JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Heitor Villa-Lobos (1887-1959) foi um compositor com a sabedoria das idéias encavaladas. Queria dizer tantas coisas em tão poucos compassos que sua música algumas vezes não funcionava apenas como ricas construções polifônicas. A beleza também se originava por meio da programação de trombadas entre melodias.
"O Descobrimento do Brasil" (1937) constitui um exemplo disso. É uma suíte em nove episódios que a Orquestra Sinfônica Municipal e o Coral Lírico interpretam amanhã, às 11h, com a regência de Mário Zaccaro. Será no Teatro Municipal de São Paulo, no último concerto da série "Todos os Cantos".
Villa-Lobos escreveu "O Descobrimento do Brasil" como trilha sonora para um filme de Humberto Mauro (1897-1983).
A composição foi em seguida desdobrada em quatro suítes, só a última delas para coral e orquestra sinfônica.
O filme em questão é um tanto épico, presta-se a lampejos patrióticos. Faz parte de uma produção artística que nos anos 1930 procurava desenterrar ingredientes da brasilidade.

Imaginação
O nacionalismo de Villa-Lobos prestava-se perfeitamente ao projeto. Sua música é altamente narrativa, mas de uma narração centrada na imaginação e não propriamente na pesquisa etnográfica ou histórica.
Tendo como roteiro a carta de Pero Vaz de Caminha, inicia-se com os tripulantes da expedição despedindo-se de Lisboa, Portugal -há momentos de um curioso pastiche do folclore português- e se encerra com a celebração da primeira missa no Brasil, numa profusão de cores e cantos nativos. É algo que merece ser ouvido.
Também de Villa-Lobos, a Orquestra Sinfônica Municipal fará o "Magnificat Aleluia". É uma peça litúrgica, feita em 1958 -um ano antes da morte do compositor- sob encomenda da Associação Italiana de Santa Cecília, como oferta ao papa Pio 12.
Completa a programação do dia a "Sinfonia Espanhola", do compositor francês Edouard Lalo (1832-1892), para orquestra e violino. O solista, neste caso, será Pablo de León.