CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O "Movimento dos Sem Ingresso de Parati" acaba de ter uma importante conquista. Para minimizar os problemas com o elevado número de interessados que não conseguiram entradas para a Festa Literária Internacional de Parati a organização do evento montou uma espécie de cineminha.
O festival, que vai do dia 31 de julho ao terceiro dia de agosto, abriu a venda de cadeiras para um telão que será instalado em uma tenda no mesmo casarão colonial onde serão feitas as palestras.
Com essa medida provisória, a Flip, como a festa é apelidada, dobrou o número de espectadores que assistirão o historiador Eric Hobsbawm e os escritores Julian Barnes e Hanif Kureishi, todos britânicos, os romancistas Don DeLillo e Daniel Mason, americanos, e mais uma dezenas de autores brasileiros de primeiro time.
Às 195 vagas convencionais foram agregadas 176 cadeiras com telão, vendidas a R$ 8 (as palestras "in loco" custaram R$ 10), com direito a tradução simultânea.
"Tivemos uma procura muito maior do que esperávamos. Aconteceram até casos de "overbooking'", diz a diretora de produção do festival Izabel Costa Cermelli, usando o termo comum na aviação para vendas de ingressos a mais do que a capacidade.
As vendas para todos os 14 eventos oficiais da primeira edição da Flip começaram em 10 de julho. Dois deles esgotaram no mesmo dia, a conferência com Hobsbawm, marcada para 1º de agosto, e o debate entre os escritores-jornalistas Luis Fernando Verissimo, Millôr Fernandes e Ruy Castro, na noite seguinte.
Rapidamente esgotadas ficaram também as pousadas do centro histórico de Parati, um quadrilátero de oito ruas de piso de pedra e prédios coloniais.
"Calma, muita calma", pede o secretário de Turismo de Parati, José Pital. "Temos vagas de sobra, ainda que não no centro histórico." Segundo ele, a cidade de 30 mil habitantes tem 6.000 camas para turistas, divididas em 200 pousadas cadastradas.
E se a Flip crescer, como o festival literário de Hay-on-Wye (País de Gales), no qual se inspira o evento paratiense, que começou pequenino e hoje envolve mais de uma centena de eventos?
"Quero acreditar que a Flip não vai crescer em tamanho", diz o secretário. "No máximo vão expandir para outros lugares além da Casa de Cultura."
A "casa" em questão é a sede de todos os eventos da Flip, atualmente na fase final de uma megareforma tocada pela Fundação Roberto Marinho. Construído em 1754, o sobrado deverá ficar pronto dias antes da abertura da festa.
Único ato da programação não marcado para o casarão, o pontapé inicial, a ser dado pelo ministro-cantor Gilberto Gil, será em praça pública, em frente à igreja matriz da cidade.
No mesmo lugar será feita homenagem a Vinicius de Moraes, com as presenças de Chico Buarque, Adriana Calcanhoto, Antonio Cícero e Susana Moraes, filha do chamado "poetinha".
A praça também poderá se transformar em um segundo "cineminha" da Flip. "Ainda não perdemos a esperança de conseguir montar um telão aberto ao público" afirma o diretor do evento, Flávio Pinheiro.