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Bellocchio diz que revolta é destrutiva
Aos 70 anos, cineasta busca provocar o público por meio de histórias humanas; "A tragédia nos provoca", diz
Ao lado de Fellini e Bertolucci, diretor integra idade de ouro do cinema italiano e fez mais de 30 longas
DE SÃO PAULO
Em 1965, aos 26 anos, Marco Bellocchio, um ex-aluno
da congregação salesiana,
impressionou o mundo com
"De Punhos Cerrados".
Seu ataque aos hábitos
burgueses, tão feroz quanto
belo, levou a crítica Pauline
Kael, da revista "New Yorker", a sentenciar: não seria
mais possível compor um
justo painel do cinema italiano sem colocar, ao lado de
Fellini (1920-1993) e Bertolucci, o nome de Bellocchio.
Uma década e meia mais
tarde, Kael diria, a propósito
de "Salto no Escuro" (1980),
que rendeu a Palma de Ouro
de Cannes aos atores Michel
Piccoli e Anouk Aimée, que
Bellocchio era um cineasta
em pleno controle de seu
exercício.
"Ele dirige sem pressa. Parece medir as batidas do nosso coração", escreveu a lendária crítica.
Como em "Salto no Escuro", o cineasta enquadra, em
"Vincere", personagens fora
do controle. "Essa mulher
[Ida Dasler] aceitou a própria
destruição. Mas não foi por
loucura. Ela escolheu a rebelião absoluta, o que prova
uma coragem extrema."
Bellocchio foi, ele próprio,
um rebelde. Gritou contra a
igreja, contra a política e contra a sociedade.
"Mas o tempo passou e eu
fui vendo que a revolta e a crítica extremas podem ser destrutivas", diz.
É um pouco esse o recado
de uma das mais belas cenas
de "Vincere", quando um
psiquiatra tenta convencer
Dasler a fingir um pouco, a
desistir de sua guerra particular.
"O médico diz uma coisa
verdadeira: o fascismo não
vai durar para sempre."
O cineasta acredita ser
possível, por meio da história, aproximar o público de
suas emoções mais puras "A
tragédia nos provoca, nos
modifica", diz, citando o seu
"Bom Dia, Noite" (2003), sobre o sequestro e assassinato
de Aldo Moro, em 1978.
A política, para o cineasta,
talvez seja, sobretudo, teatro.
Mas essa pergunta ele não teve tempo de responder.
"Desculpe, mas preciso
desligar. Estou no meio da
produção de "Rigoletto" para
a TV. Sempre quis fazer essa
ópera", disse, antes do
"tchau".
(ANA PAULA SOUSA)
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