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FESTIVAL DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
Argentinos do Periférico de Objetos apresentaram montagem de "A Última Noite da Humanidade"
Grupo prefere inovação à provocação
Lenise Pinheiro/Folha Imagem
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Cena da peça 'A Última Noite da Humanidade', do grupo argentino El Periférico de Objetos, apresentada no Festival de Rio Preto |
SERGIO SALVIA COELHO
ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
Dizer que é provocador o
espetáculo do grupo argentino El Periférico de Objetos é limitar-se ao essencial. De fato
trata-se aqui de um espetáculo
que se ama ou se odeia, logo nos
primeiros minutos.
No caos do princípio, mal se
pode distinguir entre bonecos e
manipuladores: inanimados sob
uma mesma camada de lama,
nus como se fossem gravuras do
"Desastres de la Guerra" de Goya, vão articulando pouco a pouco movimentos grotescos, fragmentos de conflitos, escatologias
da sobrevivência.
Depois de uma "pausa higiênica" voltam para um segundo ato
complementarmente anti-séptico. Agora, a referência não é tanto o "grand guignol" de Jarry,
mas o universo de Beckett, estéril e paranóico. Vestidos de
branco, os atores vivem enclausurados sob o comando de uma
voz externa, privados de memória, cobaias de um campo de
concentração/reality show.
Não se trata apenas de provocação, no entanto, na medida
em que o termo possa ser reduzido a um mero pretexto para revoltar o bom gosto da platéia.
Antes de tudo, o grupo conta
com uma trajetória de 13 anos,
durante os quais cada referência
(Ubu Rei, Beckett, Kafka) já foi
aprofundada em espetáculos de
grande êxito. Mais do que isso,
os efeitos do espetáculo perturbam por desvirtuarem princípios básicos da manipulação.
Na segunda parte, a cruel manipulação de baratas é hamletianamente metalinguística. A profusão de referências, detalhada
no belo programa, parte do tema
da peça "O Último Dia da Humanidade", de Karl Kraus, à
qual se somam Brecht, Bacon,
Tarkóvski e Kubrick.
Mas isso não quer dizer que seja hermética a dramaturgia: seduz por um lúdico cinismo, atravessado por um lirismo pungente, com uma fábula coerente o
bastante para que cada um puxe
seu fio dessa meada.
Assim, os brechtianos saberão
se distanciar pela ironia da voz
de comando ser em inglês, língua do FMI e das tropas no Iraque, assim como os grotoviskianos saberão se deixar levar pela
imersão nas sensações. E é dessas sínteses improváveis e desestabilizadoras que vem o principal mérito do espetáculo: não o
da provocação, mas o de ser inovador, com toda a responsabilidade que o adjetivo acarreta.
A Última Noite da Humanidade
Texto: Karl Kraus
Direção: Emilio Garcia Wehbi, Ana
Alvarado e Daniel Veronese
Com: cia. El Periférico de Objetos
Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93,
Pompéia, tel. 0/xx/11/3871-7700)
Quando: hoje e amanhã, 21h
Quanto: de R$ 15 a R$ 30
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