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CINEMA/ESTRÉIAS
"O IMPÉRIO (DO BESTEIROL) CONTRA-ATACA"
Longa parodia preconceito
Diretor do profano "Dogma" volta em comédia-baixaria
MILLY LACOMBE
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES
Dentre os motivos mais bizarros que um cineasta pode ter para
fazer um filme, o de se dedicar à
arte simplesmente para parar de
receber ameaças de morte é o que
ganha em originalidade.
O irreverente roteirista/diretor/ator Kevin Smith, 31, disse à
Folha, em Los Angeles, que foi
para parar de ser importunado
com e-mails e cartas aterrorizantes que escreveu "O Império (do
Besteirol) Contra-Ataca", uma
comédia-baixaria interconectada
com seus outros cult-adolescentes: "O Balconista" (94), "Barrados no Shopping" (95), "Procura-se Amy" (97) e "Dogma" (99).
Tudo porque, depois de colocar
a Igreja Católica em xeque com
seu extra-satírico "Dogma"
(quem não se lembra de Alanis
Morissette no papel de Deus?),
Smith teve que enfrentar uma fúria nada angelical. "Precisava escrever alguma coisa que me tirasse da berlinda, porque estava recebendo milhares de e-mails de
fiéis ofendidos que me ameaçavam de morte e assinavam, "de
seus irmãos em Cristo'".
Mas, se a intenção era sair dos
radares clericais, não conseguiu.
Sua nova obra, mais escatologicamente profana do que nunca (a
palavra "fuck" é usada 228 vezes e
algumas frases deixariam o rapper Eminem com vergonha), leva
os recorrentes Jay e Bob (representado pelo próprio Smith e, como nos anteriores, voluntariamente mudo) a Hollywood, onde
pretendem impedir que um filme
sobre suas vidas seja rodado pela
Miramax -estúdio que, ironicamente, produziu o filme.
"Não tínhamos licença para ridicularizá-los, mas os executivos
imaginaram que seria melhor assinar o projeto e encarar como
uma brincadeira do que ver o filme ir para o concorrente. E não há
nada mais divertido do que tirar
sarro de quem paga seu salário."
Repleto de participações especiais (Chris Rock, Ben Affleck,
Matt Damon, entre outros) e de
referências irônicas a outros filmes, a comédia-baixaria faz paródia ao preconceito e mostra a irreverência cômica de Smith.
"Minha intenção era fazer um
filme para as pessoas rirem, dessa
vez sem controvérsias", garantiu.
A má notícia é que, sem querer,
Smith provocou a ira de outro
grupo: desta vez foram os gays.
A boa notícia para os fãs do cineasta é que a incontinência profanamente verbal de Jay está mais aguda do que nunca. "Gosto de saber que meu filme foi proibido
para menores simplesmente por causa de sua intensidade verbal.
Isso me deixa orgulhoso."
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