do gênero", disse ele ao jornal "Ha'aretz", de Israel, onde se encontra atualmente por conta de uma homenagem do Festival de Cinema de Jerusalém.
De resto, este é mesmo o ano de David Mamet. Está em cartaz em Nova York a peça "On the Stem", em que o dramaturgo dirige Ricky Jay num "one-man show" que vem lotando a sala do Second Stage Theatre e arrancando elogios da crítica para o domínio de cena do veterano ator.
Jay, para quem não está ligando o nome à pessoa, é uma espécie de alter ego mais barbado e mais calvo de Mamet (trabalhou em seis de seus filmes, mais uma adaptação para a TV) e é quem melhor põe em ação a metralhadora giratória que são os diálogos do dramaturgo de Chicago.
Além disso, a Broadway estréia até o final do ano uma nova montagem de "Glengarry Glen Ross", desta vez com o próprio DeVito no papel que no cinema foi de Jack Lemmon e Ben Stiller como o vendedor de terrenos bem-sucedido encarnado com maestria por Al Pacino nas telas.
No cinema, Mamet prepara sua versão do clássico "Dr. Jekyll and Mr. Hyde", de Robert Louis Stevenson, rebatizada por ele de "The Diary of a Young London Physician" (O Diário de um Jovem Médico Londrino), com Jude Law nos papéis principais, Samantha Morton como uma de suas vítimas e estréia prevista para 2003 nos EUA.
"Na última hora, a produção foi adiada", disse ele ao "Ha'aretz". "Mas a idéia continua me fascinando e espero realizá-la com os mesmos atores. Na minha versão do livro, Dr. Jekyll é uma espécie de alienígena que chega a Londres e começa a passar por transformações."
Mamet conta ainda que acaba de escrever um novo roteiro, batizado de "Russian Poland" (Polônia Russa), baseado parcialmente nas memórias de sua avó, que vivia numa cidade fronteiriça entre os dois países. A ação se dá em 1947 e tem como pano de fundo alguns fatos reais, como o contrabando que pilotos judeus fizeram de aviões tchecos para a então Palestina, o que ajudaria depois a fortalecer a região que faria nascer o Estado de Israel.
Na mesma entrevista, o dramaturgo fala que não pretende tão cedo adaptar outra peça sua para o cinema, como fez em 1994 com a polêmica "Oleanna", uma das primeiras obras a tratar do politicamente correto. Para ele, fazer isso é como "namorar a ex-mulher". E exagera: "Levar sua peça ao cinema é o mesmo que estuprar as próprias filhas".
No texto abaixo, publicado na semana passada pelo "New York Times", Mamet fala de sua relação com a música, elemento fundamental em sua obra.



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