São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 2002

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MÚSICA

Procura por novos intérpretes da MPB é estimulada por prêmio e pela disputa pelo ibope das tardes de sábado

Era dos festivais dá lugar a "reality shows"

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Em tempo de crise na música brasileira mais comercial, um discurso que volta é o de que está reaberta a temporada de caça aos novos intérpretes.
Assim, iniciativas tão divergentes quanto a do Prêmio Visa, que apresentou a final de sua quinta edição na última sexta, e a do programa global "Fama" acabam por se encontrar na defesa da "música brasileira de qualidade" e da revelação de novos intérpretes.
Criador do prêmio e diretor-executivo da rádio e gravadora Eldorado, João Lara Mesquita, 47, defende a relevância de sua iniciativa e repele comparações com o padrão Globo de qualidade:
"O Prêmio Visa é uma contribuição. Não é a única, nem é suficiente, mas é uma bela contribuição, num momento em que a mídia toda tem apelado para a massa e a boa MPB tem estado relegada aos espaços alternativos".
Ele continua: "Não vejo parâmetros de comparação com nada, não vi ninguém mais lançar nomes que lançamos, como Yamandu Costa e Mônica Salmaso. O Visa não os fez, mas os catapultou para um público maior. Mesmo que a Globo quisesse fazer isso, sendo líder de massa, não conseguiria. É excludente. Já tentei milhões de vezes colocar artistas da Eldorado na Globo, mas é inútil".
A Globo, divulgando 500 mil cópias vendidas de 12 volumes dos CDs do projeto "Fama" (que procura ensinar e preparar artistas jovens para o estrelato), bate pé no discurso de qualidade.
"A visão da Globo é de sacudir um mercado em crise por intermédio da MPB. "Fama" é uma primeira tentativa, e ainda é cedo para saber qual será o efeito. Mas a recuperação de um repertório de MPB de qualidade foi talvez a coisa mais importante que fizemos. Terminamos o "Fama 1" com "Roda Viva", do Chico Buarque, uma música que estava fora da TV havia 30 anos", afirma o diretor do programa, Luiz Gleiser, 52.
Ele defende também a qualidade dos intérpretes revelados: "Tenho certeza de que ao final do "Fama Bis" [segunda etapa do programa, já no ar" teremos tirado quatro ou cinco novos grandes intérpretes, pertencentes a tendências musicais muito diversas".
Gleiser discorda que "Fama" procure sofisticar a fórmula rhythm'n'blues que Raul Gil, concorrente do "Fama" nas tardes de sábado, celebrizou com calouros como Robinson.
"No início, achamos que os arranjos estavam deixando tudo funkeado, mas fomos acertando isso. João Batista, o segundo colocado, não tem nada de funkeado. Tonny Francis se descobriu sertanejo durante o programa", diz.
Mas a vencedora do "Fama 1", Vanessa Jackson, 20, enquadra-se exatamente em tal padrão, como ela própria declara, ignorando em parte a tradição black brasileira:
"Sou black music total. Gosto de Ed Motta, Sandra de Sá e Max de Castro. Não tenho tanta influência do black brasileiro, porque ele está começando agora, mas gosto de Tim Maia, Fat Family, SNZ".
Num ponto intermediário entre o "Fama" e o Raul Gil, está o "Popstars", do SBT, que nos mesmos sábados exibe o processo competitivo de formação de um quinteto pop feminino. A maioria das meninas fica entre o estilo rhythm'n'blues e Sandy & Junior nos testes de interpretação.
José Antonio Eboli, presidente da gravadora Sony (que aposta no lançamento do grupo de meninas que ainda será formado), diz que a tendência vocal uniforme das garotas não é premeditada:
"O fato de as calouras usarem esse tipo de repertório é somente uma tendência de buscar músicas que exijam registro vocal mais forte. Em geral, as músicas brasileiras não têm essa característica. Por isso elas procuraram canções com que possam soltar a voz".
Diferentemente de Gleiser, Eboli não tenta maquiar as intenções do programa com discurso pela qualidade: "Conseguimos músicas inéditas em vários países da Europa e nos EUA e fizemos versões para o português que estão ficando muitíssimo boas. Sem dúvida, será um CD bem comercial".


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