São Paulo, sexta-feira, 23 de julho de 2010

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CRÍTICA COMÉDIA

Ao mirar plateia hiperativa, filme perde sua força dramatúrgica

FLÁVIA CESARINO COSTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O novo filme de Guel Arraes -o mais original diretor de TV no Brasil- é, como se esperaria, eficiente na trama, belamente encenado e com o apuro técnico de quem não se preocupa em habitar as fronteiras da TV e do cinema. Mas há problemas em "O Bem Amado" que surgem da inevitável comparação com a histórica versão da peça de Dias Gomes para a TV. A novela cristalizou, em 1973, nos mais duros anos da ditadura, um diagnóstico ferino e bem-humorado do nosso atraso político.
Arraes sabe o risco de adaptar uma obra que originou uma nova maneira de representar a nação e sua mecânica populista -e que foi imitada por uma série de trabalhos menos originais. O diretor, no entanto, descarta a repetição e propõe representar a política de hoje, de raízes populistas, mas que incorporou o ritmo frenético da sociedade contemporânea -ainda que o enredo se passe nos anos 1960.
Ao optar por uma versão modernizada, com câmera sofisticada, o filme perde força dramatúrgica em prol de atuações histriônicas e palatáveis ao público hiperativo que pretende conquistar. Marco Nanini está impecável como um Odorico Paraguaçu verborrágico e cara de pau, mas o Odorico telenovelesco de Paulo Gracindo, pré-besteirol, é insuperável.
Já o Zeca Diabo de José Wilker não alcança o que Lima Duarte eternizou. Parece desprovido das idiossincrasias do original, caracterizado agora por uma violência monocórdia, mais tarantinesca do que multifacetada.

FLÁVIA CESARINO COSTA é autora de "O primeiro cinema" (Azougue, 2005)



O BEM AMADO

DIREÇÃO Guel Arraes
PRODUÇÃO Brasil, 2010
COM Marco Nanini, José Wilker e Andréa Beltrão
ONDE nos cines Bristol, Espaço Unibanco e Eldorado Cinemark
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO bom




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