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Análise
Autoria coletiva é marca de Enrique Diaz
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
Na história do teatro há muitos exemplos de encenadores
que foram também atores e que
construíram seus estilos a partir de sua experiência como intérpretes. Enrique Diaz é, entre
os encenadores brasileiros de
sua geração, aquele em que essa
marca é mais evidente, até porque a maioria de seus espetáculos foi produzida no âmbito da
Cia do Atores, grupo carioca
que o acompanha há mais de
vinte anos.
Essa parceria gerou espetáculos memoráveis como "A Bau
A Qu" (1990), "A Morta" (1992),
"Melodrama" (1996), ou, mais
recentemente, "Ensaio. Hamlet" (2004). Mas mesmo em
trabalhos não menos importantes, gerados fora da companhia, como "Paixão Segundo
GH" (2003) ou "Gaivota - Tema
para um Conto Curto" (2007),
os procedimentos autorais do
encenador passam pelo aproveitamento máximo dos atores
com que trabalha.
De fato, Diaz assina seus espetáculos na montagem que estabelece a partir do material
que os atores lhe oferecem, em
processos criativos extensos e
verticais. Essa característica foi
intensificada a partir de 2001,
depois de um estágio que realizou nos Estados Unidos com a
atriz e encenadora Anne Bogart
e sua técnica de improvisação
chamada Viewpoints (pontos
de vista), em que os atores tornam-se autores a partir da fricção de suas vivências pessoais
com a matéria dramática que
confrontam.
Tendo estreado seu primeiro
espetáculo no fim da década de
80, quando o teatro brasileiro
vivia um momento de afirmação dos encenadores, Enrique
Diaz realiza em sua trajetória a
transição para o momento
atual, em que a tônica dominante nos processos é a colaboração, ou seja, a autoria compartilhada entre atores encenador e demais criadores.
É possível conjecturar que
ele se adapta a essa metodologia colaborativa, mais do que
qualquer outro dos encenadores que lhe são contemporâneos, por conta de sua experiência como ator, iniciada no
teatro na adolescência e estendida à televisão e ao cinema ao
longo dos últimos anos. É o que
o caracteriza como encenador.
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