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Filmes nacionais patinam até com o apoio da Globo
Anúncio na emissora não garante público a longas
DA REPORTAGEM LOCAL
Tem coisas que a propaganda
na Globo não faz por você. É isso que cineastas e produtores
brasileiros descobriram, depois
de fechar acordo com a Globo
Filmes para fazer comercial de
seus longas na emissora de
maior audiência no país. Mesmo com a propaganda, os títulos patinam na bilheteria.
"Do ponto de vista mercadológico, não valeu a pena", diz a
produtora Assunção Hernandes, uma das primeiras a aderir
ao plano, para o lançamento de
"De Passagem" (2003), de Ricardo Elias. O filme ficou na casa dos 20 mil espectadores.
O acordo com a Globo Filmes
prevê levar ao ar 25 comerciais
do filme (de 15 segundos), nas
principais praças da Globo. O
valor estimado das inserções é
de R$ 500 mil, mas a Globo Filmes oferece 85% de desconto,
como forma de apoio.
Pelo acordo, a Globo Filmes
torna-se sócia do filme, detendo 5% de seu patrimônio, e tem
o direito a 5% das receitas de
distribuição, segundo explicaram os produtores à Folha. O
que ocorre na prática, dizem
eles, é que os primeiros R$ 75
mil que o filme apura na bilheteria devem ser destinados a
pagar os custos dos comerciais
-aqueles 15% do orçamento
original de R$ 500 mil. Veja o
que diz a Globo Filmes abaixo.
Tiro de canhão
É aí que surge o problema,
quando o filme vende poucos
ingressos e, conseqüentemente, tem renda pequena.
"Hoje, eu não gastaria esse
dinheiro dessa forma. Dei um
tiro de canhão para matar uma
andorinha", diz o cineasta Toni
Venturi, que fez o acordo com a
Globo Filmes para lançar seu
"Cabra Cega" (2005).
O diretor afirma que esperava ter entre 35 mil e 50 mil espectadores para as sete cópias
em cartaz. O resultado foi "o piso" de 35 mil, que Venturi considera "modesto, mas digno".
Embora o diretor use a expressão "tiro de canhão" para
se referir ao poder de fogo da
Globo, a avaliação mais comum
de quem aderiu ao pacote é que
o número de comerciais do
contrato não produz efeitos.
"O que vale na TV é a repetição. 25 inserções é pouco para
dar resultado", diz a produtora
Sara Silveira, que usou o plano
com "Cinema, Aspirinas e Urubus" (2005, Marcelo Gomes).
Com uma ressalva ("que fique claro que não estou falando
mal da Globo"), Silveira diz
acreditar que, sem os comerciais na Globo, o filme teria os
mesmos 120 mil espectadores
que atingiu. Por que então ela
fechou o acordo? "É uma tentativa de notabilizar o seu filme,
porque passa numa emissora
de grande audiência", diz. A sedução de "passar na Globo" não
parece ser um fator menor na
opção dos cineastas pelo plano.
"Minha família amou ver os
comerciais na Globo, mas cinema é um negócio, não pode ser
uma coisa narcisista", diz o cineasta Joel Zito Araújo, que fez
o acordo para lançar "Filhas do
Vento" no ano passado.
Com "40 e poucos mil espectadores" obtidos, Araújo diz:
"Temos de questionar se essa
forma de apoio significa de fato
alguma coisa". Na opinião dele,
o que torna efetiva a contribuição da Globo para o sucesso de
um filme é uma técnica de divulgação que a emissora aplica
aos títulos que co-produz, a
"cross media" (mídia cruzada).
O expediente consiste em divulgar o filme não só em comerciais, mas também nas
atrações da grade artística e
jornalística da emissora.
Exemplos disso ocorrem
quando personagens das novelas mencionam elogiosamente
um filme em cartaz, o "Casseta
& Planeta" faz um quadro de
"merchandising" ou o "Fantástico" faz reportagem sobre uma
sessão do filme.
"É natural que a Globo faça
isso de forma ostensiva e competente nos filmes produzidos
por ela. Mas avalio que há uma
disparidade de tratamento. Seria interessante que a Globo
Filmes estivesse aberta para
negociações", disse Araújo.
(SA)
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