São Paulo, quinta-feira, 23 de julho de 2009

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Análise

Autoria coletiva é marca de Enrique Diaz

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

Na história do teatro há muitos exemplos de encenadores que foram também atores e que construíram seus estilos a partir de sua experiência como intérpretes. Enrique Diaz é, entre os encenadores brasileiros de sua geração, aquele em que essa marca é mais evidente, até porque a maioria de seus espetáculos foi produzida no âmbito da Cia do Atores, grupo carioca que o acompanha há mais de vinte anos.
Essa parceria gerou espetáculos memoráveis como "A Bau A Qu" (1990), "A Morta" (1992), "Melodrama" (1996), ou, mais recentemente, "Ensaio. Hamlet" (2004). Mas mesmo em trabalhos não menos importantes, gerados fora da companhia, como "Paixão Segundo GH" (2003) ou "Gaivota - Tema para um Conto Curto" (2007), os procedimentos autorais do encenador passam pelo aproveitamento máximo dos atores com que trabalha.
De fato, Diaz assina seus espetáculos na montagem que estabelece a partir do material que os atores lhe oferecem, em processos criativos extensos e verticais. Essa característica foi intensificada a partir de 2001, depois de um estágio que realizou nos Estados Unidos com a atriz e encenadora Anne Bogart e sua técnica de improvisação chamada Viewpoints (pontos de vista), em que os atores tornam-se autores a partir da fricção de suas vivências pessoais com a matéria dramática que confrontam.
Tendo estreado seu primeiro espetáculo no fim da década de 80, quando o teatro brasileiro vivia um momento de afirmação dos encenadores, Enrique Diaz realiza em sua trajetória a transição para o momento atual, em que a tônica dominante nos processos é a colaboração, ou seja, a autoria compartilhada entre atores encenador e demais criadores.
É possível conjecturar que ele se adapta a essa metodologia colaborativa, mais do que qualquer outro dos encenadores que lhe são contemporâneos, por conta de sua experiência como ator, iniciada no teatro na adolescência e estendida à televisão e ao cinema ao longo dos últimos anos. É o que o caracteriza como encenador.


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