São Paulo, sábado, 23 de julho de 2005

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13º ANIMA MUNDI

Artista brasileiro, com trabalhos em livros, cinema e TV, mostra suas obras e participa do Papo Animado

Festival homenageia "embaixador" Rui de Oliveira

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele é um dos símbolos do audiovisual brasileiro -seu trabalho com livros, televisão e cinema serviu de base para gerações de animadores e modernizou a linguagem da animação no país.
Definido por Cesar Coelho, um dos organizadores do Anima Mundi, como um dos "embaixadores do evento", o carioca Rui de Oliveira é homenageado hoje com uma pequena mostra de seus trabalhos e a participação no Papo Animado, a partir das 19h30.
Em entrevista a Folha, ele falou sobre sua carreira e sobre a história do audiovisual no Brasil.

 

Folha - Como foi seu começo na animação?
Oliveira
- Eu sou de origem paupérrima. Minha mãe, que era uma pessoa simples, dizia que eu tinha recebido um dom do Espírito Santo para desenhar. Quando criança, eu experimentava narrativas em um brinquedo da época chamado "Cinema Barlam", emprestado de um amigo.

Folha - Ser animador no Brasil é viável economicamente?
Oliveira
- Sim, há campo de trabalho para a animação. É necessário talento, claro, mas também muita fé no seu próprio trabalho. É preciso perseverar para ser bem-sucedido. A inteligência visual do brasileiro evoluiu muito, e isso demanda cada vez mais o trabalho de bons profissionais.

Folha - Como se deu essa evolução da inteligência visual?
Oliveira
- A relação da palavra com a imagem mudou. Na indústria do livro, a imagem foi por muito tempo subsidiária da palavra. Pegando um livro de antigamente e comparando os aspectos audiovisuais -a capa, a tipologia, o falso rosto, a lombada, as ilustrações etc.- com os livros atuais, você vê como a nossa inteligência não se satisfaz mais apenas com a palavra. A eclosão de escolas de design também tem grande participação nisso. O design brasileiro evoluiu muito e essa evolução passou para a animação, que é quase toda feita por gente originária da área de design.
Outro exemplo do aprimoramento da inteligência visual são as campanhas políticas: hoje em dia todo candidato faz logotipos, logomarcas, se preocupa em distribuir "bottons", camisetas. É claro que isso tem um lado negativo também, o exagero desse mundo iconográfico é ruim.

Folha - E qual é a importância dessa evolução?
Oliveira
- Todo grande país tem, ao lado de uma política armamentista forte, uma política audiovisual de peso. Eles associam o poderio militar ao poder audiovisual, é uma estratégia mundial -temos os exemplos dos Estados Unidos, do Japão, da China. O Brasil tem que se inserir nisso e acho que tem a oportunidade.

Folha - Como você virou um "embaixador" do Anima Mundi?
Oliveira
- Eu escrevo há muito tempo sobre o audiovisual brasileiro e sobre o festival. Quando ele surgiu eu o associei à Semana de Arte Moderna de 1922 -o Anima Mundi teve, no caso do audiovisual brasileiro, o mesmo papel que a semana teve para a literatura, a música e as artes plásticas.

Folha - Que conselho você daria para um iniciante da animação?
Oliveira
- Hoje em dia há um certo bloqueio da leitura, talvez motivado pelo excesso de imagens, mas o fundamento para a formação do jovem é a leitura. Isso é o nosso grande calcanhar de Aquiles -nossas animações se ressentem de idéias, que podem ser encontradas na literatura. A palavra é o referencial básico para o homem de imagem. Por isso, um iniciante deve ler muito, além de pesquisar e aprimorar cada vez mais sua técnica. Ele deve também ver muito cinema -um cineasta de animação tem que conhecer o expressionismo alemão, por exemplo; toda a gênese do desenho animado está ali. Se ele não conhece isso, vai fazer o que está na moda, vai fazer o fanzine.

Folha - O fanzine é um trabalho menor?
Oliveira
- Não, ele só é menor se for desvinculado de um alicerce. Ele é ótimo porque permite ao jovem se expressar, mas ali o autor desenha apenas seu desenho, pode ficar preso em maneirismos que se esgotam em pouco tempo. Para progredir é necessária uma formação cultural e acadêmica mais sólida. O fanzine é uma fase na evolução gráfica de artista.


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