São Paulo, quinta-feira, 23 de julho de 2009

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Ocelot digere cor e fábulas da África

Animador francês ganha homenagem do festival Anima Mundi com a exibição de seus primeiros curtas no domingo

Cineasta se inspirou na diversidade vivenciada durante infância na Guiné; "eu como histórias antigas", diz o diretor de "Kirikou"


LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

A infância determinou o destino de Michel Ocelot. O diretor, nascido numa França essencialmente caucasiana em 1943, foi morar na Guiné africana quando tinha seis anos. Encantou-se com as cores fortes e as tradições locais. "Minha feliz criação na Guiné alargou minha mente. Estive em contato com cinco diferentes religiões. Até os 12 anos, durante a escola, eu era negro; durante as férias de verão, era branco de novo", afirma, em entrevista antes de chegar ao Brasil, onde foi homenageado em Florianópolis, pela Mostra de Cinema Infantil, e no Rio, pelo Anima Mundi, que segue até domingo em São Paulo.
Ele também se inspira nos "griots", que são poetas e cantadores da cultura oral africana. "Eu adoro histórias, mas gosto de usá-las do meu jeito. Não adapto. Se existe um autor do conto, considero que está bem feito e não devo mexer nele. Eu como histórias antigas. Alimentado, fico mais forte e uso essa força como quero, até me esquecendo de onde ela veio."
Com seu método artesanal, reconta essas fábulas verbais usando desde bonecos só de silhueta até objetos tridimensionais. Mas o colorido está sempre em destaque. "As cores estão à disposição de todos. Só escolhi algumas e as ressaltei." No começo, seus filmes foram definidos como infantis, rótulo que ele sempre rejeitou. "Só porque eu fazia animação, disseram que era um autor "para crianças". Tive de aprender a viver com isso. Mas não mudou meu jeito de filmar, porque acho que as crianças não precisam de mais filmes para crianças. Elas estão aqui para aprender, inclusive coisas que ainda não entendam direito."

Orgulho negro
O diretor ficou conhecido mundialmente pela série com o personagem Kirikou, um garoto diminuto, curioso e questionador do mundo à sua volta. "Acho que "Kirikou e a Feiticeira" deu orgulho aos negros. Mas não creio que mostre apenas a África, e sim a nossa família."
Depois, investiu no épico "Azur e Asmar", que discutia o preconceito e as diferenças a partir da história de dois irmãos, um branco e um negro. É que para ele o cinema tem uma mensagem a transmitir. E deve-se fazer isso com cuidado. Ocelot conta que prepara um novo filme, que vai reunir dez contos usando apenas silhuetas. "Gosto dessa simplicidade e acho que esse formato tem bastante apelo popular. Depois devo voltar a algo mais complexo e caro, como foi "Azur"."
No domingo, serão exibidos seus primeiros curtas, que foram remasterizados especialmente para o Anima Mundi. É uma ótima chance de ver como tudo começou. E, talvez como ele, rejeitar o rótulo de infantil.

Assista ao vídeo da abertura do Anima Mundi com imagens de algumas animações do festival

www.folha.com.br/092031

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