São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 2002

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CINEMA/ESTRÉIAS

"O IMPÉRIO (DO BESTEIROL) CONTRA-ATACA"

Longa parodia preconceito

Diretor do profano "Dogma" volta em comédia-baixaria

MILLY LACOMBE
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES

Dentre os motivos mais bizarros que um cineasta pode ter para fazer um filme, o de se dedicar à arte simplesmente para parar de receber ameaças de morte é o que ganha em originalidade.
O irreverente roteirista/diretor/ator Kevin Smith, 31, disse à Folha, em Los Angeles, que foi para parar de ser importunado com e-mails e cartas aterrorizantes que escreveu "O Império (do Besteirol) Contra-Ataca", uma comédia-baixaria interconectada com seus outros cult-adolescentes: "O Balconista" (94), "Barrados no Shopping" (95), "Procura-se Amy" (97) e "Dogma" (99).
Tudo porque, depois de colocar a Igreja Católica em xeque com seu extra-satírico "Dogma" (quem não se lembra de Alanis Morissette no papel de Deus?), Smith teve que enfrentar uma fúria nada angelical. "Precisava escrever alguma coisa que me tirasse da berlinda, porque estava recebendo milhares de e-mails de fiéis ofendidos que me ameaçavam de morte e assinavam, "de seus irmãos em Cristo'".
Mas, se a intenção era sair dos radares clericais, não conseguiu. Sua nova obra, mais escatologicamente profana do que nunca (a palavra "fuck" é usada 228 vezes e algumas frases deixariam o rapper Eminem com vergonha), leva os recorrentes Jay e Bob (representado pelo próprio Smith e, como nos anteriores, voluntariamente mudo) a Hollywood, onde pretendem impedir que um filme sobre suas vidas seja rodado pela Miramax -estúdio que, ironicamente, produziu o filme.
"Não tínhamos licença para ridicularizá-los, mas os executivos imaginaram que seria melhor assinar o projeto e encarar como uma brincadeira do que ver o filme ir para o concorrente. E não há nada mais divertido do que tirar sarro de quem paga seu salário."
Repleto de participações especiais (Chris Rock, Ben Affleck, Matt Damon, entre outros) e de referências irônicas a outros filmes, a comédia-baixaria faz paródia ao preconceito e mostra a irreverência cômica de Smith.
"Minha intenção era fazer um filme para as pessoas rirem, dessa vez sem controvérsias", garantiu. A má notícia é que, sem querer, Smith provocou a ira de outro grupo: desta vez foram os gays.
A boa notícia para os fãs do cineasta é que a incontinência profanamente verbal de Jay está mais aguda do que nunca. "Gosto de saber que meu filme foi proibido para menores simplesmente por causa de sua intensidade verbal. Isso me deixa orgulhoso."


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