DA REPORTAGEM LOCAL

Sim. Apesar da programação padronizada, do besteirol, da proliferação de religiosas e do jabá [execução paga de músicas], há o que comemorar. Duas rádios brasileiras serão citadas como bom exemplo num estudo latino-americano sobre o meio.
Trata-se de um extenso levantamento realizado por duas entidades internacionais: a Associação Latino-Americana de Educação Radiofônica (Aler) e a Associação Mundial de Rádios Comunitárias (Amarc). Intitulado "A Prática Inspira", foi realizado em 15 países da América do Sul e Central e irá relatar a rotina de 49 estações.
A apresentação será em dezembro, na reunião da Cúpula Mundial sobre a Sociedade de Informação, em Genebra, Suíça.
O objetivo dos 18 pesquisadores envolvidos no projeto foi traçar um mapa de estações voltadas à cidadania e à valorização da cultura regional. No Brasil, a Rádio Pioneira de Teresina (PI) e a Rádio Favela, de Belo Horizonte (MG), foram contempladas com as melhores avaliações.
A AM piauiense, no ar há 40 anos, é ligada à Arquidiocese de Teresina. Apesar disso, não tem uma programação com caráter religioso. Investe na aproximação entre a comunidade e as autoridades, em música regional e informações locais. Há, por exemplo, um programa de três horas sobre moda de viola e cordel.
A mineira Favela FM, fundada no fim da década de 70, será debatida em Genebra principalmente pelo capacidade de integrar os moradores "do morro" aos "do asfalto". Por anos perseguida pela Polícia Federal e agora autorizada pelo governo a operar, a estação acabou virando "uma grife" de valorização da periferia, na análise de Larissa Barbosa, 29, pesquisadora que realizou o trabalho de campo no Brasil.
"A Favela também tem um nível impressionante de participação dos moradores da região", diz.
Amarc e Aler decidiram levar esse projeto adiante em 2000, quando concluíram que a maioria das estações comunitárias e populares da América Latina não realiza um trabalho útil à comunidade do local onde operam.
A intenção de "A Prática Inspira" é fazer uma descrição profunda das atividades de AMs e FMs que possam guiar outras emissoras. Além das brasileiras, outros "bons exemplos" encontrados pelo grupo foram as Escolas Radiofônicas do Equador, a Rádio Bemba, no México, e FM La Tribu, de Buenos Aires.
O relatório deverá ser publicado em inglês e espanhol. O braço brasileiro da pesquisa, no entanto, ainda tenta viabilizar uma edição em português.
(LAURA MATTOS)

laura@folhasp.com.br


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