São Paulo, sexta-feira, 23 de julho de 2010

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Bellocchio diz que revolta é destrutiva

Aos 70 anos, cineasta busca provocar o público por meio de histórias humanas; "A tragédia nos provoca", diz

Ao lado de Fellini e Bertolucci, diretor integra idade de ouro do cinema italiano e fez mais de 30 longas


DE SÃO PAULO

Em 1965, aos 26 anos, Marco Bellocchio, um ex-aluno da congregação salesiana, impressionou o mundo com "De Punhos Cerrados".
Seu ataque aos hábitos burgueses, tão feroz quanto belo, levou a crítica Pauline Kael, da revista "New Yorker", a sentenciar: não seria mais possível compor um justo painel do cinema italiano sem colocar, ao lado de Fellini (1920-1993) e Bertolucci, o nome de Bellocchio.
Uma década e meia mais tarde, Kael diria, a propósito de "Salto no Escuro" (1980), que rendeu a Palma de Ouro de Cannes aos atores Michel Piccoli e Anouk Aimée, que Bellocchio era um cineasta em pleno controle de seu exercício.
"Ele dirige sem pressa. Parece medir as batidas do nosso coração", escreveu a lendária crítica.
Como em "Salto no Escuro", o cineasta enquadra, em "Vincere", personagens fora do controle. "Essa mulher [Ida Dasler] aceitou a própria destruição. Mas não foi por loucura. Ela escolheu a rebelião absoluta, o que prova uma coragem extrema."
Bellocchio foi, ele próprio, um rebelde. Gritou contra a igreja, contra a política e contra a sociedade.
"Mas o tempo passou e eu fui vendo que a revolta e a crítica extremas podem ser destrutivas", diz.
É um pouco esse o recado de uma das mais belas cenas de "Vincere", quando um psiquiatra tenta convencer Dasler a fingir um pouco, a desistir de sua guerra particular.
"O médico diz uma coisa verdadeira: o fascismo não vai durar para sempre."
O cineasta acredita ser possível, por meio da história, aproximar o público de suas emoções mais puras "A tragédia nos provoca, nos modifica", diz, citando o seu "Bom Dia, Noite" (2003), sobre o sequestro e assassinato de Aldo Moro, em 1978.
A política, para o cineasta, talvez seja, sobretudo, teatro. Mas essa pergunta ele não teve tempo de responder.
"Desculpe, mas preciso desligar. Estou no meio da produção de "Rigoletto" para a TV. Sempre quis fazer essa ópera", disse, antes do "tchau". (ANA PAULA SOUSA)


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