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ARTES PLÁSTICAS
Exposição, evento paralelo a congresso de psicanálise, aborda a dor político-social, metafísica e física
Estação Pinacoteca exibe a beleza da dor
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Obra de arte não é para interpretar, é para ser", diz o curador
Olívio Tavares de Araújo. Mas,
tendo em vista que "Dor, Forma e
Beleza", que é aberta hoje na Estação Pinacoteca, em São Paulo, foi
organizada como evento paralelo
ao 44º Congresso Internacional
da Associação de Psicanálise, os
curadores, já que o analista Leopoldo Nosek também assina a
mostra, não se furtaram a dar
suas leituras sobre a produção
contemporânea nacional.
É o caso, por exemplo, da série
de fotos de Rafael Assef. "Ele, o artista, diz que esses trabalhos não
tratam da dor, são apenas visuais,
mas o que eu vejo são cortes na
pele, inclusive com sangue. É impossível não pensar em dor", conta Araújo.
Para organizar a exposição, entretanto, os curadores realizaram
um percurso que, ao final, se distanciou do encontro de psicanálise: "Partimos de um dos subtemas do Congresso, o terror do 11
de Setembro. Mas achamos que
não dá para abordar o terror, já
que do ponto da psicanálise, ele é
uma emoção à qual não se dá nome. Então, usamos a dor, num
sentido mais amplo, para tratar
dessa questão", conta Araújo.
A equação proposta pelos curadores, e que dá título à exposição,
segundo Araújo, "é que a partir da
dor é possível que artistas realizem uma formatação e, como resultado, se a obra for boa, seja bela, mas não em um sentido acadêmico". Nesse sentido, a mostra
aborda a dor em três percursos
distintos: um político-social, outro metafísico e o último, mais literal, o físico.
O percurso que dá início à exposição é relativo ao campo político-social e, obviamente, a referência
direta é a produção dos anos 60 e
70, sobre a ditadura militar. Participam desse segmento artistas já
consagrados, como Cildo Meireles, com o registro de sua performance, em 1970, quando queimou 20 galinhas vivas, e as trouxas de carne, de Artur Barrio, do
mesmo período. Ambas são referências explícitas à tortura, que
então ocorria no país, inclusive no
próprio prédio onde hoje a mostra é realizada.
Já outras, como a bandeira "Viva Maria" (1967), onde está escrito "canalha", de Waldemar Cordeiro, e "Acontecimento", de Nelson Leirner, com um rato preso
em uma ratoeira, ganham atualidade frente à situação na qual o
país do "mensalão" atravessa.
O segundo segmento, o metafísico, tem como base trabalhos de
artistas que partem de questões
circunstanciais, em geral, biográficas. É o caso do atormentado
universo de Farnese de Andrade,
ou da solidão homoerótica de
Leonilson. "Ele poderia ser um
poeta, ao tratar da incomunicação
amorosa", afirma Araújo, ao ler
um dos textos escritos pelo artista
em uma de suas obras expostas:
"Mas você pode quebrar minha
perna e fazer a minha boca sangrar, não tenha medo meu rapaz".
Ainda nesse grupo, tomam parte
Ivan Serpa, Flávio Shiró e Iberê
Camargo, entre outros.
Finalmente, o segmento sobre a
dor física reúne a geração mais jovem da mostra, com trabalhos recentes, como as fotografias de Assef, a série de radiografias "Retrato Íntimo" de Cris Bierrenbach, os
registros de performance de
Amilcar Packer, as imagens de
Suzy Okamoto e Karla Giroto, e a
instalação "Cama", de Nazareth
Pacheco. Não deixa de ser simbólico que o percurso tenha começado com uma geração mais engajada politicamente, e que a dor, hoje, esteja na carne, o que parece dizer que já que não se muda o social, é preciso transformar o próprio corpo. Mas, e o 11 de Setembro?
Entrante
Também, hoje, é aberta na Estação Pinacoteca a mostra da carioca Germana Monte-Mór, com curadoria de Alberto Tassinari.
Com obras em vários suportes, a
artista apresenta uma série de esculturas, em mármore e granito,
além de um painel composto por
60 gravuras e trabalhos em asfalto
sobre papel.
Dor, Forma e Beleza /Entrante
Quando: abre hoje, às 11h; de ter. a
dom., das 10h às 18h; até 28/8 (Entrante)
e 4/9 (Dor, Forma e Beleza)
Onde: Estação Pinacoteca (largo General
Osório, 66, Luz, SP, tel. 0/xx/11/3337-0185)
Quanto: R$ 4 (grátis aos sábados)
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