São Paulo, domingo, 23 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

João Sal/Folha Imagem
Cláudia Raia ensaia o musical "Sweet Charity", que sonha fazer há 17 anos


Dançando na garoa

Depois do sucesso em "Belíssima", Cláudia Raia deixa família no Rio e se "interna" em SP para ensaiar musical

De "collant", meia calça e saia de bailarina, Cláudia Raia, num canto da sala, ensaia sozinha alguns passos olhando para o espelho. "Sabe o que ia ser mais bonito? Fazer as palmas e virar a cabeça assim. Olha só, gente", grita para os demais bailarinos e faz o movimento que é, em seguida, executado e aprovado pelo grupo. Cláudia está no primeiro dia de ensaio do musical "Sweet Charity", do qual será a protagonista, no papel da prostituta Charity.

 

Com estréia prevista para setembro em SP, "Sweet Charity" pretende manter os moldes da Broadway, onde foi encenado pela primeira vez em 1966. A produção daqui recrutou 27 atores-bailarinos que ensaiam das 13h às 20h todos os dias. Uma espécie de confinamento numa casa na Pompéia. Em três salas, eles têm aulas de canto, dança e interpretação.
 

Cláudia Raia não foge, digamos, da raia. Tem a mesma escala que os demais bailarinos, sem regalias. O único descanso durante o dia é um intervalo das 17h às 17h30, para tomar lanche. Folga, só aos domingos.
 

"É um musical que exige muito da gente", diz Cláudia, no projeto desde a concepção, em 2004, quando se reuniu com os diretores Cláudio Botelho e Charles Möeller num restaurante em Niterói. "Quero fazer essa personagem há 17 anos. Tentei comprar os direitos na época, mas alguém comprou antes e fez uma montagem menos profissional. Achei que tivesse perdido tudo na minha vida."
 

Agora, a montagem tem status de mega produção. Serão 28 cenários que entram e saem do palco principal por meio de três elevadores de cena; outros dois palcos laterais, um de três andares para a orquestra de 13 músicos e outro que será uma ponte cênica -réplica de uma das pontes do Central Park, de NY, onde se passa a história-, projetada para passar sobre a platéia; mais de 120 figurinos.
 

"Nós [Charity e Cláudia] temos a mesma idade. Eu vou fazer 40 em dezembro, ela tem seus 37, 38 anos. O que a gente tem de parecido é a alegria. A inocência e a pureza dela, busco em Campinas, onde eu nasci. Tenho isso em mim. Mas a vida vai mascarando a gente, vamos ganhando outras máscaras e..." Um membro da produção, de walk-talk na mão, interrompe Cláudia Raia. São 17h30 e ela tem ensaio de dança. Não poderá tomar lanche da tarde porque está atrasada e todos a aguardam na sala.
 

Par romântico da atriz no musical, o ator Marcelo Médici também atuou na novela das oito, "Belíssima", da TV Globo. "Odeio ensaiar. É que eu não tenho... não tenho... como é que é mesmo o nome daquilo?" Disciplina? "É! Isso! Não tenho disciplina."
 

O diretor musical Miguel Briamonte dá aulas de canto para o elenco. Grava as melodias em fitas e as distribui aos alunos para a "lição de casa". "Devem ouvir no carro, na fila do banco, onde quiserem. Não me importa. Têm que chegar aqui sabendo tudo."
 

O roteiro inclui 20 músicas e 40 intervenções musicais da orquestra em duas horas e meia de peça, além de 106 páginas de texto. O diretor Cláudio Botelho não vê problemas: "Demos sorte. SP tem um elenco assustadoramente bem preparado, muito melhor que o do Rio". O outro diretor, Charles Möeller, concorda: "Há cinco anos seria impossível produzir isso, por falta de material humano".
 

"Dá uma olhada no ombro da Cláudia, gente." É o coreógrafo Alonso Barros, durante a aula de dança. Renata Vilela, uma das protagonistas, observa e faz o movimento igual em frente ao espelho. Antes de ser aprovada para "Sweet Charity", Renata dava aulas de jazz na zona Leste de SP. Passou do salário de cerca de R$ 400 para R$ 5 mil no musical. Outra atriz, Kátia Barros, diz que sempre foi substituta de atriz principal em musical. "Agora é a minha chance de fazer um papel do começo ao fim."
 

É também a chance de Renata Ricci, que atuou só em infantis. "Chego à 1h30 em casa, em São Bernardo. Canto no bar Brahma no sábado e três vezes por semana no Itaim. E não me sinto cansada."

CENAS PICANTES

"Os dois têm a maior química"

Cláudia Raia está instalada num flat, em SP. Por dois meses, vai ficar longe do marido, Edson Celulari, que ficou no Rio gravando "Páginas da Vida", nova novela das oito, e cuidará das crianças do casal, Enzo, 9, e Sophia, 3. Ela conversou com a coluna sobre a saudade e as cenas eróticas do marido com a atriz Ana Paula Arósio:  

FOLHA - Como está sua vida?
CLÁUDIA
- Está uma catástrofe. [risos] Eu saí de casa chorando, desesperada. Mas a gente combinou isso juntos. Eu disse a ele [Edson Celulari] que tinha esse sonho e perguntei: "Como é que a gente faz?" E ele disse: "Vá atrás do seu sonho que a gente dá um jeito aqui".

FOLHA - E os filhos?
CLÁUDIA
- Precisei criar um link. Então, fizemos o caderno da saudade. O Enzo tem o dele, a Sophia tem o dela e eu tenho o meu. E quando um está com saudade do outro, a gente desenha ou escreve alguma coisa para o outro. E depois a gente mostra. O Enzo já me disse que fez um desenho que era um pôr-do-sol com um coração dentro... Me acabei quando ele contou. Entendi que ele vê o amor em todas as coisas. Ele me vê em todas as coisas.

FOLHA - Você tem visto a novela?
CLÁUDIA
- Quando dá. Vi a primeira semana.

FOLHA - Viu a cena da lua-de-mel do Edson com Ana Paula Arósio?
CLÁUDIA
- Vi e achei incrível. Incrível.

FOLHA - Em entrevista à coluna, a Ana disse que Edson é o homem da vida de qualquer mulher...
CLÁUDIA
- [risos] É verdade, é verdade. Ele é mesmo. É um colega ma-ra-vi-lho-so. Eu sei do que ela está falando. Todas as mulheres que fazem par com ele falam isso. E eu fico muito feliz porque eu também fui muito bem tratada em "Belíssima". Tive um par que é um gentleman, o Reynaldo Gianecchini. É muito bacana dividir cenas constrangedoras, difíceis, com alguém assim.

FOLHA - Você acha que a novela exagera nas cenas picantes?
CLÁUDIA
- Acho o Manoel Carlos um dramaturgo tão interessante que penso que ele está querendo mostrar esse lado. Não sei se sou contra ou a favor. Eu gosto da cena. Acho linda. Acho que os dois [Celulari e Ana Paula] têm a maior química, que super combinam. São lindos juntos e isso é fundamental para um par romântico. É gostoso de ver. Eles fazem com delicadeza. Adorei.

FOLHA - Você não acha apelativo?
CLÁUDIA
- Talvez não precisasse aparecer o seio [de Ana Paula Arósio]. Para o meu gosto. A minha personagem [Safira, em "Belíssima"] era absolutamente erótica e sensual. E nunca apareceu um peito, nada. Mas é gosto de diretor. Para o meu gosto, acho que não era preciso aparecer o seio. Mas prefiro confiar no diretor e no autor. Ou você entra para fazer o que o autor está pedindo, ou então você está fora do projeto.

FOLHA - Viu o depoimento da mulher que relata orgasmo na novela?
CLÁUDIA
- Ah, eu não vi, me falaram. Talvez aquilo não seja preciso realmente. Acho bacana ele [Manoel Carlos] ter se desculpado. Quando se está criando um formato de novela, é possível errar. Toda novela que entra para imprimir vai encontrando os caminhos dela e diversificando. Até porque é teledramaturgia, é sempre meio parecido. Cada um vai encontrando seu formato. Começo de novela é assim mesmo: você vai tateando para ver o que funciona, o que o público gosta. Acho que eles estão se achando.


Texto Anterior: Como funciona a plástica eletrônica da Globo
Próximo Texto: "Cobras" tira Globo do sufoco apesar do bafafá de plágio
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.