FÁTIMA GIGLIOTTI
da Reportagem Local

Antes de mais nada, é preciso saber que o roteiro de "Em Luta pelo Amor" (título sofrível para o original "A Destiny of Her Own", que significa um destino próprio) foi escrito por uma mulher, Jeannine Dominy. Nestes tempos em que se estuda nos meios acadêmicos a existência de uma escritura feminina, faz toda a diferença.
Baseado na biografia de uma cortesã (no "Dicionário Aurélio", entre outras definições, prostituta elegante) veneziana do século 16, escrita por Margaret Rosenthal, o filme narra a transformação de uma jovem ingênua, educada para trilhar o caminho da submissão e do recato das esposas nobres da época, em cortesã. E o seu deleite com a nova condição.
As cortesãs eram mulheres cultas, as únicas com acesso às bibliotecas. Veronica Franco (Catherine McCormack, a namorada de Mel Gibson em "Coração Valente") torna-se poeta e aprimora o domínio das letras tanto quanto o de agradar sexualmente aos homens (e a si própria). Que vida!
Preferida dos aristocratas, ela exerce papel fundamental na supremacia de Veneza sobre os invasores turcos ao oferecer seus encantos para o rei francês em troca de barcos de guerra. Mas seu amor impossível pelo senador Marco Venier (Rufus Sewell, de "Cidade das Sombras") a faz perder a liberdade e a transforma em ré em um julgamento da Inquisição.
Assim, dividido equilibradamente entre biografia, romance e a história política de Veneza, o filme ganha uma vestimenta clássica com a direção acadêmica do estreante Marshall Herskovitz (produtor de "Lendas da Paixão") que, no entanto, não esconde a modernidade libertária da cortesã poeta desenhada pelo roteiro. Nesse interessante entrevero paira, onipresente, a estonteante geografia de Veneza.

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