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TEATRO
Casa de candomblé abre portas para peça que trata da busca de identidade por meio das mulheres do sertão do NE
São Jorge leva "Bastianas" ao candomblé
VALMIR SANTOS
ENVIADO A SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
O pagode come solto do lado de
fora do hotel que hospeda boa
parte dos elencos. Protagonismo
dos 16 artistas da cia. São Jorge de
Variedades. Roda de pandeiro,
gogó e toda sorrisos. Dali a meia
hora, eles vão conhecer o próximo espaço onde apresentarão "As
Bastianas": uma "roça de candomblé", como se diz na religião
afro-brasileira.
Depois do asfalto, o microônibus escolar (todo o transporte do
evento é feito em veículos desse tipo, graças às férias dos alunos da
rede pública) levanta o pó da rua
de terra na Estância Jóquei Clube,
onde fica o Ilê Asé Katispero, casa
de candomblé transformada em
palco neste Festival Internacional
de Teatro (FIT) de São José do Rio
Preto, no noroeste paulista, que
vai até domingo.
O terreno amplo, de árvores floridas, lembra uma chácara, como
muitas do bairro. Ao fundo, está o
barracão onde acontecem as cerimônias da casa de candomblé, cujo nome por extenso é Ilê Asé Adnukuenú Ingomensá Katispero,
traduzido do dialeto africano
banto como "local onde Oxalá habita e o espera". Quem explica é o
babalorixá (pai-de-santo) Carlos
Siciliano, 39, batizado na religião
como Kingongo d'Anun Gongo,
ou "o mago da aldeia", no banto.
Encontro de rituais
Na tarde de quarta-feira, ele recebeu a cia. São Jorge para conhecer o espaço onde se apresenta
hoje e amanhã. "Essa aproximação com a cultura é importante. O
teatro é um forte ritual", diz Siciliano. A casa existe desde 1964.
"As Bastianas" vingou no ano
passado como adaptação de contos do primeiro livro do ator e
poeta Gero Camilo, "A Macaúba
da Terra" (2002). Trata da busca
de uma nova identidade e do cotidiano de uma aldeia no sertão
nordestino, com suas histórias e
sua religiosidade.
São mulheres que falam da criação, da luta pela terra e da vontade
humana de amor, sabedoria e sossego. O espetáculo é itinerante. O
público acompanha cenas ao ar livre e em local fechado. Começa na
rua, quando uma vendedora ambulante surge com seus "bolos de
girassol", abre-alas das histórias
de seis devotas, sobretudo devotas de uma cultura popular, e os
quatro missionários que encontram no caminho.
Em São Paulo, o espetáculo foi
apresentado em albergues municipais (Canindé e Boracea) e na
Febem do Tatuapé. A idéia de
apresentá-lo numa casa de candomblé partiu de um dos organizadores do festival, Jorge Vermelho. A São Jorge endossou.
O que a companhia define como processo aberto de montagem, sob direção do também ator
Luís Mármora, somou à pesquisa
paralela sobre a mitologia dos
Orixás, ou mitologia Iorubá, agora aplicada ao território propício.
Mato Grosso do Sul
A estética primitiva, naïf, perpassa a dramaturgia e a encenação de "A Noiva", espetáculo de
Campo Grande que estréia hoje
na programação com uma das
companhias pioneiras do teatro
sul-mato-grossense: Gutac/Inecon (Grupo Teatral Amador
Campo-grandense e Instituto de
Educação e Cultura Conceição
Freitas), fundada em 1971.
Segundo a autora e diretora
Cristina Mato Grosso, a composição da Grécia Antiga e sua mitologia entrelaça a tragédia que envolve a atração incestuosa de um pai
pela filha, a submissão forçada
desta a um casamento com um
coronel e o conflito da autoridade
com o namorado da moça, também um explorado.
Há diálogos que se apóiam na
estrutura medieval do cordel. O
espaço cênico é rústico. "O único
recurso é um carrinho de mão
que se transforma num fogão. É
um espetáculo em estado puro,
no sentido trágico", diz Mato
Grosso, influenciada nos ano 70 e
80 pelo teatro dos diretores Carlos
Alberto Soffredini e Ilo Krugli,
que veio ao Festival com a montagem, dividida em duas partes, de
"Victor Hugo, Onde Você Está?".
O jornalista Valmir Santos e a fotógrafa
Lenise Pinheiro viajam a convite da organização do festival
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