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MÚSICA
Procura por novos intérpretes da MPB é estimulada por prêmio e pela disputa pelo ibope das tardes de sábado
Era dos festivais dá lugar a "reality shows"
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Em tempo de crise na música
brasileira mais comercial, um discurso que volta é o de que está reaberta a temporada de caça aos novos intérpretes.
Assim, iniciativas tão divergentes quanto a do Prêmio Visa, que
apresentou a final de sua quinta
edição na última sexta, e a do programa global "Fama" acabam por
se encontrar na defesa da "música
brasileira de qualidade" e da revelação de novos intérpretes.
Criador do prêmio e diretor-executivo da rádio e gravadora Eldorado, João Lara Mesquita, 47,
defende a relevância de sua iniciativa e repele comparações com o
padrão Globo de qualidade:
"O Prêmio Visa é uma contribuição. Não é a única, nem é suficiente, mas é uma bela contribuição, num momento em que a mídia toda tem apelado para a massa
e a boa MPB tem estado relegada
aos espaços alternativos".
Ele continua: "Não vejo parâmetros de comparação com nada,
não vi ninguém mais lançar nomes que lançamos, como Yamandu Costa e Mônica Salmaso. O Visa não os fez, mas os catapultou
para um público maior. Mesmo
que a Globo quisesse fazer isso,
sendo líder de massa, não conseguiria. É excludente. Já tentei milhões de vezes colocar artistas da
Eldorado na Globo, mas é inútil".
A Globo, divulgando 500 mil cópias vendidas de 12 volumes dos
CDs do projeto "Fama" (que procura ensinar e preparar artistas
jovens para o estrelato), bate pé
no discurso de qualidade.
"A visão da Globo é de sacudir
um mercado em crise por intermédio da MPB. "Fama" é uma primeira tentativa, e ainda é cedo para saber qual será o efeito. Mas a
recuperação de um repertório de
MPB de qualidade foi talvez a coisa mais importante que fizemos.
Terminamos o "Fama 1" com "Roda Viva", do Chico Buarque, uma
música que estava fora da TV havia 30 anos", afirma o diretor do
programa, Luiz Gleiser, 52.
Ele defende também a qualidade dos intérpretes revelados: "Tenho certeza de que ao final do "Fama Bis" [segunda etapa do programa, já no ar" teremos tirado
quatro ou cinco novos grandes intérpretes, pertencentes a tendências musicais muito diversas".
Gleiser discorda que "Fama"
procure sofisticar a fórmula
rhythm'n'blues que Raul Gil, concorrente do "Fama" nas tardes de
sábado, celebrizou com calouros
como Robinson.
"No início, achamos que os arranjos estavam deixando tudo
funkeado, mas fomos acertando
isso. João Batista, o segundo colocado, não tem nada de funkeado.
Tonny Francis se descobriu sertanejo durante o programa", diz.
Mas a vencedora do "Fama 1",
Vanessa Jackson, 20, enquadra-se
exatamente em tal padrão, como
ela própria declara, ignorando em
parte a tradição black brasileira:
"Sou black music total. Gosto de
Ed Motta, Sandra de Sá e Max de
Castro. Não tenho tanta influência do black brasileiro, porque ele
está começando agora, mas gosto
de Tim Maia, Fat Family, SNZ".
Num ponto intermediário entre
o "Fama" e o Raul Gil, está o
"Popstars", do SBT, que nos mesmos sábados exibe o processo
competitivo de formação de um
quinteto pop feminino. A maioria
das meninas fica entre o estilo
rhythm'n'blues e Sandy & Junior
nos testes de interpretação.
José Antonio Eboli, presidente
da gravadora Sony (que aposta no
lançamento do grupo de meninas
que ainda será formado), diz que
a tendência vocal uniforme das
garotas não é premeditada:
"O fato de as calouras usarem
esse tipo de repertório é somente
uma tendência de buscar músicas
que exijam registro vocal mais
forte. Em geral, as músicas brasileiras não têm essa característica.
Por isso elas procuraram canções
com que possam soltar a voz".
Diferentemente de Gleiser, Eboli não tenta maquiar as intenções
do programa com discurso pela
qualidade: "Conseguimos músicas inéditas em vários países da
Europa e nos EUA e fizemos versões para o português que estão
ficando muitíssimo boas. Sem dúvida, será um CD bem comercial".
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