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Negócio da China
Em vez de fazer seu espaço próprio, Brasil aluga e adapta pavilhão para sua representação na Expo Xangai e admite que fará só "uma fachada e interiores"
China Daily/Reuters
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Teste de iluminação no pavilhão Sun Valley, em Xangai
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A XANGAI
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil vai se apresentar na
maior feira universal de todos
os tempos, Xangai 2010, adequando um pavilhão "vagabundo" e "pequeno", segundo o
próprio arquiteto por trás do
projeto, Fernando Brandão.
A representação nacional em
Xangai terá uma bola de futebol
e um Cristo Redentor como
elementos mais visíveis e será
instalada em um espaço alugado, construído por chineses.
Para arquitetos ouvidos pela
Folha, o Brasil está desperdiçando uma oportunidade de
promover o país e sua arquitetura na nova potência mundial.
A Expo Xangai 2010 é o
maior evento organizado pela
China desde a Olimpíada. Terá
pavilhões de 191 países e um orçamento de US$ 4 bilhões.
Ao contrário de países como
Reino Unido e Espanha, o Brasil não fez um concurso público
para a escolha do pavilhão, o
que, na opinião de arquitetos
ouvidos pela reportagem, pareceu uma "ação entre amigos".
Até os responsáveis pelo projeto admitem que tudo foi feito às
pressas, que houve só 15 dias
para a elaboração de ideias e
que não dá para comparar a antigas representações do Brasil.
No passado, pavilhões brasileiros em feiras universais foram marcos arquitetônicos, como em Nova York, em 1939,
com projeto de Oscar Niemeyer e Lucio Costa, ou em Osaka,
em 1970, com Paulo Mendes da
Rocha. Desde 1992, o Brasil
ocupa espaços alugados.
O governo brasileiro pediu a
uma associação de arquitetos, a
Asbea, que se encarregasse do
pavilhão. A Asbea diz que organizou concurso entre seus sócios, mas só dez deles elaboraram ideias para o pavilhão e só
três chegaram a apresentar um
projeto final para o espaço.
"Nem fiquei sabendo", diz
Ruy Ohtake, sócio da Asbea.
"Poderia haver um concurso
mais transparente, entre jovens arquitetos brasileiros."
O autor do pavilhão vencedor, Fernando Brandão, que está na diretoria da Asbea desde
maio, acusa a falta de tempo para a qualidade do projeto.
"É tudo na última hora, no
jeitinho, somos um dos últimos
países a apresentar projeto na
Expo Xangai", diz Brandão.
"Esse pavilhão não pode ser
comparado aos históricos pavilhões brasileiros, que foram
construídos do zero. Esse é um
galpão alugado, bem vagabundo, todo pronto, a gente só fez a
instalação do conteúdo."
No governo, a explicação para a modéstia na representação
é logística e financeira. "A primeira ideia foi a de construir
um pavilhão, mas o fato de que
os pavilhões vão ficar para os
chineses envolveu a Casa Civil
e o Ministério do Desenvolvimento", diz Ricardo Schafer,
comissário do projeto na Apex,
agência de promoção do Ministério do Desenvolvimento responsável pela Expo. "Preferimos alugar um pavilhão a construir, pelo custo-benefício."
A adequação e manutenção
do pavilhão brasileiro custará
R$ 23 milhões, que chegará a
R$ 70 milhões com outros gastos do projeto. Pouco menos do
que os cerca de R$ 79 milhões
do pavilhão do Canadá, um dos
maiores na Expo, concebido
pelo Cirque du Soleil.
"Em Xangai faremos uma
adaptação do pavilhão, uma arquitetura de interiores, com a
aplicação de uma fachada", diz
o presidente da Asbea, Ronaldo
Rezende. "Decidimos fazer um
concurso com os escritórios
que estavam cadastrados no
projeto de exportação da Apex,
dentro do nosso quadro social."
Desperdício
Para vários arquitetos, o pavilhão desperdiça o momento
em que a China atrai a atenção
do mundo. "O concurso deveria
ser público ou no mínimo com
escritórios de notória competência, não só associados da Asbea", critica o arquiteto Milton
Braga, do escritório MMBB. "A
tradição brasileira é apresentar
pavilhões de ótima arquitetura,
é um tema caro ao meio."
"Um país como o Brasil não
pode se dar o direto de desprezar momentos como esse. Tínhamos a obrigação de organizar um concurso nacional para
levar à China o melhor da arquitetura brasileira contemporânea", diz a arquiteta Fernanda Barbara, do escritório UNA.
Paulo Mendes da Rocha, que
chegou a ser consultado pelo
governo no ano passado para
apresentar um projeto -e que
depois soube do concurso da
Asbea-, diz que a discussão em
torno do pavilhão parece "mais
comercial do que cultural".
O tema da exposição é "Cidade Melhor, Vida Melhor", com
150 experiências inovadoras
em habitação, trânsito, meio
ambiente, novas energias e espaço público de todo o mundo,
escolhidas pelos chineses.
Xangai aproveita a feira universal para virar uma cidade
melhor. Mais de 120 km de novas linhas de metrô serão inauguradas até 1º de maio de 2010,
quando a Expo é aberta. A feira
ficará em cartaz por seis meses
num terreno de 5,5 km2, ou 3,5
vezes o parque Ibirapuera.
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