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Ocelot digere cor e fábulas da África
Animador francês ganha homenagem do festival Anima Mundi com a exibição de seus primeiros curtas no domingo
Cineasta se inspirou na diversidade vivenciada durante infância na Guiné; "eu como histórias antigas", diz o diretor de "Kirikou"
LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL
A infância determinou o destino de Michel Ocelot. O diretor, nascido numa França essencialmente caucasiana em
1943, foi morar na Guiné africana quando tinha seis anos. Encantou-se com as cores fortes e
as tradições locais.
"Minha feliz criação na Guiné alargou minha mente. Estive em contato com cinco diferentes religiões. Até os 12 anos,
durante a escola, eu era negro;
durante as férias de verão, era
branco de novo", afirma, em
entrevista antes de chegar ao
Brasil, onde foi homenageado
em Florianópolis, pela Mostra
de Cinema Infantil, e no Rio,
pelo Anima Mundi, que segue
até domingo em São Paulo.
Ele também se inspira nos
"griots", que são poetas e cantadores da cultura oral africana.
"Eu adoro histórias, mas gosto
de usá-las do meu jeito. Não
adapto. Se existe um autor do
conto, considero que está bem
feito e não devo mexer nele. Eu
como histórias antigas. Alimentado, fico mais forte e uso
essa força como quero, até me
esquecendo de onde ela veio."
Com seu método artesanal,
reconta essas fábulas verbais
usando desde bonecos só de silhueta até objetos tridimensionais. Mas o colorido está sempre em destaque. "As cores estão à disposição de todos. Só escolhi algumas e as ressaltei."
No começo, seus filmes foram definidos como infantis,
rótulo que ele sempre rejeitou.
"Só porque eu fazia animação,
disseram que era um autor "para crianças". Tive de aprender a
viver com isso. Mas não mudou
meu jeito de filmar, porque
acho que as crianças não precisam de mais filmes para crianças. Elas estão aqui para aprender, inclusive coisas que ainda
não entendam direito."
Orgulho negro
O diretor ficou conhecido
mundialmente pela série com o
personagem Kirikou, um garoto diminuto, curioso e questionador do mundo à sua volta.
"Acho que "Kirikou e a Feiticeira" deu orgulho aos negros. Mas
não creio que mostre apenas a
África, e sim a nossa família."
Depois, investiu no épico
"Azur e Asmar", que discutia o
preconceito e as diferenças a
partir da história de dois irmãos, um branco e um negro. É
que para ele o cinema tem uma
mensagem a transmitir. E deve-se fazer isso com cuidado.
Ocelot conta que prepara um
novo filme, que vai reunir dez
contos usando apenas silhuetas. "Gosto dessa simplicidade
e acho que esse formato tem
bastante apelo popular. Depois
devo voltar a algo mais complexo e caro, como foi "Azur"."
No domingo, serão exibidos
seus primeiros curtas, que foram remasterizados especialmente para o Anima Mundi. É
uma ótima chance de ver como
tudo começou. E, talvez como
ele, rejeitar o rótulo de infantil.
Assista ao vídeo da
abertura do Anima Mundi
com imagens de algumas
animações do festival
www.folha.com.br/092031
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