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ANÁLISE
Propostas são medidas da crise, não soluções
DA REPORTAGEM LOCAL
Embora se vendam como
projetos de busca de soluções
para a crise em que a música brasileira se encontra, iniciativas díspares como o Prêmio Visa e o
programa "Fama" são, muito
mais, índices do que pode ser
uma fase final do problema.
Ambos buscam formatos novos
para o clássico caça-talentos, que
teve auge no Brasil na era dos festivais sessentistas, como o Prêmio
Visa fez questão de trombetear na
final de sua quinta edição, na sexta-feira. O "Fama" recupera o repertório datado dos festivais para
seus calouros interpretarem.
A própria comparação ameaça
arruinar a iniciativa vital do Visa.
Quando o apresentador Nelson
Motta sonhou em voz alta com o
dia em que a noite de sexta virará
história e mito, a vontade era sentar e chorar. Porque o que se ouvia, ao redor disso, era um festival
de conservadorismo, de insistência em padrões musicais que já
passaram de realidade a mito.
Havia um bom intérprete em
competição. Não por acaso foi o
vencedor. O paulista Renato Braz,
34, no entanto, é músico estabelecido, com três CDs lançados e excelência artística comprovada. O
grande mercado é que, parece,
nunca ouviu falar dele, mas isso é
problema do mercado.
Braz faz parte de um fenômeno
que torna o Prêmio Visa mais termômetro de problema que de solução. A idade dos concorrentes
oscilou por volta dos 35 anos, fazendo deles retardatários na geração musical dos 90, quase toda
feita de músicos que demoraram
cerca de 15 anos para chegar ao tal
mercadão.
É inacreditável que entre os
quase 2.000 inscritos ao prêmio
não houvesse centenas de jovens,
artistas com propostas inovadoras, músicos indispostos à cópia.
O Visa sabe disso, pois revelou, no
ano passado, Yamandu Costa.
O "Fama" acrescenta veneno ao
problema ao demonstrar que não
é questão de idade a ineficácia do
projeto de caça global aos talentos. Quase todos os concorrentes
são muito, muito jovens. Mas, expostos a um repertório que liquidifica Taiguara (o antigo, não o da
"Casa dos Artistas") com Sandy
& Junior, só fazem exibir as fraquezas de formação dos novos
brasileiros. Vanessa Jackson, 20,
vencedora sem foco ou direção,
encarna bem o equívoco.
O esforço recuperador cai por
terra diante do propósito atrás da
história toda: derrubar a audiência de Raul Gil. Assim, seja cantando isso ou aquilo, os calouros
do "Fama" só fazem parodiar o
cacoete pela gemedeira
rhythm'n'blues disseminado por
Raul Gil. No "Popstars", do SBT, a
ignorância interpretativa chega
ao show de horrores.
Tomando os "reality shows" como padrão, os dois programas de
TV adotam a derrota como parâmetro -quem ganha e fica é o
menos eliminável, o menos ruim.
Os outros estão descartados. Como no Visa, tão mais nobre e tão
mais "música de qualidade" que
seus pares do mundo cão.
Há uma procura em tudo isso?
Dizem que há. Yamandu Costa é
prova, talvez alguns dos calouros
da TV no futuro venham a ser.
Mas é preciso foco e coragem para
parar de olhar para trás, começar
a olhar para a frente e aplicar um
esperado xeque-mate nessa tal
crise do inferno.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
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